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Bastidores e consequências da frustrada retomada de Clássicos-Rei com torcidas no futsal
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Bastidores e consequências da frustrada retomada de Clássicos-Rei com torcidas no futsal

Federação, clubes, Prefeitura, Polícia Militar e Ministério Público se pronunciam após confusão que cancelou jogo no ginásio Paulo Sarasate. Documento de risco teria indicado alerta máximo para a partida
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Confusão entre organizadas de Ceará e Fortaleza (Foto: João Bosco Neto/Especial para O POVO)
Foto: João Bosco Neto/Especial para O POVO Confusão entre organizadas de Ceará e Fortaleza

O retorno do Clássico-Rei de futsal ao ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza, depois de 21 anos, terminou em briga generalizada e cancelamento da partida entre Ceará e Fortaleza, disputada na noite dessa sexta-feira, 12, pelo Campeonato Cearense. As cenas de violência nas arquibancadas, que se espalharam pelas redes sociais, geraram reação de órgãos públicos e entidades envolvidas na organização do duelo.

Logo após o episódio, a Federação Cearense de Futsal (FCFS) divulgou nota de repúdio classificando a violência como “inadmissível” e afirmando que o caso representou “grave ameaça à ordem pública e à segurança coletiva”. A entidade reforçou que mulheres, crianças, atletas, arbitragem e profissionais em serviço foram diretamente expostos ao risco e destacou a atuação das forças de segurança para conter os tumultos.

Presidente da FCFS, Roberto do Vale afirmou que o jogo terá de ser reprogramado, com torcida única ou portões fechados. Ele afirmou que "a bagunça que existe dentro e fora dos estádios infectou o futsal".

A Polícia Militar do Ceará (PMCE) informou que interveio por meio do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque) e apreendeu armas brancas e outros objetos, como soco inglês, barras de ferro, pedaço de madeira com pregos, além de uma pequena quantidade de droga, celulares e dinheiro em espécie. Quatro pessoas, com idades de 16, 18, 19 e 25 anos, foram conduzidas à delegacia.

Os crimes imputados incluem lesão corporal, corrupção de menores e incitação à violência em evento esportivo, previsto na Lei Geral do Esporte. Apesar disso, os envolvidos foram liberados em audiência de custódia. Após audiência de custódia, os detidos foram postos em liberdade.

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), por meio do promotor Edvando França, do Núcleo do Desporto e Defesa do Torcedor (Nudetor), afirmou que as torcidas envolvidas “serão severamente punidas” e que será aberta apuração para verificar eventuais falhas no cumprimento do plano de segurança.

“Não estamos minimizando o conflito, mas é preciso entender se houve deficiência no efetivo policial e como armas foram apreendidas dentro ou no entorno do ginásio”, disse o representante do MPCE. Ele também ressaltou que não chegou ao órgão qualquer pedido formal para que o jogo fosse realizado com torcida única.

Questionadas sobre o efetivo policial presente no ginásio, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) e a Polícia Militar do Ceará (PMCE) não detalharam o número de agentes presentes.

Em nota, a PMCE destacou que "o planejamento contemplou policiamento externo e interno e contou com reunião prévia com representantes das torcidas organizadas". Segundo a corporação, na reunião foram acordados temas como trajeto e horários distintos para acesso ao estádio para evitar encontros e orientações sobre punições em caso de conflitos.

Segundo a corporação, havia equipe do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque) nos acessos das torcidas, nas arquibancadas e na área lateral da quadra, além de patrulha de pronta resposta e patrulha do oficial comandante. 

Na área externa, ainda segundo a PMCE, a segurança do entorno e das vias de acesso foi feita por equipes do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), e CPChoque, bem como Regimento de Polícia Montada (RPMont).

Já a Secretaria de Esporte e Lazer (Secel) confirmou danos materiais em cadeiras e grades de proteção, e destacou que os clubes, responsáveis pelo evento, serão notificados para arcar com os custos. “O equipamento público seguiu os protocolos estabelecidos, e o caso seguirá os trâmites junto aos organizadores”, afirmou em nota.

Posicionamentos de Fortaleza e Ceará

Do lado dos clubes, o Fortaleza divulgou que aguarda as conclusões das forças policiais para se posicionar oficialmente.

Esportes O POVO apurou que o clube teria sido contrário à realização do Clássico-Rei com as duas torcidas, por temer o risco de confrontos. O mandante da partida era o Ceará e a presença de torcida recebeu respaldo de representantes da PMCE, Corpo de Bombeiros e da própria Federação de Futsal.

O Tricolor do Pici teria avaliado como arriscado o espaço reduzido do ginásio em relação ao tamanho das torcidas, ponderando ainda sobre a falta de equipamentos de reconhecimento facial no equipamento público.

O Ceará, por sua vez, lamentou em nota a confusão e ressaltou que adotou medidas preventivas, em conjunto com os órgãos de segurança, para viabilizar a partida com presença das duas torcidas após mais de duas décadas. O clube relatou que instalou divisórias, reforçou a segurança privada e conversou com lideranças de organizadas, mas que os esforços não foram suficientes. O Alvinegro informou ainda que os clubes e a Federação se reunirão para discutir os próximos passos da competição.

Segundo apurou o Esportes O POVO, a Avaliação de Risco em Estádios de Futebol (Aref) teria classificado a partida como “bandeira vermelha”, ou seja, de risco máximo. Apesar disso, fonte ouvida pela reportagem pondera que o protocolo não teria sido seguido à risca.

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