Rossi Antúnez é diretora de arte, ilustradora e uma das idealizadoras do MMPB
O POVO: Como surgiu a ideia da plataforma?
Rossi Antúnez: Eu, a Lilian e a Nath já nos conhecíamos, éramos muito amigas e chegamos a trabalhar juntas em uma agência de publicidade. Sempre houve uma inquietação da nossa parte de ter ideias criativas relacionadas a causas em que acreditamos, especialmente o feminismo. Em janeiro, estourou a polêmica do “Só surubinha de Leve” (música de MC Diguinho, que foi denunciada por incitar estupro, e acabou sendo retirada de plataformas de streaming de música) e isso acabou sendo o estopim para criar o MMPB.
OP: Qual a importância de mostrar o machismo nestas músicas?
Rossi : Nosso principal objetivo com o MMPB é fazer as pessoas refletirem e questionarem o tipo de produto cultural que estão consumindo. Desde que lançamos o projeto muita gente tem falado coisas do tipo: “Nossa! Eu cantava essa música e nunca tinha reparado nisso”. Ou: “Nossa! Eu cantava essa música e sabia que algo me incomodava nela, mas não sabia o quê”. Isso pra gente é muito legal!
OP: Surgiu nesse tempo alguma música que vocês inclusive gostavam, e que não tinham percebido os trechos machistas?
Rossi: Nós, particularmente, nunca tínhamos prestado muita atenção na letra bizarra do Claudinho e Buchecha de “Nosso Sonho”, até a Lilian apontar ela e dissecar. Foi chocante pra todas. “Baile de Favela”, pra mim, foi uma que pegou muito desde antes de pensarmos no projeto. A da Valesca Popozuda também era outra que nós curtíamos até começarmos a problematizar. É difícil, porque tem muita música problemática, mas muito sutil ao mesmo tempo. “50 reais” (da Naiara Azevedo) é um exemplo. Se você escuta em alguma festa, sei lá, passa batido, mas quando você analisa com calma, de fato, é o clichê da reprodução do discurso machista, né? (Porque diz:) “Não sei se dou na cara dela, ou bato em você”. (DA)