Louvado pelas vozes da cantora e atriz Ayla Maria e do tenor Franklin Dantas, o mestre do teatro cearense Haroldo Serra foi velado no Cemitério Parque da Paz na tarde de ontem, 16. Familiares, amigos, parceiros profissionais, alunos e admiradores compareceram ao sepultamento para homenagear o teatrólogo e prestar condolências. Entre os presentes estavam o secretário da cultura do Ceará Fabiano Piúba; o ex-secretário de cultura de Fortaleza Magela Lima; o professor, coreógrafo e bailarino Hugo Bianchi e o ator, dramaturgo e diretor teatral Ricardo Guilherme. Os filhos Hiroldo e Harolmisa Serra também compareceram à cerimônia iniciada às 15 horas.
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Em setembro de 2019, Haroldo Serra completaria 62 anos desde sua estreia nos palcos. Para Fabiano Piúba, o velório e o sepultamento representaram também uma celebração da extensa trajetória do teatrólogo. Em suas redes sociais, o secretário declarou que "a história do teatro e das artes cênicas do Ceará se fundem com a vida e com a obra do Haroldo Serra. Elas estão entrelaçadas, uma existe com a outra". O Governo do Estado, em nota oficial, destacou que "o Theatro José de Alencar celebra 109 anos, nesta segunda-feira,17, com programação especial em homenagem ao ator, que já chegou a ser diretor do equipamento".
Parceiro de Haroldo, o dramaturgo Ricardo Guilherme relembrou o primeiro trabalho compartilhado com o amigo: a peça O Morro do Ouro, de Eduardo Campos. "A primeira peça que eu estreei com Haroldo é também a última peça que fiz com ele: O Morro do Ouro. A estreia foi em 1972 e, nos 60 anos do grupo Comédia Cearense, fizemos de novo. São muitas lembranças". A atriz Carolina Geraldo, protagonista na remontagem do espetáculo em 2017, também compareceu ao sepultamento.
Para o diretor de cinema Glauber Filho, Haroldo Serra representa as artes cênicas no Ceará e no Brasil. O teatrólogo participou do novo filme do realizador, o longa-metragem ainda em fase de montagem Bate Coração. "É uma pequena participação pra um grande homem, um grande talento. E isso, pra mim, é iluminado, é mágico. Foi uma homenagem particular ao Haroldo e eu tenho uma imensa gratidão por ele ter participado. Pra mim, dirigir aquela cena foi um sentimento de um enorme respeito a um grande homem. Minha enorme gratidão para Haroldo Serra", pontuou em entrevista ao Vida&Arte.
Pesquisador de teatro, Magela Lima destaca Haroldo Serra como um ilustre representante do moderno teatro cearense. "O teatro, até os anos 1950, era muito paroquial, amador e esporádico, sem essa figura do encenador, do diretor. O Seu Haroldo participou desse movimento de mudança. Eu acho que o grande compromisso do Seu Haroldo foi com uma perspectiva de formação de plateia, de dotar o Ceará de uma programação continuada de teatro. Seu Haroldo é uma figura que deixa um legado muito importante para o Estado — essa coisa dele ser um obstinado, um guerreiro, de não medir esforços pelo teatro é um legado que eu não vejo comparação na história do teatro cearense. (Foi) Muita dedicação, muito empenho, muito vigor para tornar esse lugar possível", finaliza.
Emocionado, Hiroldo Serra retomou uma fala do pai ainda em vida: "Quando eu morrer, não ponham uma laje fria sobre o meu túmulo, eu prefiro sentir calor! Quando eu morrer, quero que cantem uma bela canção de amor". Após o sepultamento, o filho do mestre agradeceu e afirmou: "Aqui jaz um homem que foi muito feliz".