Em fevereiro de 2025, o Ferroviário aprovou, em votação no Elzir Cabral, a venda de sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF) a um grupo de investidores portugueses liderados por Pedro Roxo, CEO da empresa Makes. Contudo, mesmo com o clube trabalhando em gestão dividida desde o ano passado, a venda ainda não foi oficializada e um grupo de conselheiros está preparando um pedido de medida cautelar para tentar novas eleições no Tubarão da Barra e derrubar a venda.
As alegações são de vícios jurídicos no processo e denúncias recentes sobre atrasos salariais, corte de energia e até jogadores indo de táxi aos jogos por problemas no ônibus. Por isso, o Esportes O POVO ouviu os conselheiros que integram o grupo e também a contraparte do presidente Aderson Maia, que rechaça os apontamentos e acredita que transição ainda terá sucesso.
O CEO Pedro Roxo foi procurado pela reportagem. Caso se posicione, será prontamente adicionado na matéria.
O conselheiro Wilemar Rodrigues, que figura como um dos líderes da comitiva "anti-SAF", explica que o grupo é composto por cerca de 20 pessoas, que buscam apontar os vícios no processo de constituição da SAF e da venda. Caso a medida cautelar seja aceita, será requisitado um novo processo de eleição no clube — com um interventor até a decisão —, o que barraria o negócio com os portugueses.
"Tem faltado tudo. Energia, alimentos, suplementação para os jogadores, ônibus para os jogos e até mesmo salário. Os jogadores já ameaçaram duas greves e só assim receberam. A situação é muito ruim. Os portugueses estão no clube desde junho, sem assinar nenhum compromisso. A venda da SAF ainda não foi assinada porque o balanço de 2024, que é da responsabilidade do atual presidente, não foi feito por falta de documentação", diz Wilemar.
Sobre os salários atrasados, a reportagem apurou que parte dos jogadores e até funcionários somaram dois meses sem receber, mas foi normalizado após uma ameaça de greve. Segundo o presidente Aderson Maia, nenhuma greve por salários existiu por parte dos atletas, que estão "focados em reverter o placar" diante do ASA-AL, no mata-mata da Série D.
No confronto de ida ante o ASA, em que o Tubarão da Barra perdeu por 1 a 0 jogando no estádio Presidente Vargas, os jogadores precisaram pedir carros por aplicativo até o estádio. Aderson explicou que não houve problema de logística, apenas um problema mecânico pontual com o ônibus que leva os atletas.
Aderson também explicou que o prazo de oficialização da venda era sim até maio, mas que o contrato permitia que fosse adiado. Sobre os vícios jurídicos apontados, defende que todos os conselheiros da comitiva são os que votaram contra a venda, aprovada democraticamente.
"Com relação aos vícios jurídicos que alguns conselheiros acusam, não reflete o desejo da maioria dos conselheiros do clube. E os que falam são justamente os que foram contra a venda, pois não se conformam com a decisão da maioria dos associados e torcedores que lá estiveram presentes. Se existir algo irregular, que busquem informar para ser corrigido internamente, pois queremos uma transição de processo SAF transparente e sem ilegalidades ou dúvidas", defende Aderson.
Às vésperas da assembleia que determinou a venda, a agremiação coral rescindiu com a Tricorp, empresa de Geraldo Luciano — ex-Fortaleza — que detinha a responsabilidade de fazer a assessoria jurídica do time da Barra do Ceará na transação. O movimento ocorreu após a empresa indicar que as informações passadas pelos portugueses careciam de transparência e documentos de garantia.
À época, o presidente do conselho deliberativo, Abdon de Paula Neto, indicou que a Tricorp apenas encerrou a confecção final do documento vinculante, sem grandes problemas, mas contrato tinha previsão de término apenas após a conclusão da operação, incluindo a criação do estatuto da SAF.
Geraldo Luciano chegou a dizer ao O POVO que acreditava que a rescisão foi motivada por "alertas vermelhos" apontados pela assessoria jurídica sobre a proposta. No entanto, ressaltou que apenas o clube pode confirmar, já que a decisão partiu da própria diretoria.
"Se a venda não foi concretizada, eles estão lá irregularmente. Teve a autorização da assembleia geral, mas não foi vendido. Eu estou entrando com uma medida cautelar para derrubar essa venda. Será um processo que vai correr na justiça comum, com um juiz da vara cível, que é quem vai decidir. Estamos responsabilizando eles. Queremos uma nova eleição, aí uma nova diretoria assumiria", aponta Wilemar.
Nesta terça-feira, 5, o clube teve a energia cortada no estádio Elzir Cabral, sede do escrete coral, por falta de pagamento. Conforme apurou o Esportes O POVO, o corte de energia aconteceu no fim da manhã e ainda persiste nesta quarta-feira, 6.
Contudo, em contato com a reportagem, o presidente da associação do clube, Aderson Maia, garante que já realizou o pagamento da dívida com a prestadora de serviços e também adiantou a fatura do próximo mês para o ocorrido não se repetir.
Conforme fontes do clube, existiam duas contas de energia em atraso. A primeira, já foi paga e foi o suficiente para acordar o retorno da energia em até 48 horas. Contudo, há um segundo valor, ainda em aberto, entre R$ 6 mil e R$ 8 mil, a ser destinado à empresa que fornece energia.
Segundo o presidente, houve uma falha na compensação do pagamento programado, o que ocasionou a interrupção do serviço. "Apesar disso, a situação já foi totalmente realizada, de imediato [...] Porém, devido à demora do restabelecimento da operadora, resolvemos encaminhar os atletas alojados para um hotel, visando o conforto e a tranquilidade no sono", conta.