Em campo, o Ferroviário não conquistou sua principal meta do ano: o acesso à Série C 2026. Contudo, o clima nos bastidores é ainda mais nebuloso. Além da dificuldade para regularizar sua Sociedade Anônima do Futebol (SAF), fantasmas do passado também assombram o clube, que deve salários, premiações e direitos a ex-jogadores, quatro treinadores e funcionários, conforme apurou o Esportes O POVO.
Ex-atletas importantes no acesso e título do Tubarão da Barra em 2023 — bem como técnicos que passaram pelo clube — alegam dívidas do escrete coral, que se estendem durante os últimos anos e aguardam correção por meio da SAF, ainda não oficializada, mesmo após mais de cinco meses da aprovação de venda para a empresa Makes, em assembleia realizada em fevereiro de 2025.
Aderson Maia, presidente do Ferroviário, apontou ao Esportes O POVO que a atual gestão já pagou mais de R$ 4 milhões em dívidas trabalhistas desde que assumiu. "Inclusive, grande parte disso vem de gestões passadas que se acumularam ao longo do tempo, principalmente da anterior. Seguimos honrando todos os compromissos e negociando acordos com um ou outro que ainda falta", complementa.
Em resposta à fala de Aderson, o presidente da antiga gestão, Newton Filho, rebateu. "Ele era o diretor financeiro e assinava tudo junto comigo. Está tudo registrado na Justiça do Trabalho. As dívidas começam em julho de 2022, quando eu saí e apresentei todas as certidões negativas. Além de irresponsável, é um mentiroso contumaz".
O técnico Raimundo Wagner, conhecido como Raimundinho, é um dos profissionais que ainda não entrou com processo contra o Ferroviário, mas diz que fará o registro durante a semana e se juntará ao grupo já composto por treinadores como Maurício Copertino e Ranielle Ribeiro.
"O Ferroviário me deve R$ 21,5 mil; fora o meu aluguel, que eu mesmo paguei. Essa dívida vai fazer um ano agora no dia 4 de setembro. Garanto que vou colocar na Justiça, o que eles estão fazendo é ato de gente sem compromisso. O presidente sequer me atende", relata Raimundinho.
Entre os jogadores, o número é ainda maior. Dentre os que o Esportes O POVO conseguiu apurar que já oficializaram os processos, estão 13 atletas. Contudo, os próprios jogadores alegam que mais nomes devem passar a integrar a lista. O goleiro Douglas Dias, que chegou a ser capitão do plantel, admite que hesitou em abrir ação contra o time.
"Nem queria colocar (pelo carinho que tem pelo clube), mas a diretoria estava me devendo quatro meses de salário e premiações (acesso e título) que prometeram, além do FGTS que não foi depositado. Tentei conversar, mas não respondiam minhas mensagens nem atendiam as ligações. E não foi só comigo, foi com todos os jogadores que saíram", aponta Douglas.
Além de Douglas, outros jogadores que o Esportes O POVO conseguiu confirmar as dívidas foram os atletas José Wilker, Matheus Marques, Juninho Quixadá, Danilo Baratinha, Lincoln, André Luiz, Igor Rayan, Reinaldo Vieira, Eder Lima, Natanael, Caio Rangel e o também goleiro Geaze. O atacante Ciel também tem R$ 400 mil a receber do clube, mas não acionou a Justiça.
Entre os funcionários, mais relatos de dívidas. Além de profissionais que já saíram, outros que estão no clube afirmam que passaram os últimos dois meses sem receber salário, assim como direitos de FGTS e férias ainda não concedidas.
Em grande parte dos processos trabalhistas, o que é relatado é a falta do 13º salário proporcional, férias Proporcionais, multa de 40% do FGTS, saldo de salário, salário vencido/retido e, em parte deles, uma multa do artigo 477 da CLT, que incide quando a empresa não paga as verbas rescisórias dentro do prazo legal de 10 dias após o fim do contrato de trabalho.
No início do mês de agosto, o Ferroviário teve ainda a luz do Elzir Cabral cortada na semana do confronto decisivo ante o ASA-AL. No confronto de ida, os jogadores tiveram que ir de táxi ao estádio Presidente Vargas por ausência de transporte.