A água é uma fonte de vida, porém, também pode ser fonte de doenças e até matar. Assim, é extremamente necessário conhecer quais características da água podem beneficiar ou prejudicar nossa saúde.
“Todos os dias aparecem novos compostos químicos e biológicos, e, por isso, precisamos sempre estar atentos aos impactos destes sobre a saúde humana. Para isso, precisamos da ciência e da tecnologia, para continuar vivendo e melhorar nossa qualidade de vida”, explica José Capelo Neto, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Laboratório de Qualidade de Água (Selaqua).
Conforme o especialista, ao estudar ou pesquisar sobre a água que consumimos, é possível entender como nossas atividades impactam a qualidade do produto, além de compreender o percurso feito pela água até chegar ao consumidor, sendo ela potável, com um custo aceitável e com um menor impacto ambiental. “Muitas doenças [causadas por água contaminada] são facilmente evitáveis mas podem causar danos graves na saúde, principalmente de crianças e idosos”, diz ele.
"A vida na terra depende da água. A terra foi criada a partir da água, e os organismos dependem dela para viver. Os ecossistemas são dependentes dela. Nós seres humanos somos ainda muito mais dependentes que uma grande parte dos organismos terrestres. Nossa economia é baseada na disponibilidade de água. Basta observar que, normalmente, as regiões com mais disponibilidade hídrica têm um nível ou um potencial de desenvolvimento maior”, acrescenta.
A Resolução da Anvisa - RDC 173 de 13/11/2006 descreve as principais diferenças entre a água mineral e a natural. A mineral é obtida diretamente de fontes naturais ou por extração de águas subterrâneas. De acordo com a Norma, “se caracteriza pelo conteúdo definido e constante de determinados sais minerais, oligoelementos e outros constituintes considerando as flutuações naturais”. O especialista José Capelo Neto ressalta que não há purificação de água mineral, ela deve ser potável e segura na própria fonte.
Já a água natural vem de fontes naturais ou por extração de águas subterrâneas, sendo caracterizada “pelo conteúdo definido e constante de determinados sais minerais, oligoelementos e outros constituintes, em níveis inferiores aos mínimos estabelecidos para água mineral natural”. Segundo a RDC, o conteúdo dos constituintes pode ter flutuações naturais.
“Portanto, ambas as águas, tanto minerais quanto naturais, não apresentam adição de sais, e a principal diferença pode ser, por exemplo, a quantidade de sais, que é maior nas águas minerais, ou a temperatura da água na fonte, que é maior do que 25 graus centígrados nas águas minerais. Águas minerais possuem composição química ou propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas naturais", explica o coordenador do Selaqua.
A água adicionada de sais, a maioria dos tipos de águas engarrafadas vendidas, é água que passa por um processo de tratamento (osmose reversa) em que depois são adicionados sais tentando simular uma água mineral. É o que explica o professor José Capelo Neto.
Água tratada é uma água natural (de açude, rio, lagoa ou subterrânea) a qual passou por diversos processos de tratamento. Esses processos podem ser mais complexos (tratamento convencional) ou mais simples (filtração).
De acordo com José Capelo Neto, um dos pontos mais importantes no tratamento de água é a adição de cloro, substância que garante a segurança da água contra microrganismos patogênicos, ou seja, micróbios que causam doenças.
O especialista diz que a melhor água para consumo humano é a água a qual atenda aos pré-requisitos da Portaria Nº 888/21 do Ministério da Saúde. A determinação estabelece um padrão de água que não ofereça riscos à saúde humana, sendo essa água potável.
Segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), o produto que sai na torneira do cearense segue todas as exigências da Portaria. “Em média, são realizadas 36.347 análises mensais de água nos laboratórios de controle da qualidade da companhia, englobando amostras de água bruta, tratada e distribuída”, ressalta o órgão em nota.
Até chegar à casa do consumidor, a água passa por um rigoroso processo de tratamento e de controle de qualidade. São diversos profissionais mobilizados (químicos, biólogos, engenheiros de várias áreas etc). Ela passa primeiro por um processo de coagulação, depois por um processo de pré-oxidação, filtração direta descendente, fluoretação e cloração. “Processos suficientes para trazer a água [dos reservatórios] para os padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde e segura para beber”, esclarece José Capelo Neto.
Conforme a Cagece, as tubulações utilizadas no transporte da água até a residência dos clientes são constituídas, em sua maioria, de material inerte, ou seja, a probabilidade de reação entre este material e a água é muito reduzida. O tipo de material utilizado na fabricação das tubulações possui longa durabilidade.
Para realizar as manutenções necessárias, a respectiva rede é isolada e liberada após o serviço, não comprometendo o restante da rede. Segundo a Companhia, a preocupação com as tubulações interferirem na qualidade da água é fruto do desconhecimento do processo de tratamento e distribuição da água tratada.
“A água da Cagece que sai da torneira pode ser consumida normalmente, sendo necessária apenas a manutenção de caixas de água e tubulações do imóvel por parte do cliente, com a periodicidade mínima semestral. A Cagece garante a potabilidade da água entregue até o hidrômetro do imóvel, por meio do rigoroso processo de tratamento adotado”, destaca em nota.
Não tomar os devidos cuidados com a procedência e o percurso da água até que ela chegue em nossas mãos é muito perigoso, logo é preciso estar atento. José Capelo Neto aponta alguns sinais possíveis de serem detectados pelas pessoas quando se desconfia da qualidade e procedência da água:
1. Saber a fonte da água e se ela foi tratada ou é natural. Se for água natural superficial (açudes, lagoas ou rios) evite consumir. Se é água natural e subterrânea, melhor inserir um pouco de cloro nela na proporção recomendada;
2. Alguns indicativos podem ser usados no caso de água tratada para se ter uma primeira ideia sobre sua qualidade. Primeiro a turbidez e cor, ou seja se a água está turva ou com cor. Depois o cheiro e o sabor. Na água só se permite sabor e odor de cloro, usado para desinfetar a água;
3. Se uma água de torneira não contém cloro, ou se ele não é perceptível, desconfie, mesmo para tomar banho.
Doenças por água contaminada:
- Diarréia por Escherichia coli;
- Amebíase;
- Cólera;
- Leptospirose;
- Disenteria bacteriana;
- Hepatite A;
- Esquistossomose
- Febre tifoide.