Com a promessa de produzir efeitos semelhantes ao de substâncias ilícitas, o Binaural Beats, "droga digital" caracterizada por ondas ou frequências sonoras vendidas on-line, tem sido bastante utilizado em todo o mundo. O método, que pode ser obtido por meio de plataformas virtuais ou aplicativos, como o "I-Doser", tem efeito entorpecente no cérebro utilizando frequências de sons desiguais em cada ouvido.
Levantamento global publicado pela revista científica Drug and Alcohol Review, neste ano, mostrou que muitas pessoas fazem uso do método em busca de obter efeito similar ao de outras drogas por meio dos sons. O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade RMIT, na Austrália, revelando que cerca de 5% da população mundial usou o Binaural Beats no último ano.
Além disso, uma a cada dez pessoas acaba aderindo ao método com propósitos recreativos. Adolescentes e jovens com idades entre 16 e 20 anos são os que mais utilizam as ondas sonoras. Os países com maior número de adeptos são Brasil, Estados Unidos, México, Polônia, Romênia e Reino Unido. No total, 22 países passaram pelo estudo, e o Brasil fica na terceira posição.
Binaural Beats: método não é novo
O método, no entanto, não é novo, sendo estudado desde o século XIX. Ele foi descrito pela primeira vez em 1839 pelo físico alemão Heinrich Wilhelm Dove, o qual apontou que as ondas binaurais correspondem a duas frequências diferentes, menores do que 100 Hz, reproduzidas de formas diferentes em cada ouvido. Isso levaria a mente a produzir uma terceira frequência, que é resultado da combinação entre as duas.
"Se um ouvido ouve uma onda a 600 Hz e o outro ouve uma onda a 620 Hz, então a onda binaural é de 20, que é a diferença de 620 para 600", explica o psiquiatra e professor do departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fábio Gomes de Matos. Segundo o especialista, as ondas binaurais agem de forma a causar dependência psicológica em quem as utiliza.
Estado inconsciente e entorpecido
As drogas digitais também podem servir como válvula de escape para determinadas patologias psíquicas. "Os seres humanos são muito criativos em criar drogas para afastá-los da realidade. Essas drogas sonoras têm alguns efeitos terapêuticos no sentido de relaxamento e diminuição da ansiedade, mas quando usadas de formas não adequadas e não prescritas por médicos, elas são abusadas", pontua o professor de Medicina da UFC, Fábio Gomes de Matos.
As emoções, no entanto, não podem ser controladas por meio das drogas digitais, mas induzidas para que a pessoa possa ficar em um estado inconsciente e entorpecido, segundo Fábio. De acordo com o estudo da Drug and Alcohol Review, as pessoas que mais usam as drogas digitais são as que também usam outros entorpecentes.
Riscos das drogas digitais
Apesar dos supostos efeitos de relaxamento no cérebro, as drogas digitais também causam alguns efeitos colaterais, como vertigem, dor de cabeça, nervosismo, crises de ansiedade, confusão, náuseas ou enjoos, segundo o estudo da Drug and Alcohol Review. "No final das contas, essas drogas digitais têm o propósito de eliciar um estado semelhante ao que outras drogas provocam", explica o psiquiatra Fábio Gomes de Matos.
A semelhança de efeitos com as demais drogas utilizadas, segundo o especialista, também torna a droga digital viciante no sentido de causar dependência. "A gente sabe muito pouco sobre isso, sendo um terreno com muito a ser descoberto ainda", completa o professor da UFC. Por conta dos efeitos colaterais produzidos, as drogas digitais podem ser consideradas prejudiciais à saúde de seus usuários.