Contra o São Paulo, o Fortaleza pareceu moralmente rebaixado. Matematicamente, ainda há chances. Existem, inclusive, exemplos de times que, com campanhas semelhantes em edições anteriores da elite do Campeonato Brasileiro, escaparam da queda. Mas os problemas vão muito além da pontuação. Em paralelo a todos os desafios que envolvem a dramática situação na tabela, há um outro crucial: o próprio Leão do Pici.
A derrota para o São Paulo foi constrangedora, de time rebaixado. O rival paulista, em crise e pressionado, veio enfrentar o Fortaleza repleto de desfalques, com somente um zagueiro de ofício — usando um volante improvisado no setor. Não só isso: o Tricolor paulista acumulava quatro derrotas, sequência em que não conseguiu marcar um gol sequer contra os adversários.
O Fortaleza, por sua vez, contou com o apoio de 35 mil torcedores em uma quinta-feira à noite, sendo o vice-lanterna da competição. Saiu atrás no placar, mas, aos 22 minutos do primeiro tempo, passou a ter um jogador a mais em campo, já que Rigoni foi expulso. Nada disso foi suficiente para o Leão, pelo menos, somar um ponto. Sequer foi cenário capaz de permitir o time balançar as redes adversárias.
Apesar das várias falas de jogadores e dirigentes em coletivas, sobre tratar os jogos como finais, do empenho total em tirar o clube dessa situação, o que se viu contra o São Paulo foi mais um desempenho decepcionante de um elenco que, em nenhum momento do Brasileirão, deu indícios claros de que é capaz de reverter o cenário.
Matematicamente, as chances de escapar seguem disponíveis. Segundo o Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a probabilidade de se safar é de 16,6%. O problema é que em campo, onde o jogo é jogado, o Fortaleza não tem sido nada competente em 2025. Fica difícil imaginar que, nos 13 duelos finais da Série A, uma equipe tão desorganizada, sem brio, protagonize uma arrancada suficiente para evitar o rebaixamento.
O caminho natural é, a título de hoje, o Fortaleza jogar a Série B em 2026. E pelo cenário atual visto em campo, seria um resultado justo. Para alcançar os 43 pontos, margem segura para manter-se na elite, o time comandado por Palermo precisa somar mais 22 pontos, ou seja, sete vitórias e um empate nos 13 jogos restantes. Improvável.
Na história dos pontos corridos, apenas um time conseguiu sair do Z-4 tendo 21 pontos em 25 jogos, assim como o Fortaleza está atualmente. Foi o Atlético-MG, na temporada de 2010. Naquela ocasião, o Galo estava com dez pontos a menos que o Vitória e 12 a menos que o Guarani. O clube mineiro escapou com 45 pontos, enquanto o Rubro-Negro, com 42, e o Bugre, com 37, foram rebaixados.
Outro exemplo, este mais recente, é o do Vitória, que, no ano passado, tinha 22 pontos em 25 partidas disputadas. A margem para o Leão baiano sair da zona era de nove pontos para o Athletico-PR. No fim, o clube nordestino reagiu, alcançou 47 pontos — garantindo classificação à Sul-Americana — e “rebaixou” o Furacão, que terminou com 42.
O Fortaleza hoje se apega ao improvável. Se o cenário não mudar rapidamente, a salvação fica impossível.