Permeada por tabus, a masturbação — ou autoerotismo —, é vista por muitos como errada ou prejudicial à saúde. O ato, entretanto, é natural e faz parte do desenvolvimento da sexualidade. E, contanto que seja feita com moderação, sem que se torne uma compulsão, é hábito saudável.
O masturbação é o ato de estimular as regiões genitais do corpo, independentemente do gênero da pessoa, na busca de prazer e excitação. Mesmo sendo atividade comum para pessoas em diferentes faixas etárias, em várias culturas ela é associada a estigmas negativos.
A sexóloga Zenilce Bruno ressalta, porém, que a masturbação é extremamente importante e não faz mal à saúde, assim como “também não faz mal você não se tocar, não é algo obrigatório”. Com isso, ela salienta que é importante aprender os locais e momentos em que é adequado explorar o toque do próprio corpo.
Zenilce acredita que o tabu em torno do autoerotismo tem raízes no pensamento social e religioso, e que, diante disso, a própria individualidade na busca do prazer já é um incômoda em si. Esse agitação viria de uma noção de sexualidade voltada exclusivamente para fins reprodutivos que se consolidou em diferentes culturas e sociedades, embasada por discursos religiosos.
Ela aponta que, para algumas pessoas e instituições, “a genitália parece ser algo que só serve para o coito — ou seja, a relação sexual é que poderia fazer com que a pessoa sentisse prazer ou não. Hoje nós sabemos que muita gente inclusive começa a vida sexual, que não é o coito, mas o desenvolvimento da sexualidade, se tocando, se autoerotizando.”
Ela denota que a própria escolha do termo “autoerotismo”, utilizado entre os sexólogos, ao invés de masturbação, vem de um contexto em que “masturbação” começou a ter uma conotação negativa, já que a palavra estaria associada a “poluir com as mãos”.
Zenilce Bruno explica que, em estudos recentes, o toque do corpo é percebido ainda na fase intrauterina, mesmo que sem a conotação erótica. “Na realidade, esse toque é como se você estivesse tocando qualquer lugar do seu corpo e quando aquele local é prazeroso, acaba passando mais tempo ali”, explica.
Ela conta que pais que percebem seus filhos tocando estas partes do corpo, em geral, se assustam ou se desesperam, e recorrem a castigar as crianças por se tocarem, o que pode ser extremamente prejudicial ao desenvolvimento da sexualidade. Assim, ela recomenda que pais que têm dificuldades de lidar com esses hábitos procurem ajuda para não prejudicar esse desenvolvimento.
Segundo o psiquiatra Fábio Gomes, em geral, o primeiro contato com a sexualidade que o adolescente tem é com seu próprio corpo e, normalmente, de forma autoerótica. “A masturbação faz parte dessa descoberta do corpo desse adolescente, que pode continuar essa masturbação até o final da vida", coloca. Ele explica que esse primeiro contato se dá principalmente na puberdade.
Fábio esclarece, também, que a sexualidade não está somente relacionada aos órgãos sexuais, mas deve ser entendida em um contexto mais amplo de afeto, percepção do próprio corpo e do corpo do outro, assim como as formas de ter e proporcionar prazer. “Eu acho que o futuro nos aponta para uma leitura da sexualidade de uma forma mais livre,” opina o médico.
Zenilce Bruno explica que, na fase conhecida como terceira idade, a frequência da masturbação pode diminuir devido à diminuição dos hormônios responsáveis pelo desejo sexual.
No entanto, a frequência do autoerotismo nessa faixa etária depende dos hábitos de cada um. A sexóloga explica que idosos que costumam passar mais tempo sozinhos ou têm uma vida mais reservada podem ter menos estímulos para a masturbação do que aqueles que assistem a filmes eróticos, vão a festas, conhecem pessoas ou procuram diferentes jogos eróticos.
Apesar de o autoerotismo não ser prejudicial à saúde, é necessário atentar-se para os excessos. Quando a masturbação se torna uma dependência, o indivíduo pode perder a noção do prazer real e, com isso, necessitar de intervenção de um profissional.
Fábio define o transtorno mental como aquilo que causa incômodo ou sofrimento à pessoa, ou seja, “se a masturbação não é feita com o viés prazeroso, mas com o viés de sofrimento, de incômodo, nesse ponto você ultrapassou o limite de uma sexualidade mais saudável.
O médico menciona que, em alguns casos, quando a masturbação é utilizada para descarga da ansiedade, por exemplo, isso pode vir a se tornar uma doença.