Digitar ASMR na busca do YouTube leva a mais de 15 milhões de resultados. Ao escolher uma das sugestões, é possível conferir alguém sussurrando e fazendo sons com lábios, dedos e diferentes tipos de objetos e materiais. Esses sons causam a Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano - ou apenas ASMR -, uma sensação de dormência ou formigamento, geralmente na cabeça e extremidades do corpo, obtida por estímulos visuais e auditivos, sobretudo em vídeos.
Os adeptos e os usos da ASMR são inúmeros. No geral, youtubers do segmento gravam em cenário simples, bem próximos à câmera e ao microfone, sempre com tom de voz suave - a ideia é atrair a atenção enquanto acalma o interlocutor.
Os gatilhos para as sensações, contudo, afetam cada pessoa de forma diferente. Mariana Lima, 27, descobriu a técnica por meio do namorado há cerca de dois anos, e, desde então, utiliza os vídeos para eliminar a ansiedade ou se concentrar no trabalho. Foi pesquisando sobre o tema que a arquiteta percebeu que as sensações que lhe ocorriam ainda na infância tinham um nome.
"Sempre senti isso (ASMR), mas eu não conseguia identificar um padrão. Por exemplo, quando uma pessoa fazia um penteado em mim, mas não era como o prazer de um cafuné. Essa sensação vem na coluna cervical, chegando na parte de trás da cabeça. Mas não é o mesmo que um calafrio. Não é uma coisa que fica. É um momento", detalha.
Um dos canais que a arquiteta acompanha é o da paranaense Monique Colin, 27 anos. A youtuber explicou ao O POVO que tinha um canal sobre variedades há sete anos, mas os comentários sobre sua voz levaram-na a pesquisar sobre o tema e incluí-lo nos vídeos. Assim, a ASMR se tornou o principal conteúdo do canal, que tem 136 mil inscritos e 14 milhões de visualizações.
"Cada pessoa reage de um jeito quando recebe estímulos variados. Não existe uma regra. Existem sim gatilhos que são quase universais, mas o fascinante mesmo é essa variedade, esse mistério de saber o que cada um sente quando é exposto a estímulos diferentes", explica a youtuber, que é esteticista e cosmetóloga.
Além dos vídeos, Monique decidiu levar o ASMR do "virtual para o real". "Consegui fazer um método onde eu atendo massagem relaxante mais ASMR, em uma sessão de 1h30min. Nesse período, faço a massagem e provoco as sensações de ASMR, fazendo os gatilhos que cada paciente prefere", acrescenta.
No último dia 20 de julho, a revista científica Plos One publicou uma pesquisa do departamento de psicologia da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, realizada com 1.112 pessoas que afirmaram sentir excitação e calma ao assistir vídeos de ASMR. Entre as evidências fisiológicas encontradas, estão alteração na atividade elétrica na pele e redução de batimentos cardíacos.
Alguns dos adeptos da técnica a utilizam para dormir. Conforme a neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (AFIP), ASMR pode ajudar a relaxar, assim como a meditação, mas não no mesmo nível, ativando áreas diferentes do cérebro. Segundo a neurologista, as técnicas que promovem algum tipo de distração, relaxamento, estímulos repetitivos e monótonos podem funcionar como uma terapia comportamental.
"Você deixa de se preocupar com o fato de dormir, se distrai, e essa monotonia dá sono. Existem muitas coisas que têm sido feitas pra ajudar as pessoas a induzir o estado de sonolência. Parecido com isso (ASMR), existe aquela técnica da água corrente. Todos ajudam de alguma maneira, mas não quer dizer que sejam suficientes para tratar uma pessoa com insônia. É necessário o indivíduo saber se aquilo o ajuda ou não. Ele vai perceber. E se não ajudar, não vale a pena insistir", esclarece.
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resultados, em diversas línguas, são mostrados no Youtube ao pesquisar “ASMR”
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de views tem o vídeo de ASRM mais visto do Youtube, no canal Sand Tagious