Inventado na China, por volta do ano 105 D.C, o papel tem muitas funções para além da escrita, sendo parte do dia-a-dia da maior parte das pessoas, seja no ambiente doméstico, trabalho, lazer, ou até no banheiro. Entretanto, o marco histórico quando o material passou a ser usado para fins sanitários é, até hoje, desconhecido, porém estima-se que a prática tenha se iniciado entre os séculos V ou VI. Na época, o material não era amplamente utilizado fora do território chinês.
Mais de 1.400 anos depois, em 2022, a receita gerada somente pelo setor de papel higiênico foi de mais de 16 bilhões de dólares, devendo chegar a 17 bilhões em 2023, segundo dados do Relatório do Mercado Global de Rolo de Papel Higiênico, publicado pela Researches and Markets. Até 2027, o mercado deve chegar a uma receita anual de 21,91 bilhões de dólares.
Ainda de acordo com o Researches and Markets, a região da Ásia e do oceano pacífico é a maior consumidora desse insumo, seguida da América do Norte. Entretanto, mesmo tendo se consolidado como parte do dia-a-dia da população em diferentes partes do mundo, a maior parte das pessoas ainda utiliza o papel higiênico de forma incorreta.
Como explica o diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), Hélio Antônio Silva, a forma como a maior parte dos brasileiros utiliza o papel higiênico não é o recomendado pelos profissionais da área.
O uso do papel higiênico seco para limpar a região anal pode acarretar em coceira ou até mesmo em uma trombose hemorroidária — quando há a ruptura das veias hemorroidárias e a formação de um coágulo dolorido que pode levar de quatro até seis semanas para desaparecer.
Para a higiene correta da região anal, o médico informa que a recomendação dos coloproctologistas é o uso da ducha com água fria após a defecação, seguido de lavagem, de preferência sem sabonete, usando o papel higiênico somente para a secagem após o asseio. O uso do item seco pode provocar irritação na pele, provocando, inclusive, dermatite perianal.
“A gente também fala contra o lencinho umedecido que acaba que aquele sabonete que tem em cima desse lencinho pode ser causa de irritação se usado a longo prazo”, alerta o médico.
Para a região anal, Hélio Antônio explica que “o ideal é usar sabonete uma vez ao dia, em um banho de chuveiro. Para quem tem o hábito de tomar mais de um banho por dia, o ideal é que, nos banhos subsequentes ao primeiro, não use mais sabonete.”
Para a higiene da região genital, segundo a urologista Nathália Gonçalves, o uso do papel higiênico também deve se restringir a enxugar após a micção.
“Nós, como urologistas, recomendamos que seja usado o papel higiênico, para higienização após micção, tanto em mulheres quanto em homens, porque evita que a região fique úmida, que tenha uma alteração de fungos,” orienta a médica.
No caso da higiene da região peniana, a umidade pode facilitar a candidíase — pessoas não circuncidadas são ainda mais propensos. Ela adverte ainda que para aqueles que têm fimose, que não é indicado forçar o tecido do prepúcio para enxugar a urina.
Para a higiene da vagina, a recomendação é parecida. Como explica a ginecologista Karinne Azin, o recomendado é, também, fazer a limpeza apenas com batidinhas, sem esfregar o papel, uma vez que isso pode atritar e machucar, ou deixar restos de papel.
Segundo a médica, a região íntima é um ambiente muito propício para infecções. “O papel vai formar fragmentos, e ali vai ficar fragmentos umedecidos em uma região que é quente, então vai ficar como se fosse um meio propício para que as bactérias se juntem e se acumulem ali, e com isso elas cresçam mais rapidamente gerando infecção vaginal ou urinária,” esclarece.
Além disso, quando usar o papel higiênico, é sempre importante lembrar de não limpar do ânus em direção à vulva. Também não é recomendado limpar a área interna da vagina, uma vez que isso pode alterar o PH da genitália, precipitando infecções.
Em muitos países, a pandemia de Covid-19 motivou um pânico generalizado da falta de papel higiênico em comércios. O fenômeno, puxado pela expectativa de medidas sanitárias que restringiriam o contato social, levou consumidores a esgotarem prateleiras ao redor do mundo e motivou incidentes, desde empurra-empurra a brigas.
Na Austrália, a quantidade de rolos por comprador teve de ser limitada em algumas cadeias de supermercados.
- Diferentes países têm etiquetas distintas sobre o descarte de papel higiênico. Enquanto, em alguns locais, o correto é jogá-lo fora na lixeira, outros têm sistema de esgoto que comporta o descarte no próprio vaso sanitário. Por isso, ao viajar é importante prestar atenção nas sinalizações dispostas nos banheiros.
- Ainda assim, existem critérios para avaliar o melhor descarte. A empresa norte-americana de encanamento Mr. Rooter lista espessura, quantidade de camadas, presença de cloro e durabilidade.
- Apesar de proporcionar maior conforto, o papel higiênico mais espesso, com mais folhas e mais resistente é pior para o encanamento. Já a presença de cloro pode ocasionar um desequilíbrio nas fossas sépticas, matando as bactérias que decompõem os resíduos.