Na altitude de 4,1 mil metros, o Brasil sentiu o fator físico e foi derrotado pela Bolívia por 1 a 0, com gol de pênalti marcado por Miguelito, nos acréscimos do primeiro tempo. O resultado marcou a primeira derrota da equipe sob comando do técnico Carlo Ancelotti e confirmou a pior campanha da história da Canarinho nas Eliminatórias, com 28 pontos somados — superando negativamente a classificatória para a Copa de 2002, quando fez 30 pontos.
Com praticamente tudo resolvido nas Eliminatórias, restou uma única narrativa para a rodada final: a disputa por uma vaga na repescagem envolvendo a Bolívia e a Venezuela — que enfrentou a Colômbia como mandante no Estádio Monumental de Maturín. Na arquibancada dos dois países, havia o apelo de um povo que não vê sua seleção em uma Copa do Mundo há 32 anos, no caso dos bolivianos, ou mesmo nunca a viu no Mundial, como os venezuelanos.
Os torcedores bolivianos fizeram sua parte: lotaram o estádio Municipal de El Alto para, no grito, tentar ajudar de alguma forma a La Verde a derrotar o Brasil, seleção com a camisa mais pesada do planeta. É verdade que a Canarinho não tinha tantas pretensões em jogo — e muitos desfalques —, a não ser evitar a pior campanha da própria história nas Eliminatórias. O fator altitude também impactou demais o desempenho dos que vestiam amarelo.
Afinal, por lá, os comandados de Ancelotti precisaram jogar no estádio com maior altitude da Bolívia e o segundo mais alto do futebol profissional, perdendo apenas para a praça esportiva Daniel Alcides Carrión, em Cerro de Pasco, no Peru, a 4.378 metros acima do nível do mar. A cada arrancada necessária para disputar uma bola ou tentar um avanço no ataque, a expressão de falta de fôlego ficava evidente nos brasileiros.
Na escalação, o treinador italiano aproveitou para rodar o time. Apenas Alisson e Bruno Guimarães, que foram titulares na vitória contra o Chile, no Maracanã, também estiveram presentes na equipe inicial diante da Bolívia. Dentro das limitações físicas impostas pela altitude, a Canarinho até se portou bem na maior parte da primeira etapa, embora tenha ido para o vestiário em desvantagem.
Se no Municipal de El Alto a partida caminhava em ritmo morno, no Monumental de Maturín o cenário era oposto: completamente frenético, com a Venezuela abrindo vantagem duas vezes e a Colômbia buscando o empate. Para a Bolívia, além da obrigação de vencer, havia a angústia de torcer por um tropeço da La Vinotinto.
O suspiro de alívio dos bolivianos — não ironicamente — veio nos acréscimos, quando o lateral Roberto foi derrubado na área por Bruno Guimarães. O árbitro, que inicialmente não marcou a falta, assinalou a penalidade após revisão no VAR. Na marca da cal, o jovem Miguelito, que atua no América-MG e pertence ao Santos, teve personalidade e não desperdiçou.
No segundo tempo, não demorou para a Colômbia abrir 5 a 2 na Venezuela. O cenário passou a ser todo da Bolívia: bastava segurar a vitória, já que um eventual empate representaria a eliminação. Virou um jogo de sobrevivência para os donos da casa, enquanto do lado brasileiro, crescia o incômodo de Ancelotti com o resultado.
O italiano tentou. Colocou a “tropa” formada por Raphinha, Estêvão e João Pedro para tentar chacoalhar o sistema ofensivo do Brasil, que pouco conseguiu criar. Na prática, não houve o impacto esperado e o time seguiu inoperante. A altitude é cruel.
A Bolívia, com menos ímpeto, não se incomodou com o rumo que o confronto estava tomando, sem alteração no placar. E assim prevaleceu, com direito a bolas murchas em campo e pelotas invadindo o campo para tentar atrapalhar o ataque brasileiro. Na Venezuela, a partida terminou 6 a 3 para a Colômbia. Final feliz para a La Verde, que terá ainda de passar por duas rodadas de repescagem para chegar ao Mundial e vida que segue para a Amarelinha, que aguarda a Copa do Mundo de 2026 e só volta a campo para amistosos em Data Fifa.
Bolívia
4-3-3: Lampe; Medina (Yomar Rocha), Haquín, Morales, Fernández; Melgar, Villamil, Vaca (Héctor Cuéllar); Paniagua, Enzo Monteiro (Algarañaz) e Miguelito. Téc: Oscar Villegas
Brasil
4-3-3: Alisson; Vitinho (Marquinhos), Alexsandro Ribeiro, Fabrício Bruno e Caio Henrique; Andrey (Jean Lucas), Bruno Guimarães e Paquetá; Samuel Lino (Estêvão), Richarlison (João Pedro) e Luiz Henrique (Raphinha). Téc: Carlo Ancelotti
Local: Estádio Municipal de El Alto, em El Alto (BOL)
Árbitro: Cristian Garay (CHI)
Assistentes: Miguel Rocha (CHI) e Juan Serrano (CHI)
VAR: Rodrigo Carvajal (CHI)
Gols: Miguelito (48’ 1T)
Cartões amarelos: Bruno Guimarães e Fabrício Bruno (Brasil)