As “primeiras viagens” costumam ensinar pelo imprevisto e, muitas vezes, moldar a confiança. Às vésperas de completar 18 anos, o lateral Aloisio Neto foi alçado cedo ao sub-20 do Ceará por ter destaque no sub-17 e, mesmo como o mais jovem entre os titulares, herdou a braçadeira de capitão. De primeira, foi o responsável por erguer a taça da Copa do Nordeste sub-20, título visto pela diretoria como o maior da base do Vovô.
Também de primeira viagem, Aloisio agora é pai da pequena Ana Liz, que sequer tinha 20 dias de vida quando ganhou de presente a sua primeira medalha. Antes, porém, o atleta teve de aprender que nem tudo é imediato. Ainda na categoria inferior, enfrentou paradas no trajeto forçadas por lesões que o tiraram de campo e o obrigaram a conviver com a espera.
Ao Esportes O POVO, o jovem cearense conta sobre sua captação pelo Alvinegro, detalha as lesões que quase lhe tiraram do futebol e a volta por cima que lhe concedeu a confiança do técnico Alison Henry. Além disso, relata o compasso em que percebeu que precisava de apoio e o motivo de vestir preto e branco.
Natural de Fortaleza, Aloisio se destacou no Juazeiro que, apesar do nome, realiza seus treinos na Capital. Foi de lá, por exemplo, que surgiu o volante Luis Otavio, que tem figurado em convocações da seleção brasileira sub-20; e o lateral Wendell, do São Paulo, com passagens pelo Porto, de Portugal, e pela seleção principal.
Começou cedo por lá, sem nenhuma dúvida de que queria se tornar atleta profissional, e chamou a atenção do Ceará pelo físico e poder ofensivo. Naquela época, pelo início promissor, já possuia um empresário, que ligou para a sua mãe indicando que o treinador Ramon Soares — que comandava o Ceará sub-17 — queria que ele se juntasse ao grupo para disputar o Brasileirão da categoria.
“Sem hesitar, aceitei na hora, porque foi uma honra muito grande ter sido escolhido para fazer parte do maior clube do Nordeste. Mas isso só aconteceu graças ao trabalho duro e à dedicação que eu tinha na equipe do Juazeiro. Por isso, o Juazeiro é um dos que mais revela jogadores no Nordeste”, diz.
Aloisio teve um bom início no sub-17, apresentando boas atuações e conquistando uma alta minutagem. Contudo, duas lesões o deixaram fora das competições justo ao meio da temporada de 2024 e frearam o início que poderia ser ainda mais meteórico.
A primeira foi a fratura de três metatarsos de um dos pés. Depois, sofreu com uma lesão no tornozelo, também longa. Com as dores e a pressão psicológica autoimposta, ele imaginava perder espaço e temia queda de desempenho quando voltasse da recuperação, mas contou com o apoio emocional da família.
“Isso me abalou muito, e por um instante, pensei em desistir. Mas meus pais e minha família nunca permitiram que eu deixasse esse momento me derrubar ou que voltasse a pensar em parar com o futebol”, relata.
“O apoio deles sempre foi a força para que eu continuasse, e, com isso, consegui voltar ainda mais forte. Hoje, sigo lutando todos os dias para melhorar a minha vida e a da minha família”, complementa.
No fim daquele ano, quando retornou da transição, foi destaque em duas competições que seriam decisivas para definir os atletas que subiriam ao sub-20: as Copas Seromo sub-16 e sub-17. Aloisio teve bom desempenho em ambas e, em uma delas, foi eleito craque de jogo. A evolução rápida e espírito de liderança mostrado nos bastidores lhe fizeram uma das referências do plantel.
A confiança recebida no clube se traduziu em desempenho. Lateral-direito de origem ofensiva, Aloisio soma cinco gols e seis assistências na base, consolidado como peça de equilíbrio entre solidez defensiva e apoio ao ataque. As boas atuações saltaram aos olhos de Alison Henry, técnico do sub-20, que já lhe subiu como titular e capitão.
Aloisio é o mais novo entre os atletas que atuaram ante o Bahia na virada que o Ceará precisou buscar, fora de casa, para erguer o troféu de campeão do Nordeste. Contudo, ainda que Giulio e Guilherme tenham sido as peças decisivas, o treinador alvinegro destaca que a energia dos atletas, como coletivo, lhe gerava a certeza de que iriam reverter o placar.
“Apesar da minha pouca idade, sou um atleta de muita determinação e responsabilidade. Por isso, foi uma satisfação muito grande saber que o treinador e toda a sua comissão me confiaram essa missão. Tive que trabalhar muito duro e me dedicar bastante ao time”, resume o capitão.
Os desafios também chegaram na vida pessoal. No dia 28 de agosto, pouco antes da final ante o Bahia, nasceu sua filha, Ana Lis, e Aloisio se viu diante de um novo papel.
“No começo, foi um baque muito grande para mim e para a minha família, mas graças à rede de apoio que temos e também ao suporte do Ceará, conseguimos encarar essa etapa com mais coragem. Hoje, concilio bem as duas funções, e a Ana Lis é o meu bem mais precioso”, conta
No dia seguinte ao nascimento, ele treinou com o elenco principal do Ceará, que contava com lesões nas laterais. Mesmo com a velocidade da vida e dos acontecimentos, ele projeta o futuro com a serenidade de quem já conhece as dificuldades. Entre metas e sonhos, guarda a vontade de crescer no futebol — sem destacar as proporções — e transformar a vida de quem está ao seu lado.