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O que significam as cores da bandeira do Brasil
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O que significam as cores da bandeira do Brasil

Nas salas de aula, comumente os brasileiros são ensinados de que as cores da bandeira do Brasil simbolizam elementos da natureza. Mas será que elas realmente representam as florestas, o ouro, a paz e o céu?
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Atual bandeira brasileira (Foto: Reprodução/Freepik)
Foto: Reprodução/Freepik Atual bandeira brasileira

Entre os tons vibrantes e os debates políticos que permeiam a história nacional, a bandeira do Brasil se configura como o elemento simbólico que representa a nação brasileira. Mas nem sempre a bandeira foi como ela é atualmente. Apesar do conhecimento popular de que as cores dela representam a vegetação, as riquezas (ouro), o céu e a paz, muito pouco dessa crença coincide com o significado original atribuído à sua criação.

Antes de desvendar o que o amarelo, o verde, o azul e o branco representam, é preciso compreender, primeiramente, o motivo de cada país ter uma bandeira. Segundo o professor e historiador Adauto Leitão, as bandeiras são símbolos de grupos, tribos e — mais amplamente — de uma nação. “Elas são o elemento simbólico mais representativo que a humanidade utilizou para identificar grupos e ideias. As bandeiras são criadas a partir de uma simbologia de culturas e de identidade específica”, explica.

Na Roma Antiga, por exemplo, os povos utilizavam bandeiras como forma de representação do império, especialmente quando iam se apresentar em outras terras de conquista. “Cada grupo tinha cores e formatos distintos de composição da bandeira. É incerto dizer quando elas, de fato, surgiram, pois desde os elementos tribais e tintas para se pintar o rosto e o corpo foi-se criando a ideia de uma ampliação da forma de se identificar um povo”, complementa Adauto.

Quando surgiu a bandeira do Brasil?

Antes de a bandeira ser como é conhecida hoje, a sua antecessora imediata era a que representava o império do Brasil, criada pelo artista Jean-Baptiste Debret. Ela esteve em vigor entre os anos de 1822 e 1889.

De acordo com o professor do curso de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), Sebastião Ponte, quando o movimento republicano derrubou a monarquia no Brasil, em 1889, o grupo dos republicanos radicais e o dos positivistas fizeram uma “guerra de símbolos” buscando criar a bandeira do novo regime.

Sebastião pontua que a atual bandeira foi adotada por meio do decreto n.° 4 de 19 de novembro de 1889, motivo pelo qual se é comemorado nessa data o dia da bandeira brasileira. O documento foi assinado pelo primeiro presidente republicano do Brasil, o marechal Hermes da Fonseca. Desde então, a bandeira aprovada permanece a mesma até hoje, com o acréscimo de algumas estrelas, no círculo azul, que representam os novos estados.

À época, os radicais republicanos propuseram uma idêntica à bandeira americana, porém com as cores verde e amarelo nas faixas horizontais. A bandeira aprovada por Deodoro da Fonseca, no entanto, foi a elaborada pelos positivistas, a qual é bem parecida com a bandeira da monarquia, que possui um losango amarelo num fundo verde, apenas substituindo o brasão imperial por um globo azul com estrelas brancas representando os estados e uma faixa com o lema “ordem e progresso”.

 

Afinal, o que significam as cores da bandeira brasileira?

De muito pouco se vale a relação das cores da bandeira às matas, ao ouro, ao céu e à paz, tendo em vista que esse símbolo, como é conhecido hoje, tem suas raízes fixadas na história política de um Brasil invadido e dominado por nações estrangeiras. “A bandeira era uma simbologia de domínio do império português sobre o País, ela representava a monarquia e aqueles que nos dominavam. Era uma marcação de terreno, de poder”, destaca o professor e historiador André Rosa.

Como o verde, o amarelo e o azul já faziam parte da bandeira do Império brasileiro, da qual a República se apropriou, elas têm — na verdade — relação direta com acontecimentos específicos da história de Portugal.

VERDE
Era a cor usada pelos primeiros habitantes da Lusitânia e a cor do brasão da família Bragança, ou seja, a família de Dom Pedro I;

AMARELO
Mais uma referência à família real portuguesa. O amarelo fazia parte do brasão de armas de Portugal e era a cor oficial do brasão da dinastia Habsburgo, governantes da Áustria — uma homenagem direta para a austríaca imperatriz Leopoldina, esposa de D. Pedro I.

AZUL E BRANCO
Representam o condado Portucale, do qual surgiu Portugal. Ambas as cores, contudo, são as duas únicas que estão relacionadas ao significado ao qual elas são atribuídas popularmente, representando o céu e sua infinidade.

E desde quando as cores da bandeira passaram a ser atribuídas à natureza?

Comumente ensinadas nas salas de aula, as cores da bandeira do Brasil são entendidas a partir da sua relação com a natureza. O historiador Sebastião Ponte relata que não se sabe ao certo quando ou como essa crença popular começou a ser propagada entre os brasileiros, mas há nela uma base ufanista que enaltece as riquezas e belezas naturais do País.

Ele conta ainda que um fato inusitado sobre o significado real das cores da bandeira ocorreu durante um vestibular cearense, no final do século passado. “A prova perguntou exatamente quais eram os significados oficiais das cores da bandeira brasileira. Todo mundo errou porque reproduziu a crença popular. Como esse equívoco foi amplamente divulgado à época, finalmente, pelo menos no Ceará, muitos ficaram conhecendo os reais significados das cores da nossa bandeira”, diz Sebastião.

Por isso, mais que a natureza, o futebol e o samba, o que faz o Brasil ser como é, no fim das contas, é o seu povo e a história que ele carrega consigo. “A bandeira de um país, assim como o hino, possui grande peso simbólico coletivo e emocional quando ela é introjetada pela população como representação e identidade de uma nação unida e soberana”, conclui o professor.

Por que a bandeira do Brasil carrega os dizeres “Ordem e Progresso”?

O professor e historiador André Rosa pontua que o lema, escrito na faixa branca no centro da bandeira brasileira, é uma referência direta ao Positivismo — uma corrente filosófica que surgiu na França no início do século XIX e defende a ideia de que o conhecimento científico seria a única forma de saber verdadeiro.

A Primeira República brasileira (1889-1930) foi um período político com forte inspiração na teoria positivista, formulada por Auguste Comte. Tanto o primeiro presidente, marechal Deodoro da Fonseca, quanto parte do Parlamento eram republicanos. A ideia de República, nascida na França, era baseada na liberdade individual e na responsabilidade moral, fruto de tal liberdade. Ambas são preceitos fundamentais do positivismo, pois — para os teóricos dessa filosofia — eles são valiosos pilares para o progresso.

Contudo, conforme ressalta o professor Sebastião Ponte, o lema comtiano é, originalmente, “Ordem, Progresso e Amor”. “O ‘Amor’ ficou de fora da bandeira brasileira porque podia passar a ideia de um país que não fosse 'forte e impávido colosso', como está no hino”, afirma.

 

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