O surfista Yago Abbas Dora é o mais novo campeão mundial da World Surf League (WSL). Conhecido pela ousadia no mar e pela técnica refinada, o curitibano de 29 anos — radicado em Florianópolis (SC) — recolocou o Brasil no topo do surfe ao conquistar o título nessa segunda-feira, 1º, em Fiji, ao vencer o norte-americano Griffin Colapinto na grande final.
“É inacreditável para mim. Sentir essa energia em Fiji desde que cheguei aqui e sempre acreditei nesse título. Fico feliz em trazer mais um título para o Brasil. Agradeço a todos que me apoiaram ao longo da carreira”, falou Dora à WSL.
Para levantar a taça, bastava Yago vencer uma bateria contra o outro finalista. A definição do rival veio após três duelos. Ítalo Ferreira eliminou o australiano Jack Robinson, mas foi vencido por Colapinto, que bateu ainda o sul-africano Jordy Smith. Caso perdesse o primeiro duelo, o brasileiro podia ainda tentar uma virada em melhor de três.
Filho do ex-surfista profissional e treinador Leandro “Grilo” Dora, Yago começou no esporte aos 11 anos. Criado nas praias catarinenses, recebeu sua primeira oportunidade no circuito mundial em 2017, quando foi convidado para competir na etapa de Saquarema, no Rio de Janeiro. Na ocasião, surpreendeu ao superar nomes como os hoje tricampeões mundiais Gabriel Medina, Mick Fanning e John John Florence, terminando no pódio.
A trajetória, no entanto, não foi linear. É algo, inclusive, que ele salientou em entrevista ser uma consequência da decadência dos eventos infantis de surfe no Brasil.
"Tudo começa na base. Desde criança, principalmente Gabriel, Miguel (Pupo), que começaram ainda mais cedo, estavam competindo direto, todo final de semana, e acho que isso forma atletas, favoreceu muito eles. Eu peguei um pouco disso, mas já tava em decadência esses eventos quando comecei a competir. Por isso até que demorei a ganhar essa confiança para as competições", analisou, em coletiva ontem.
Além da "demora", em 2022, Yago sofreu uma grave lesão no pé que o afastou das competições. Recuperado, voltou ao protagonismo em 2023 ao conquistar o Rio Pro. O ápice, contudo, estava reservado para a atual temporada.
Em 2025, Yago brilhou ao vencer as etapas de Peniche (Portugal) e Trestles (Estados Unidos) — onde somou 17,9 pontos na final após executar um aéreo nota 9,53 — além de conquistar o vice-campeonato em Jeffreys Bay (África do Sul). Também terminou quatro vezes na quinta posição. Os resultados consistentes o levaram ao topo do ranking mundial, com vantagem na decisão em Fiji.
O desfecho veio quando derrotou Griffin Colapinto no WSL Finals, em Fiji, para conquistar o primeiro título mundial da carreira. Foi o oitavo troféu brasileiro nas últimas 11 edições da Liga. Antes dele, Gabriel Medina venceu três vezes (2014, 2018 e 2021), Filipe Toledo foi bicampeão (2022 e 2023), enquanto Adriano de Souza (2015) e Ítalo Ferreira (2019) conquistaram um título cada. A hegemonia só foi quebrada pelo tricampeonato de John John Florence (2016, 2017 e 2024).
A conquista de Yago, que adota hábitos como meditação, ioga e a busca por um estilo de vida saudável, também passou por uma mudança na comissão técnica. Recentemente, o atleta decidiu se afastar do comando do pai e passou a treinar com Leandro da Silva — que trabalha junto a equipe de "Grilo".
A mudança antecedeu a conquista inédita e, para Yago, ganhou força de motivação, uma vez que o pai — agora apenas como torcedor — estava presente em Fiji. Leandro Dora é treinador do australiano Jack Robinson, mas a dupla rompeu brevemente a parceria durante o WSL Finals para evitar um "conflito de interesses".
"Fiquei feliz que eles conseguiram a classificação e que meu pai estaria aqui pra me assistir ganhar o evento, independente de quem fosse contra mim na final. Foi até uma motivação pra mim, na verdade. Também achei legal da parte do Jack ter tido uma conversa com meu pai. Tenho máximo respeito por ele, e de entender esse momento", acentuou o surfista, que celebrou em Fiji a maior vitória de sua carreira — um título que o coloca, definitivamente, entre os grandes nomes da história do surfe brasileiro. (Com Iara Costa)
Campeão mundial, Yago Dora exalta inspiração em Ronaldo Fenômeno: "Funcionou"
Com estilo ousado e acrobático nas águas, Yago Dora entrou na ilustre lista de surfistas brasileiros campeões mundial ao superar Colapinto na última segunda-feira, 1. Além da prática do ioga e da meditação como um de seus nortes para um estilo de vida saudável e balanceado como exige o esporte, o brasileiro possui inspirações que transbordam do mar para os campos.
Isso porque, enquanto crescia entre Curitiba (PR) e Florianópolis (SC), o jovem Dora cultivava, paralelamente ao surfe, uma forte paixão pelo futebol. No entanto, com o passar dos anos, a força das marés falou mais alto, e Yago mergulhou de vez no esporte radical — mas sem nunca abandonar o amor pelos gramados.
Em entrevista coletiva logo após o título conquistado, o surfista contou que, como muitos nascidos em meados da década de 1990, tem em Ronaldo Nazário uma inspiração e verdadeira idolatria. Foi com o tradicional "corte cascão" do Fenômeno, aliás, que Yago celebrou o Mundial conquistado.
Além disso, ele também ostenta em sua lycra o número 9, em homenagem ao ídolo. Ele passou a utilizá-lo em 2021, após a saída do francês Michel Bourez, que já detinha a numeração, da elite do surfe mundial. Na entrevista, o brasileiro explicou que a mudança ocorreu por tudo que o número de Ronaldo Fenômeno representou para ele e para o país.
"Tenho as boas memórias do Ronaldo com a camisa 9. Eu quis mudar o número porque vi o Brasil conquistar o penta e o 9 representa o cara que é decisivo e eu queria isso pra minha carreira. Senti que era um simbolismo legal, um cara decisivo, de momentos grandes. E funcionou", acentuou ele.