Um dos pilares do processo de reformulação do Fortaleza para 2026, o técnico Thiago Carpini chega ao Pici com a missão de recolocar o clube na elite nacional. O comandante, que ganhou maior projeção nacional em 2023 após campanhas de destaque no Água Santa-SP e no Juventude-RS, tem ideias bem definidas de futebol: gosta de ser propositivo e não abre mão da competitividade dentro de campo.
Taticamente, Carpini é um treinador que tem, por característica, a facilidade de adaptação. Em sua carreira, já utilizou o 4-2-3-1 — esquema implementado no São Paulo em 2024 —, o 4-4-2 e o 4-3-3, como fez no Vitória entre 2024 e 2025, e até o 3-5-2, ideia colocada em prática no seu mais recente trabalho, o Juventude, onde não conseguiu evitar o rebaixamento.
Independentemente da formatação do time, Carpini tem uma linha de trabalho bem clara. Suas equipes geralmente fazem uma saída de bola sustentada, com os zagueiros, laterais e pelo menos dois meio-campistas ocupando espaços no próprio campo. A ideia é atrair o adversário e, a partir disso, acelerar o passe para quebrar a marcação e gerar situações de um contra um para os atacantes.
Quando o adversário não faz tanta pressão, a saída de bola passa a ser em três, com os dois zagueiros e um meia articulando, e os laterais abertos para gerar amplitude. Ofensivamente, o treinador prioriza jogadas pelas pontas do campo, com triangulações para atacar a linha de fundo. É um estilo de jogo lateralizado, com passes rápidos e profundos, sem posse excessiva.
Cruzamento é um mecanismo bastante utilizado; por isso, Carpini gosta de ter um centroavante fixo, com boa presença de área — Bareiro, caso permaneça, pode ser uma peça importante no esquema do treinador. Os volantes participam ativamente da construção e, claro, os laterais e pontas são jogadores imprescindíveis para que a fase ofensiva funcione de forma efetiva.
Em 2024, além da passagem pelo São Paulo no início da temporada, Carpini viveu um momento de destaque treinando o Vitória. No Rubro-Negro, o comandante chegou com a tarefa de impedir o rebaixamento. Não só cumpriu o objetivo como levou a equipe ao 11º lugar, com campanha de G-6 no segundo turno — desempenho que garantiu classificação à Sul-Americana.
“É um treinador que gosta de marcar por zona. Claro que quando o time sobe a pressão, existem mais encaixes individuais, sobretudo no tiro de meta. Na fase ofensiva, é um treinador que busca muita triangulação e profundidade. É um jogo muito lateralizado. Em muitos momentos, o Vitória conseguiu jogar pelo corredor central”, avaliou Leonardo Santiago, do Canto Rubro-Negro, em conversa com o Esportes O POVO.
“Mas, prioritariamente, nós sempre tivemos com o Carpini um jogo de fora para dentro, de muita triangulação, ataque ao espaço e bolas longas — não é chutão. E, principalmente, era uma equipe competitiva, onde se cobrava ganhar muitos duelos”, completou.
Pelo bom desempenho em 2024, Carpini teve seu contrato renovado com o Vitória para a temporada seguinte. Até começou bem, emplacando 22 jogos de invencibilidade, mas acabou demitido após uma série de insucessos. Para Leonardo, erros na montagem do elenco foram primordiais para o desfecho do treinador no Rubro-Negro. Apesar disso, ele elogiou o comandante: “bom em termos de campo e ideias”.
“Carpini é um bom treinador em termos de campo e ideias. Foi fundamental para o Vitória não cair para a Série B em 2024, fazendo campanha de G-6 no segundo turno. Em 2025, de fato, as coisas não funcionaram. O perfil de contratação mudou. Tentamos ter um time com mais proposição, com jogadores que mudaram as características do elenco, o que acabou não dando certo. Para a Série B, não tenho dúvidas de que é um bom treinador”, disse.
Marcado positivamente pelo acesso que conquistou em 2023 com o Juventude, Carpini retornou ao clube gaúcho nesta temporada, desta vez para tentar livrar a equipe do rebaixamento à Série B. Não conseguiu, mas ao menos melhorou o desempenho do Papo na competição. Sobre essa passagem mais recente no Alviverde, o Esportes O POVO conversou com Bruno Mucke, da Rádio Caxias.
“Sobre a segunda passagem dele pelo Juventude, é difícil falar porque o time não era dos melhores tecnicamente. Ele até fez uma mea-culpa no rebaixamento, dizendo que demorou demais para se adaptar às peças que tinha. Ele utilizou o 3-5-2 nessa reta final. A reta final foi no 3-5-2 porque precisava diminuir o número de chances que os adversários tinham contra o Juventude”, explicou.
“Normalmente, ele é muito moldável e se caracteriza pelos adversários. Por exemplo, às vezes ele joga no 4-4-2, às vezes no 4-3-3; então, ele não tem um padrão muito definido. Ele tem característica propositiva, de marcação alta e perde-pressão. Nessa passagem agora sofreu muitos gols, mas é porque o Juventude em si sofreu muitos gols na temporada, sabe? Mas é um técnico com características bem propositivas, e eu acho bem interessante. Nos últimos anos, ele foi um dos melhores que passaram aqui pelo Juventude, sem dúvidas”, concluiu.