O trágico desaparecimento do Titan, que levava cinco pessoas para o fundo do oceano, prendeu a atenção de milhões de pessoas ao redor do globo. Assim, a exploração oceânica voltou a atrair interesse, fazendo com que o cenário do submersível que implodiu gerasse uma onda de dúvidas.
Inicialmente chamada erroneamente de submarino, a estrutura é, na verdade, um submersível. A diferença entre as duas embarcações vai além das questões estéticas — o modo como são operados, a quantidade de tempo que podem ficar debaixo d'água e as suas finalidades também variam.
A embarcação tinha como objetivo visitar os destroços do transatlântico Titanic — localizados a 3.800 metros de profundidade —, que afundou em 1912 após colidir com um iceberg nas gélidas águas do oceano Atlântico Norte. De acordo com a Ocean Gate, empresa responsável pelo empreendimento, o Titan tinha 6,7 metros de comprimento, pesava cerca de 10 toneladas e era dono de uma reserva de oxigênio de 96 horas.
Após alguns dias de busca, a Guarda Costeira dos Estados Unidos anunciou que o Titan havia implodido, matando todos que estavam a bordo. Dentro da embarcação se encontravam o empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Suleman; o bilionário britânico Hamish Harding; o diretor-executivo da companhia, Stockton Rush; e o pesquisador francês Paul-Henri Nargeolet — especialista no Titanic.
O professor Hamilton Ferreira Gomes de Abreu, vinculado ao Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Universidade Federal do Ceará (UFC), aponta que uma das principais diferenças entre as duas embarcações está relacionada à sua autonomia.
"O submarino tem vida própria, pode sair do porto e navegar sozinho, e consegue se localizar de forma independente. Já o submersível necessita de uma embarcação de apoio para ser lançado (ao mar) e só consegue realizar pequenos movimentos. Ele (o submersível) não consegue se localizar por conta própria e tem que estar em constante contato com uma embarcação de apoio", diferencia.
Outra diferença apontada pelo professor diz respeito ao tempo em que ambos podem operar nas profundezas do mar.
"O submarino pode ficar dias embaixo d' água, no caso de um convencional, ou meses no caso de um (submarino) de propulsão nuclear. Por outro lado, o submersível, muitas vezes, é ligado à nave mãe através de um cabo. Então, o tempo embaixo d'água é curto. É questão de horas", pontua Ferreira.
Normalmente, os submarinos são construídos com o intuito de servirem como um equipamento militar. Segundo a Marinha do Brasil, eles podem ser descritos como "navios de guerra capazes de alterar seu grau de flutuabilidade, podendo assim efetuar patrulhas e ataques submersos na água".
Os submarinos também são resistentes, o que os torna capazes de navegar durante meses sem a necessidade de qualquer contato com a superfície. Para se locomover o veículo submerso, a tripulação destes navios faz uso de cartas náuticas e de sofisticados equipamentos de navegação.
Paralelamente, os submersíveis são normalmente usados para colher e registrar dados relacionados ao oceano com o intuito de servirem para pesquisas científicas — constantemente, eles são operados sem a presença de pessoas em seu interior. Ainda é comum que essas embarcações sejam usadas para turismo, inspeções e até mesmo consertos de equipamentos localizados no fundo do mar.
Outra característica atrelada aos submersíveis é a profundidade que podem atingir. Segundo o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), os mergulhos desses veículos duram, em média, nove horas — para chegar aos 4.500 metros de profundidade, eles demoram cerca de duas horas e meia.
Em 2012, o diretor de cinema James Cameron pilotou um submersível até 10.908 metros de profundidade, no fundo da Depressão Challenger — localizada nas Fossas das Marianas, o ponto mais profundo da Terra. O cineasta tornou-se a primeira pessoa na história a viajar sozinho até o fundo do local. A única outra visita ao local havia sido na década de 1960.
A aventura de Cameron rendeu o documentário “Desafio do Mar Profundo” (2014), em que é narrado o mergulho do diretor até as profundezas do oceano.
- Mar profundo - Conhecida como zona abissal, essa camada é compreendida entre os 4.000 mil metros de profundidade e o fundo do oceano.
- Pressão - Quando se está no nível do mar, a pressão é de, normalmente, 1 atm (atmosfera). No entanto, a cada 10 metros de profundidade, é observado um aumento de pressão em 1 atm. Sendo assim, no Titanic, a 3.800 metros, a pressão é 380 vezes a da superfície. Na Fossa das Marianas, chega a mais de 1.000 atm.
- Escuro - A partir dos 400 metros de profundidade, não é mais possível sentir a ação da luz do Sol — tal camada é chamada de zona afótica.
- Animais abissais - Essas criaturas vivem na extrema profundeza do oceano e são adaptadas para sobreviverem em ecossistemas únicos. Eles têm uma aparência grotesca e possuem uma estrutura corpórea bastante delicada.
- A Fossa das Marianas - Localizado no Oceano Pacífico, o lugar abriga a Depressão Challenger, que tem uma profundidade de, aproximadamente, 11 mil metros. É o local mais profundo dos oceanos.