Na história colonial brasileira, o Ceará é capítulo secundário. Um coadjuvante inconteste. Não teve o peso político de Bahia, Pernambuco ou Maranhão, São Paulo ou Rio de Janeiro, nem o (Grão-)Pará, muito menos Minas Gerais. No período colonial, por mais de cem anos o Ceará não interessou aos europeus, exceção feita aos corsários. Naquele primeiro século após a chegada dos povos d'além-mar, ninguém dava importância do outro lado do Atlântico para essa terra vista como um grande amontoado de areia, pontuada por algumas serras e cortada por rios sem grande expressão. Naquela época, só quem deva valor de verdade ao Ceará eram as nações indígenas. Dezenas e dezenas de povos que habitavam — e guerreavam pelo território.

Depois desse primeiro século de pouco caso europeu para com o atual Ceará, começaram as, a princípio malfadadas, tentativas de colonização. E, pelos dois séculos seguintes, a capitania se manteve subordinada. Primeiro, como parte do Estado do Maranhão — que incluía o Grão-Pará e o... Maranhão. Depois, o Ceará se desvinculou do Maranhão. De 1656 a 1799, foi capitania subordinada a Pernambuco. O comércio não podia ser direto com Portugal. Precisava passar por Recife. A data de hoje, 17 de janeiro, relembra o dia em que, em 1799, o Ceará passou a não mais estar subordinado a ninguém. Era a partir dali responsável pelos próprios triunfos ou dissabores.

O que significa Ceará

"Até chegarmos a este nome, Ceará, foram diversas as grafias e sonoridades", contou a escritora Ana Miranda no O POVO de 11/11/2015. Os portugueses fizeram uma confusão. Grafavam por vezes Seara, Seará, Siara, Siará, Ciará, até Ceará. Holandeses usavam para a capitania, o rio ou o forte as palavras: Sijara, Sijra, Siara, Sirra, Chiara, Ciara, Cirra, Ziera, ou Syará.

Mas, o que significa Ceará?

Antônio Bezerra cogitou que seria corruptela de Saara — pela aridez e dunas brancas. Teodoro Sampaio acreditava que ceará era uma espécie de papagaio. Na Paraíba, ceará é charque. O Senador Pompeu disse que Siará viria de suia — caça.

José de Alencar tornou famosa a definição de Aires de Casal: Ceará significa "canto da jandaia".

Alencar explica: "Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ára - pequena arara ou periquito".

E o que é Jandaia?

Aves psitaciformes, psitacídeas, do gênero Aratinga. "Mas, também é a A. Jantaia, ou maritaca, nhandaia, nandaia, periquito-rei, a ave que conhecemos tão bem: amarela, de dorso verde, as asas azuladas e o rabo do verde ao azul, linda! E barulhenta", diz Ana Miranda.

Quando o Ceará não era parte do Brasil

Nos primeiros passos da colonização, o Ceará era uma das 14 capitanias hereditárias instituídas em 1534.

Em 1548, foi criado o cargo de governador-geral. Continuou havendo as capitanias. Mas, havia um comando centralizado da colônia.

Em 1572, a América portuguesa foi dividida em Governo do Norte, cuja capital se mantinha em Salvador, e Governo do Sul, com capital no Rio de Janeiro.

Por volta de 1621, a divisão foi refeita em: Estado do Brasil, com capital Salvador, e Estado do Maranhão, cuja capital era São Luís. Esse segundo Estado abrangia a porção norte da colônia desde a Amazônia, então capitania do Grão-Pará, até o Ceará — separado administrativamente do Brasil. O então capitão-mor Martim Soares Moreno protestou. Citou os ventos e as rotas de navegação para indicar que o Ceará era mais próximo de Pernambuco.

Em 1630, holandeses conquistaram Pernambuco. Em 1637, ocuparam o Ceará, que seguiu sob controle holandês até 1654. Nesse meio tempo, o Estado do Maranhão foi reintegrado ao resto da colônia em 1652. Mas, em 1654, foi recriado como Estado do Maranhão e Grão-Pará.

Em 1656, o Ceará deixou de pertencer a esse Estado. Passou a estar subordinado a Pernambuco, assim permanecendo até 17 de janeiro de 1799.

Europeus

Pelos documentos conhecidos, o primeiro europeu a passar pelo Ceará teria sido Vicente Pinzón, antes de Cabral. Teria ido da altura do Cabo de Santo Agostinho (RN) até além do rio Amazonas

Antes dos colonizadores

Carlos Studart Filho, em Os aborígenes do Ceará (1965), traça a distribuição geográfica de algumas etnias pré-coloniais:

Tribos
oceânicas:

Jaguaribaras

Baiacus

Guanacés

Guanaceguaçus

Guanacemirins

Acanaceguaçus

Tremembés

Potiguaras

Tribos serranas:

Tabajaras

Anacés

Ararius

Canacus

Aconguaçus

Tocarijus

Anaperus

Acriús

Arariús

Tribos sertanejas:

Xiritós

Candadus

Acimis

Vidaes

Caratis

Icós

Icozinhos

Acongás

Quiratiús

Quererarius

Jenipapos

Quixelôs

Canindés

Acocis

Chibatas

Ariúis

Quitaiaús

Tribos do alto sertão:

Cariuanés

Carcuacus

Calabaças

Cariús

Cariris

Jucás

Pipóes

Xocós

Umáos