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O vazio que fica

Torcida do Fortaleza dá o último e mais leal abraço a Juan Pablo Vojvoda
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Torcida do Fortaleza se reúne para dar um abraço leal a Vojvoda (Foto: Rangel Diniz / Especial para O POVO)
Foto: Rangel Diniz / Especial para O POVO Torcida do Fortaleza se reúne para dar um abraço leal a Vojvoda

O "portone" que se abriu em maio de 2021 foi o mesmo que a torcida do Fortaleza cantou para Toinha manter fechado e não deixar Juan Pablo Vojvoda sair do Pici, ontem. Lágrimas, agradecimentos e pedidos de desculpa foram sussurrados em orações e entoados em cânticos pela torcida e pelo próprio treinador, em ato inédito de reciprocidade no futebol brasileiro.

Era tarde demais. Vojvoda já estava prestes a atravessar a saída pela última vez nesta passagem, já que não fechou as portas "para quando o Fortaleza precisar". No escrete vermelho-azul-e-branco, conquistou cinco títulos, campanhas inéditas e o coração dos torcedores — até mesmo dos que pediram sua demissão.

Ainda que o futebol cobrasse o preço dos maus resultados recentes, o adeus não veio sem o tamanho da história que construiu. O leal abraço à torcida foi de corpo e fé. Antes, o argentino cumprimentou e falou com cada profissional que ali estava, num gesto da humanidade que ele mostrou que existe mesmo no cinismo do futebol.

Arrastava os pés em direção à torcida que aguardava um último contato. Andava devagar, sem esconder o desejo de ficar no clube. A vagarosidade parecia mostrar que estava deixando um pedaço de si escondido em cada canto do Pici.

Ansiosos, os torcedores apressavam. Queriam um abraço, um aceno, uma palavra, ou talvez uma resposta para uma crise que não é simples, mas que motiva a saída. Ditos de "você não tem culpa" eram os
mais frequentes.

Vojvoda chorou. E chorou de novo. Quando tentou falar, foi tomado por um "fica, Vojvoda" de desesperança ecoante. A emoção venceu a formalidade: "Desculpem meus erros, eu quis fazer sempre o melhor pelo Fortaleza. Vocês têm que estar unidos. Eu sou muito grato. Desde o primeiro dia, o Fortaleza me abriu uma porta que nunca imaginei", disse.

Os gritos não eram apenas de despedida. Muitos transformaram o encontro em ato de solidariedade ao treinador. Vozes apontavam desagravo à diretoria e ao elenco, como responsáveis pelo fim da era mais vitoriosa do clube. Por sua vez, mesmo no último ato, Vojvoda fez questão de defender o elenco, disse ter orgulho dos jogadores.

Em vídeo de despedida, o Fortaleza agradeceu ao argentino por "ensinar o torcedor a sonhar". Na sede, os aficionados tratavam o argentino como uma renovação de fé.

As idas ao Canindé para pagar promessas e rezar pelo time, fora as parcerias com funcionários longevos para as missas nos dias 13, foram simbolizadas no presente de uma torcedora que lhe entregou um terço. Vojvoda desabou em prantos mais uma vez. Disse que guardará com o mesmo carinho que lhe foi entregue.

Mesmo após a demora para se dissiparem, os torcedores tentaram pôr em palavras a emoção que sentiam. Entre eles, Valdo, sentado na calçada, sem querer ir embora, disse que nunca viu uma despedida de treinador dessa forma. Aline completou com algo que se repetiu: "A sensação é de luto".

A jovem Angelina falou, entre muitas lágrimas, que Vojvoda era "um exemplo de técnico e de pessoa". E continuou. "Ele foi o melhor que meu time podia ter. A saudade que vai ficar é enorme. Eu não tenho nem palavras. Amo o Fortaleza mais do que a mim mesmo", antes de falar de Vojvoda como ser humano e concluir com o maior dos medos dos tricolores: "Nenhuma pessoa vai conseguir substituir ele".

Leia mais nas colunas André Bloc e Fernando Graziani, páginas 19 e 20

Técnico Ramón Díaz no jogo Fortaleza x Corinthians, no Castelão, pela Copa Sul-Americana 2024
Técnico Ramón Díaz no jogo Fortaleza x Corinthians, no Castelão, pela Copa Sul-Americana 2024

Fortaleza mantém Ramón Díaz como prioridade em meio a disputa com o Olimpia

O Fortaleza segue tendo o nome de Ramón Díaz como prioridade na busca por um novo treinador, conforme apurou o Esportes O POVO. O Leão do Pici enfrenta a concorrência do Olimpia, do Paraguai, que também demonstrou interesse na contratação do técnico argentino, ex-Vasco e Corinthians. O clube cearense, no entanto, está disposto a oferecer condições financeiras superiores.

Ramón Díaz é, atualmente, o nome de maior consenso interno no Fortaleza. Ainda de acordo com a apuração do Esportes O POVO, o treinador vinha mantendo tratativas com o Olimpia, mas as conversas com o clube paraguaio esfriaram após o Tricolor realizar contato. O argentino, de 65 anos, quer ouvir a proposta do Leão antes de definir seu futuro.

Paralelamente, o departamento de futebol do Fortaleza monitora outros nomes. O argentino Luis Zubeldía, ex-São Paulo, é bem cotado, assim como Thiago Carpini, ex-Vitória — este último, porém, enfrenta resistência de parte da diretoria, embora tenha o aval de integrantes influentes da cúpula. O português Renato Paiva, ex-Botafogo, também teve seu nome ventilado no Pici.

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Enquanto a diretoria não define o novo comandante, o auxiliar técnico fixo Léo Porto seguirá como interino. Nesta terça-feira, 15, Juan Pablo Vojvoda, que encerrou seu ciclo de mais de quatro anos à frente do clube, se despediu oficialmente dos torcedores presentes na sede tricolor.

Com informações de João Pedro Oliveira.

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