Você já se perguntou por que as pessoas ficam enjoadas quando andam de carro, avião ou barco? E quais as causas? Existem várias razões para que alguém apresente sintomas de enjoos, explica a médica endocrinologista, pediatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) de Sobral, Izabella Tamira, e esses indivíduos provavelmente apresentam algo chamado cinetose.
“A cinetose é o enjoo relacionado ao movimento, acontece porque existe uma desregulação entre o estímulo visual e o posicionamento vestibularRelativo ao vestíbulo, pequena cavidade colocada entre a cóclea e os canais semicirculares, no ouvido , nosso equilíbrio do ouvido. Quando existe essa dessincronia entre o que a gente está vendo e o que percebemos de mudança de movimento, pessoas mais sensíveis podem ter sensação de enjoo”, detalha a médica.
Conforme Izabella, enquanto o indivíduo está vendo um ambiente passando, por exemplo, de dentro de um veículo, a sua percepção de movimento pelo vestíbulo, no ouvido, é diferente do que você percebe pelo olho. “É isso que dá essa sensação de mal estar e de enjoo”, destaca a endocrinologista.
O enjoo ou sensação de náusea — quando o paciente sente vontade de vomitar —, pode vir acompanhado de sintomas como sudorese e tontura. “Desde a questão da gestação, quando a gestante tem um aumento dos hormônios, e isso acaba trazendo uma sensibilidade maior. Como também pode ocorrer em pacientes sensíveis ao movimento, no caso da cinetose. E também temos algumas doenças gastrointestinais, como o refluxo, a gastrite e até mesmo alguma intoxicação alimentar”, elenca a professora da UFC Izabella Tamira.
A médica ainda explica que cada uma dessas causas ativa um mecanismo de defesa diferente no organismo, que acaba resultando em enjoo. Na gravidez, conforme ela, acontece por conta da estimulação hormonal. Enquanto na intoxicação alimentar é um meio de defesa do organismo, o qual busca expulsar o alimento que causou o problema.
Fatores psicológicos também podem ser uma causa de enjoos recorrentes, como explica Mara Dalila, psicóloga pós-graduada em Saúde Mental e Atenção Psicossocial e professora em cursos técnicos da área da Saúde.
“Nesses casos o sintoma funciona como um alerta. Ansiedade, estresse (associado ou não com episódios de enxaqueca) e conflitos psicológicos são algumas condições emocionais que possuem o enjoo como sintoma. Apesar de serem fatores psicológicos, isso não as impede de refletir no lado físico”, disse Mara.
Para identificar a causa do enjoo em um paciente leva-se em conta o histórico clínico, como o tempo tempo ele vem apresentando os sintomas e se começou após ingerir determinado alimento. “Através da consulta de anamnese clínica, entrevista com o paciente perguntando as características mais específicas do enjoo, os sintomas associados, o que melhora, o que piora, se consegue diferenciar qual seria a causa desse enjoo”, destaca a médica Izabella Tamira.
De acordo com a psicóloga Maria Dalila, o acompanhamento psicológico precisa ser considerado a partir do momento em que os pacientes não descobrem a causa de seus enjoos mesmo após consulta médica. O problema pode estar relacionado ao estresse e à ansiedade.
“Frequentemente recebo em minha clínica pacientes com queixas de enjoo constante, que buscaram atendimento anterior com médico acreditando que o sintoma era associado a questões físicas, alterações no aparelho digestivo. Porém, saíram do consultório médico com resultado de exames normais e receberam encaminhamento para a psicóloga”, conta a sócia-proprietária da Clínica Claapsy.
Antes de tomar qualquer medicação é preciso descobrir o que está causando os enjoos, pois há remédios específicos para cada caso.
“Por exemplo, se nós estivermos falando de pacientes com cinetose, podemos utilizar medicações profiláticaspreventivas, tomadas antes da exposição a agente causador , antes mesmo de ele sentir o sintoma. Quando se sabe que ele vai se expor àquele estímulo, damos a medicação para não sentir isso”, diz a médica Izabella Tamira.
Por muitas vezes os enjoos estão vinculados à má alimentação, e a endocrinologista pediatra recomenda que os pacientes mudem hábitos e passem a ter uma relação mais saudável com a comida.
Quando a causa é psicológica, o controle do estresse e da ansiedade precisa ser feito através de psicoterapia. Segundo a psicóloga Mara Dalila, existem casos nos quais o atendimento psicológico se torna um aliado.
"Nas sessões, a psicóloga auxiliará o paciente a entender melhor a relação dos enjoos com questões emocionais e o auxiliará a intervir para melhoria dos desconfortos causados, por meio de algumas técnicas.”
De acordo com a psicóloga, o estresse é um dos grandes desafios nas rotinas dos brasileiros. Assim, é preciso estar alerta: “Os enjoos associados a quadros de elevado estresse podem se manifestar em indivíduos de todas as idades e, apesar de ser mais frequente nos adultos, também podem se manifestar em crianças e adolescentes”.