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O que diz o choro
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O que diz o choro

| INFÂNCIA | Ao chorar, a criança pode dar pista de um momento difícil que ela não consegue expressar na fala
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Tipo Notícia

“Engole o choro!”. “Tão grande pra chorar...”. “Menino não chora”. Os adultos reprimem frequentemente o choro das crianças. As lágrimas, no entanto, podem revelar um momento difícil que os pequenos não conseguem elaborar em palavras – um incômodo ou uma violência, por exemplo. Silenciar este sofrimento pode ter consequências graves.
 

“O choro é uma forma de expressão, de alegria ou insatisfação. Pode ser uma forma de dizer que algo não está bem”, explica a professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas Sobre a Criança (Nucepec) Veriana Colaço. Ela diz que, ao reprimir o choro, o adulto interrompe a possibilidade de um diálogo. “Passa a mensagem de que ela não pode comunicar o que está sentindo. Mas ela precisa ser ouvida”, diz.
 

Sem escuta, não é possível proteger a criança, que pode desenvolver problemas de personalidade e de aprendizado, com a continuidade do sofrimento. “Quem não pode chorar, quem não pode se expressar, vai criar uma personalidade frágil, vulnerável”, esclarece a doutora em Educação e professora do Departamento de Pedagogia da UFC Ticiana Santiago.

As especialistas apontam que existem diferentes tipos de choro, e o choro de “birra” é facilmente diferenciado de um choro que quer expressar algum problema. “Quando é birra, tem uma relação direta com algo que a criança não quer fazer ou quer impor, é um choro imediato. O choro do abuso vem de repente, você não entende”, diz Veriana.

O papel de escutar, entender e acolher a criança é dos familiares e da escola. “É um papel de todos, uma relação de parceria. A escola não consegue interpretar sozinha, mas pode ajudar a criança a se expressar”, afirma Ticiana. 


Em casa, o ideal é incentivar os filhos a falar dos sentimentos. Os pais podem contar suas próprias experiências para abrir espaço. Importante é não desvalorizar o choro.
 

No Paraná, a Secretaria Estadual da Família e Desenvolvimento Social, em parceria com Conselho Estadual dos Direitos da Criança do Adolescente (Cedeca), criou a campanha “Não Engula o Choro”, que tem sido veiculada em vídeos em sessões no cinema do estado e circulado pela internet por meio do Whatsapp. As peças da campanha estimulam que meninos e meninas expressem seus sofrimentos através do choro e que os adultos acolham esta dor. (Heloísa Vasconcelos, Especial para O POVO)

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