Um artilheiro conhece bem a arte de decidir no ataque, mas talvez só um goleador consagrado saiba reconhecer, com a mesma clareza, o valor de uma defesa sólida. Martín Palermo, maior artilheiro da história do Boca Juniors, estreou pelo Fortaleza nesse sábado, mas como técnico. Em campo, uma prioridade contrária ao que muitos esperavam: antes de mirar o ataque, começou a organizar a retaguarda.
Vertical, o escrete vermelho-azul-e-branco foi, sim, ofensivo em parte do triunfo sobre o Vitória-BA, no Castelão. Contou com ultrapassagens dos laterais, volume no ataque e novas nuances na criação de jogadas, mas o destaque defensivo surge pela fase que o time vivia no setor. Em sua coletiva de apresentação, o argentino já ressaltava que essa correção estava no topo da lista de preocupações.
A prioridade se explica pela matemática. O Leão convive há meses com a ameaça do rebaixamento e carrega números mais que preocupantes. Nos quatro jogos anteriores, a equipe havia sofrido gols em todos, fazendo valer a etiqueta de segunda pior defesa desta Série A, com 34 tentos sofridos, menos apenas que o Juventude-RS e, agora, igual ao Vitória.
A missão de Palermo, portanto, começou pelo óbvio: estancar a sangria. No primeiro passo, a estratégia funcionou. Contra o Vitória, adversário direto na luta contra a queda, o Fortaleza cedeu menos espaços, principalmente após abrir o placar, e conseguiu marcar duas vezes, com Breno Lopes e Bruno Pacheco.
Foi a primeira vez após 21 jogos em que o time conseguiu terminar uma partida sem sofrer gols e, ainda assim, marcar pelo menos um a favor. Contudo, na primeira etapa, ainda não dificultava tanto a entrada do rival em sua área, o que melhorou durante o jogo.
A formação 4-2-3-1 escolhida por Palermo se transformava em uma 4-4-2 na fase defensiva. Inicialmente, com um espaço considerável entre a primeira pressão — exercida com bastante ímpeto — e a defesa de meta quando o adversário avançava. Depois, as linhas ficaram mais compactas e efetivas, permitindo menos lances de perigo.
Nas escolhas para o jogo, Palermo resolveu promover o retorno do goleiro João Ricardo à meta que vinha tendo Helton Leite como dono. Na linha de quatro defensores, usou a dupla argentina Brítez e Ávila como centrais, bem como Mancuso e Pacheco nas laterais. Os dois últimos foram cruciais também no ataque, participando dos gols marcados.
Na faixa central, ainda não utilizou Lucas Sasha na volância, posto que o meio-campista realizou apenas dois treinos com o plantel após retornar de uma lesão. Em jogos ante ataques mais eficazes, a tendência é que o camisa 88 retorne à onzena inicial na vaga de Pierre.
Se a estreia trouxe confiança, o teste de fogo virá na sequência: enfrentar, fora de casa, o Palmeiras-SP, dono do quarto ataque mais consistente do campeonato. Será a medida real para saber até onde a reorganização pode levar e conhecer, de fato, o potencial do novo técnico na missão de conquistar cerca de 27 pontos nos 16 jogos restantes para escapar do descenso.