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Criação de abelhas: hobby na pandemia
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Criação de abelhas: hobby na pandemia

Os recursos para meliponicultura - cultivo de abelhas sem ferrão - são mais simples e, consequentemente, mais baratos. É possível reunir até 200 colmeias em um único local
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Joaquim Saldanha de Carvalho, criador de abelhas (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Joaquim Saldanha de Carvalho, criador de abelhas

Com a mudança na rotina trazida pela pandemia do novo coronavírus, muitas pessoas procuraram hobbies diferentes para fazer em casa e esquecer um pouco do que está acontecendo no mundo. Em alguns casos, as novidades devem virar companhias permanentes. Este é o caso da meliponicultura, criação de abelhas sem ferrão.

A meliponicultura ganhou mais destaque nos últimos anos devido ao interesse das pessoas em preservar o meio ambiente. As abelhas são os melhores e mais eficientes agentes polinizadores da natureza, responsáveis pela produção e perpetuação de milhares de espécies de vegetais, mantendo o equilíbrio entre os ecossistemas. Nesse período de pandemia, a atividade ainda atraiu mais adeptos passando até a ser encarada por muitos como uma terapia.

Como as melíponas não possuem ferrão, o manejo é muito mais fácil, pois não oferecem riscos de acidentes como com as abelhas africanizadas. Isso favorece a criação, inclusive, em áreas urbanas, como quintais e jardins.

As abelhas sem ferrão:

Uruçu (Melipona scutellaris);

Uruçu-Amarela (Melipona rufiventris);

Guarupu (Melipona bicolor);

Iraí (Nannotrigona testaceicornes);

Jataí (Tetragonisca angustula);

Jataí-da-Terra (Paratrigona subnuda);

Mandaçaia (Melipona mandaçaia);

Manduri (Melipona marginata);

Tubuna (Scaptotrigona bipunctata);

Mirim Droryana (Plebeia droryana);

Mirim-Guaçu (Plebeia remota);

Mirim-Preguiça (Friesella Schrottkyi);

Lambe-Olhos (Leurotrigona muelleri);

Borá (Tetragona clavipes);

Boca-de-Sapo (Partamona helleri);

Guira (Geotrigona mombuca);

Marmelada Amarela (Frieseomelitta varia);

Mombucão (Cephalotrigona capitata);

Guiruçu (Schwarziana quadripunctata);

Tataíra (Oxytrigona tataira tataira);

Irapuã (Trigona spinipes) e

Abelha-Limão (Lestrimelitta limao)

Bieira (Mourella caerulea)

O cultivo em casa

Os recursos para meliponicultura são mais simples e, consequentemente, mais baratos. É possível reunir até 200 colmeias em um único local. De acordo com Joaquim Saldanha, coordenador do projeto Educação Ambiental Meliponário Parque Escola, uma forma de ajudar o planeta é a criação de abelhas em casa. "Uma forma eficaz de diminuir o que causamos à natureza é a criação racional de abelhas nativas em casa, e nesse período de pandemia houve uma procura maior pela atividade", afirma.

Segundo o coordenador do projeto, as abelhas podem ser criadas em casa ou apartamentos pois não necessitam de muito espaço ou cuidados com alimentação, vacinas, banhos e medicamentos, como outros animais domésticos.

Dicas para começar

1.Antes de começar a criar as melíponas, é importante manter contato com criadores que já possuem experiência, a fim de buscar informações e saber qual a melhor maneira de iniciar seu meliponário.

2.Faça levantamento das espécies de abelhas e, se possível, sobre as plantas por elas utilizadas na região. Pesquise as espécies de abelhas que se dão melhor em cada ambiente.

3.Escolha um lugar adequado para colocar as caixas.

4.Aprenda o manejo das colmeias e acompanhe o desenvolvimento delas. Veja quando pode ou não fazer a colheita do mel.

Investimento previsto

Os enxames de abelhas jandaíra são vendidos a R$ 400 em média.

De abelhas canudo, de R$ 180 a R$ 220.

De abelhas jataí, de R$ 250 a R$ 300

Onde encontrar ajuda em Fortaleza

Parque Botânico do Ceará (Estrada José Aragão e Albuquerque, s/n - Itambé, Caucaia).

Telefone: (85) 3342 0794

Curso de meliponicultura teórico/prático com Hiara Meneses e Francisco Ximenes Braga

Datas: 15, 16 e 17 de novembro

Local: meliponário São Francisco (Estrada da Aroeira, Aquiraz)

Mais informações: (85) 99663 5102 e no Instagram: @draabelha

Criação de abelhas jandaíras

Fortaleza, Ceará, Brasil - 27.08.20 Thiago Andrade, cria abelhas jandairas em casa como robe (Foto: Fco Fontenele/O POVO)
Fortaleza, Ceará, Brasil - 27.08.20 Thiago Andrade, cria abelhas jandairas em casa como robe (Foto: Fco Fontenele/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)

Thiago Andrade, 32 anos, jornalista, divide uma caixa com 300 abelhas jandaíras com a irmã no apartamento e começou a criação em 2017, depois de ouvir de um amigo, que é referência na criação da espécie sem ferrão, em como a atividade era enriquecedora e os seus benefícios para o ecossistema. "Fui vendo que era possível ter uma caixa de abelhas em casa. E que aquilo era bom para mim e para o meio ambiente. Fora que a narrativa por trás da criação é muito interessante", revela.

Para o jornalista, o maior aprendizado foi perceber que as abelhas também podem nos ensinar muito, não só sobre a sua biologia e seu papel no ecossistema, mas também sobre como agir em comunidade. Por interagir mais com a natureza por meio desse "pet inusitado" percebeu que nem todas as abelhas são iguais "Eu aprendi que nem todas são iguais àquelas presentes em desenhos animados que possuem o bumbum listrado. Temos uma diversidade muito grande de abelhas no Brasil e cada uma desenvolve ao longo da vida funções diferentes na colmeia", ensina.

O novo hobby trouxe para Thiago uma rede de amigos, que fizeram um grupo no WhatsApp para trocar ideias. "A gente troca informações, dúvidas e dicas para o cultivo das abelhas."

As jandaíras

A abelha jandaíra (Melipona subnitida) é considerada uma espécie-chave para a região Nordeste. É referência para utilização na agricultura familiar.

Benefícios

Uma vantagem para a criação das melíponas é que há inúmeras espécies presentes nas diversas regiões do Brasil,o que abre portas para a produção em todo o território nacional. No Ceará, as mais comuns são as jandaíra, jataí e abelha canudo.

O mel produzido pelas abelhas nativas têm um valor de mercado que chega a ser dez vezes maior do que o mel tradicional, a depender da variedade.

Além da produção do mel e derivados, como pólen e cera, os meliponicultores podem lucrar com o aluguel de colmeias para a polinização de pomares.

Elas ainda ajudam no desenvolvimento da fauna e da flora na região.

Curiosidades

Todas as abelhas fêmeas adultas possuem ferrão. Mesmo as espécies denominadas popularmente de "abelhas sem ferrão", na verdade possuem ferrão, apenas este é atrofiado o que impede a abelha de ferroar. O ferrão das abelhas é na verdade um ovopositor (tubo para postura de ovos) modificado que perdeu sua função original e passou a ser utilizado pelas abelhas na sua própria defesa e do ninho.

Enquanto a grande maioria das espécies de meliponíneos transporta o pólen que coleta das flores em estruturas (corbículas) localizadas nas patas traseiras e próprias para essa função, as poucas espécies de meliponíneos parasitas não possuem corbícula e carregam o pólen que roubam de outras colônias no papo sob forma pastosa.

Fonte: trabalho Meliponíceos, do professor Breno Magalhães Freitas, da Universiade Federal do Ceará (UFC)

 

 

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