Apesar de ainda dividir opiniões, a inteligência artificial (IA) já é uma ferramenta presente em diferentes setores da sociedade. No futebol, claro, não é diferente. O Ceará, por exemplo, é um dos clubes brasileiros que já investe nesse tipo de tecnologia visando o detalhe mais importante: conquistar resultados.
Em conversa exclusiva com o Esportes O POVO, André Martins, head do Centro de Saúde e Performance do clube, Isaque Silva, head de análise de mercado, e Renato Bennata, analista de desempenho, explicaram como o Vovô usufrui desse fator para potencializar o trabalho.
De acordo com André, a IA adentrou em Porangabuçu após a diretoria compreender que a modernização no futebol vem acontecendo através dos dados. "Acho que a pandemia foi um marco para essa mudança mais radical, porque chegou um momento em que já não tinha mais o contato diário e precisava de ferramentas que nos dessem informações", disse.
Na sequência, ele destacou a agilidade das ferramentas para a obtenção de informações e ressaltou que atualmente o clube toma decisões em dados.
"Houve investimento em tecnologias que a gente chama de vestíveis, em que conseguimos coletar o dado de jogo e treino. Essas tecnologias dão milhares de informações a cada milésimo de segundo [...] As pessoas que fazem o Ceará entendem a importância de um futebol fundamentado em dados. O que não exclui, obviamente, o olhar crítico, o olhar clínico. A IA é uma ferramenta que está dentro de um processo, ela não é o processo."
Para além da parte física, a tática é outra área que ganhou reforço com a chegada da inteligência artificial. Renato, que integra o Departamento Integrado de Análise Sistemática (Dimas) desde 2024, destrinchou como os analistas do Vovô trabalham com a IA.
"A gente utiliza para fazer estudo de bola parada e dos adversários. Avaliamos os pontos fortes e fracos de acordo com a base de dados. Muito dos dados que temos é por coleta própria. Todos os nossos jogos são extremamente mapeados. A gente tem todas as informações: passe, cruzamento, tudo. A inteligência artificial vai me ajudar em quê? Em transformar isso em valor e informação", comentou o profissional, que também ministra aulas na CBF Academy.
Questionado sobre a chegada da tecnologia na análise de desempenho, ele contextualizou o início e citou exemplos de sucesso.
"Ela surgiu em meados de 2020 na Inglaterra. Os ingleses começaram a investir nas universidades, principalmente com o pessoal da TI (Tecnologia da Informação) e da Data Science (Ciência de Dados). Tentaram trazer isso para gerar alguma vantagem competitiva, aí se gerou alguns cases, como o Liverpool", cita. Segundo ele, o clube inglês passou a mapear o jogo, com auxílio de engenheiros com técnicas de bancos de dados, Linguagem SQL, Power BI, chegando até à inteligência artificial.
Isaque Silva, head de análise de mercado, é outro profissional alvinegro que reforça a importância da inteligência artificial no cotidiano. "A grande virtude da IA é a otimização do nosso tempo, ela nos dá um filtro de indicadores-chave, consegue eliminar um grande número de jogadores e focar no que a gente quer", dissertou.
Na entrevista, ele ainda detalhou como funcionam os softwares que ajudam a prospectar atletas para o Vovô. "Temos um algoritmo que nos permite dar um peso para o atleta como forma de classificação. Vou dar um exemplo: a gente pega um jogador da J-League, do Japão, e tenta trazer para a realidade do Brasil. Para isso, usamos métricas dos Campeonatos Brasileiro e Japonês e o algoritmo classifica o jogador das letras A até a E, tipo: 'Esse jogador para a sua realidade é nota A, B, ou C'", explicou Isaque.
Por fim, ressaltou que o diferencial do Alvinegro em meio aos outros clubes do futebol brasileiro é a busca pela evolução. "O diferencial do Ceará que, quem toma as decisões, fomentam o nosso trabalho e nos cobram desenvolvimento. Além disso, investem, pagam plataformas caríssimas. Nosso relatório de entrega saiu de 1 página para 12 com elementos táticos, técnicos, físicos, psicossocial, etc."