É normal que, em momentos de raiva, um palavrão seja a válvula de escape para extravasar o que se sente. Termos de baixo calão fazem parte do vocabulário de grande parte das pessoas e é quase que impossível não soltar um impropério quando a raiva sobe e os nervos afloram. Mas, claro, o normal é ouvir isso de um adulto e não de uma criança.
As crianças têm facilidade de aprender tudo que ouvem, de bom ou de ruim. Assim, quando os pequenos escutam um palavrão que escapa de alguém com quem convivem, aprendem e reproduzem como se fosse natural.
Mas será que crianças e palavrões são uma boa combinação? Existe uma idade certa para falar palavrão? Como lidar com essas situações?
Léo tem 7 anos. Ama futebol e tem o costume de ir aos estádios acompanhar as partidas. Acontece que nas saídas, ele ouve a torcida lançando ofensas de um lado para o outro, assume que é comportamento normal, aprende e começa a reproduzir as falas na escola.
Convidado a se explicar, ele argumenta: “Tia, mas é claro que eu vou falar palavrão, num estádio de futebol são 45 mil pessoas gritando palavrão”.
A psicóloga Nayara Gomes conta que uma palavra, seja ela qual for, quando está inserida na rotina da criança e é proferida por alguém com quem ela tem contato, acaba sendo repetida e gera todo esse processo.
“É nítido que a criança se sentirá bem e, inconscientemente, vai achar que aquela atitude ou palavra é apropriada. Cabe então à família ou responsável legal instruir e auxiliar a criança na compreensão do que é certo e errado perante as crenças do grupo social em que ela está inserida”, explica.
As crianças são como esponjas, elas absorvem as coisas com muita facilidade e acabam aprendendo o que rotineiramente escutam. A psicóloga Jessyka Herbster explica que os palavrões estão diretamente ligados às emoções e, por isso, estão presentes no cotidiano de praticamente todas as pessoas.
“Normalmente é uma linguagem utilizada quando se está com raiva, eufórico, com medo, quando se quer ser engraçado ou ofensivo. E quando verbalizados, (os termos) produzem sensações no corpo e no cérebro”, pontua.
“Não podemos deixar de mencionar que como qualquer linguagem, ela é aprendida e reforçada ao longo da vida, dependendo do ambiente que estamos inseridos e das pessoas com quem convivemos”, ressalta. “O diálogo é a base para a criança formar o pensamento crítico e construir a capacidade de futuramente julgar o que é certo e errado. Nos primeiros anos a criança está construindo sua identidade e futuramente definindo os valores morais”, complementa.
Já Camilla Rocha, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, conta que não adianta proibir ou dizer que é errado, que é necessário entrar em acordo com a criança e tentar diminuir o uso das expressões no dia a dia da criança e substituir os termos.
“Em sala de aula, a professora vai perguntando se é adequado, se é bom, você gosta quando um amigo fala um palavrão com você, se é bom um palavrão. Será que a gente pode falar de outra forma?”, comenta. Na sala de aula, Camila propõe que seja construído um quadro de papel para que alunos escrevam, com auxílio do professor, a forma correta de agir para resolver o problema, naquilo que pode virar um "código de convivência" da turma.
A psicóloga clínica e educacional Jessyka Herbster explica que não existe uma regra para ser permitido falar palavrão. Ela ressalta, porém, que a partir de 4 anos os pequenos costumam ter um repertório verbal mais amplo.
"A criança costuma ter um bom repertório verbal a partir dos 4 anos e pode utilizar o ato de imitar os adultos com quem convive. Dessa forma podem vir a falar palavrões, desde que estejam convivendo com pessoas que já possuem esse hábito no seu repertório verbal”, explicou a psicóloga.