A dicotomia entre animais racionais e irracionais mudou de foco há pouco mais de 10 anos, Em 7 de julho de 2012, um grupo internacional de neurocientistas, biólogos e psicólogos liderados pelo canadense Philip Low lançaram um documento conhecido como "Declaração de Cambridge sobre a Consciência".
E se engana quem pensa em humanos quando ver o tema "consciência". A declaração, assinada por nomes de peso, como o físico teórico e cosmólogo britânico Stephen Hawing (1942–2018), aponta que todos os mamíferos e aves e até mesmo "criaturas" de outros filos, como os polvos, possuem algo que pode ser denominado como consciência.
O movimento foi um passo decisivo para dar fim à visão de animais como seres irracionais, justificativa comum para uma espécie de hierarquia sensível para justificar maior importância de humanos.
O que dizia a "Declaração de Cambridge" de tão novo? Ela apontava que tais animais — mamíferos e aves em especial — possuem estruturas responsáveis pela percepção, pela memória e pela capacidade de exibir comportamentos intencionais.
O que soa mais consciente do que a intencionalidade, a característica de quem tem um propósito? Os cientistas analisaram dados de animais não humanos, mostrando que as reações ligadas a emoções não se restringem à estrutura do neocórtex — parte do cérebro que mais diferencia o Homo sapiens sapiens dos demais animais. Os especialistas notaram que "sistemas associados ao afeto concentram-se em regiões subcorticais, onde abundam homologias neuronais".
O que isso significa? Que os sentimentos e a consciência não estão confinados às partes superdesenvolvidas do cérebro humano.
Isso significa que os animais são como os humanos? Depende do que se conclui desse pensamento. Afinal, os animais têm demandas diferentes dos humanos. Só porque eles têm consciência, não significa que eles devam ser rodeados de roupinhas ou ser tratados como gente. Isso é uma demanda de humanos para eles.
A consciência de um animal significa o contrário. Na verdade quer dizer que eles têm o "direito" de viver segundo seus próprios hábitos. É para eles que a "consciência animal" aponta.
Ter consciência significa entender o próprio lugar no mundo? Isso ainda é difícil de afirmar. O que se sabe, porém, é que alguns dos animais mais inteligentes têm a capacidade de se reconhecer no espelho.
Algumas espécies de golfinhos mostra consciência da própria imagem, enquanto grandes macacos, principalmente chimpanzés, chegam a brincar de se "embelezar" diante do próprio reflexo. Elefantes, conhecidos pela memória prodigiosa, também dão indícios de se reconhecer diante do espelho. Isso contrasta com outros bichos, que mostram agressividade ou simplesmente ignoraram a imagem do vidro espelhado. (A partir de texto de Catalina Leite)
"A ausência de um neocórtex não parece impedir um organismo de experimentar estados emocionais. Evidências convergem para indicar que animais não-humanos possuem os substratos de consciência neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos juntos à capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso da evidência indica que os humanos não são os únicos possuidores dos substratos neurológicos que geram consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e pássaros, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem estes substratos neurológicos"
Philip Low - Canadá
Jaak Pankseep - Estônia
Diana Reiss - EUA
David Edelman - EUA
Bruno Van Swinderen - EUA
Christof Koch - EUA/Alemanha