Com eficácia 99% garantida em camundongos, o contraceptivo masculino foi anunciado em março por uma equipe de cientistas dos Estados Unidos. Sem efeitos colaterais observáveis, os testes em humanos devem ter início até o fim deste ano. As expectativas são de que a droga possa estar disponível comercialmente em até cinco anos.
Em breve, as descobertas serão apresentadas em uma reunião da American Chemical Society, marcando um passo fundamental para a expansão das opções de controle de natalidade – e, também, de responsabilidade - para os homens.
Ao ser administrado oralmente em camundongos machos durante quatro semanas, as pesquisas apontaram que o composto químico denominado YCT529 reduziu de maneira drástica a contagem de espermatozóides e foi 99% eficaz na prevenção da gravidez em testes de acasalamento. Após a droga ser retirada, há pouco mais de um mês da sua aplicação, os camundongos puderam gerar filhotes novamente.
Quando monitorados pelos cientistas, percebeu-se que ão foi detectado nenhum efeito adverso aparente em relação a fatores como peso, apetite e atividade geral dos camundongos. Porém, já nos testes em animais, alguns efeitos colaterais como dores de cabeça ou alterações de humor não puderam ser analisados.
Conforme informações do doutor Abdullah Al Noman à agência de notícias AFP, na década de 1960, desde que a pílula anticoncepcional feminina chegou ao mercado, os cientistas vêm buscando um equivalente masculino. Para o especialista pós-graduado da Universidade de Minnesota e responsável por apresentar a pesquisa, "vários estudos mostraram que homens estão interessados em compartilhar a responsabilidade do controle de natalidade com suas parceiras".
No entanto, somente duas opções eficazes estão disponíveis até agora: preservativos ou vasectomia, sendo que a cirurgia de reversão desse segundo método é cara e nem sempre obteve êxito. Além disso, ainda pensando na formulação da droga, enquanto a pílula feminina usa hormônios para interromper o ciclo menstrual, em contrapartida as tentativas de desenvolvimento de um equivalente masculino tiveram como alvo o hormônio sexual masculino testosterona.
Dentre os efeitos colaterais observados nessa abordagem, estão: ganho de peso, depressão e aumento dos níveis de um colesterol conhecido como lipoproteína de baixa densidade, responsável pelo aumento dos riscos de doenças cardíacas. A pílula feminina também traz efeitos colaterais, incluindo riscos de coagulação do sangue.
Em um novo estudo, que visa contornar os problemas evidenciados na abordagem, Abdullah Al Noman, colaborador no laboratório da professora Gunda Georg, teve como foco uma proteína chamada "receptor de ácido retinoico (RAR) alfa". No organismo humano, a vitamina A é convertida em diferentes formas, incluindo ácido retinoico, que desempenha papéis importantes no crescimento celular, formação de espermatozoides e desenvolvimento embrionário.
Para realizar essas funções, é necessário que o ácido retinoico interaja com o RAR-alfa. Experimentos de laboratório mostraram que camundongos sem o gene que cria o RAR-alfa são estéreis. Desta forma, Noman e Georg desenvolveram um composto que bloqueia a ação da proteína, identificando a melhor estrutura molecular com a ajuda de um modelo de computador. "Se soubermos como é o buraco da fechadura, podemos fazer uma chave melhor. É aí que entra o modelo computacional", disse Noman.
Além disso, o produto químico foi projetado para interagir especificamente com o RAR-alfa, e não com dois outros receptores relacionados, RAR-beta e RAR-gama. O intuito é que sejam minimizados os efeitos colaterais analisados anteriormente.
A equipe, que recebeu financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde e da Iniciativa Contraceptiva Masculina, está trabalhando com uma empresa chamada YourChoice Therapeutics para começar os testes em humanos até o terceiro ou quarto trimestre de 2022. "Não há garantia de que funcionará, mas eu ficaria realmente surpreso se não observássemos um efeito em humanos também", explicou Gunda Georg.
Afinal, se tudo der certo, as mulheres confiarão nos homens para utilizar a pílula? As pesquisas indicam resultados positivos para essa questão. Não só a maioria das mulheres confiaria em seus parceiros, como um número significativo de homens indicou que estaria aberto a tomar a medicação.
"Os anticoncepcionais masculinos vão se somar ao mix de métodos, oferecendo novas opções que permitam que homens e mulheres contribuam da maneira que considerem apropriada para o uso de contraceptivos", explica a Iniciativa Contraceptiva Masculina, que não tem fins lucrativos.
Com informações de DW