Logo O POVO+
Férias de arraia no céu: o colorido do céu de rabiola e papel
ETC

Férias de arraia no céu: o colorido do céu de rabiola e papel

Saiba a origem das pipas e as orientações para brincar de forma segura
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Pipas são atrativos para a criançada durante o período de férias escolares (Foto: Samuel Setubal/ Especial para O POVO)
Foto: Samuel Setubal/ Especial para O POVO Pipas são atrativos para a criançada durante o período de férias escolares

As brisas de julho marcam a temporada de pipas— ou arraias, como muitos chamam no Ceará — da criançada cearense. Reunidos em praças e locais abertos, meninos e meninas de diversas faixas etárias, lançam os objetos pelos ares, colorindo o céu enquanto aproveitam o mês de férias escolares. O que pouca gente sabe é que apesar de hoje serem usadas para proporcionar momentos de diversão aos pequenos, o brinquedo nem sempre teve esse caráter infantil.

Segundo a professora do curso de Pedagogia do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Edite Colares, as pipas surgiram por volta de 1.200 a.C., na Ásia Antiga. Esses artefatos milenares, outrora foram utilizados como armamento bélico, cuja função era transmitir mensagens para outros grupos militares, bem como amedrontar os inimigos que estivessem em busca de invadir e dominar territórios.

“Ao longo do tempo, ela foi assumindo outras funções e significados, ainda nos países orientais. Em função, principalmente, do seu atrativo de cores, que começaram a ter atribuições de caráter religioso, de sorte, de fertilidade, de vitória. Assim, elas foram assumindo mensagens menos bélicas no decorrer dos anos”, explica Edite.

No Japão, ela começou a ganhar novos formatos, como dragões e figuras de diferentes animais. A docente pontua que as pipas só vieram se tornar, de fato, um brinquedo para as crianças na Europa do século XII.

“A partir desta época, ela começa a ser ofertada às crianças para o lúdico. De forma distinta da sua intenção original. E vai ganhando mais popularidade entre as crianças em diferentes culturas. No Brasil, a gente imagina que ela tenha chegado já com com os portugueses, com os colonizadores”, sustenta.

Segundo ela, embora hoje essas manifestações venham se distanciando do cotidiano infantil, ainda é comum encontrar pipas à venda nas praias durante o período de férias. A docente argumenta ainda que a brincadeira com pipa geralmente é passada de geração em geração, como tantas outras brincadeiras comunitárias, e é muito rica no aprendizado.

“Vale destacar que essas brincadeiras também podem ser usadas para compreensão de vários aspectos da ciência, da matemática, como a própria existência do vento, do ar, que pode ser comprovada com a pipa. Então é possível ser usado para diferentes aprendizagens, além de ensinar sobre a convivência comunitária, lúdica, saudável e solidária, que é tão necessária para as nossas crianças”, diz Edite.

Como a pipa é conhecida pelo Brasil?

Amazonas – Cangula, Guinador, Frade, Curica e Estrela
Ceará – Arraia, Barril, Bolacha, Cângulo, Estrela e Pecapara
Rio de Janeiro – Cafifa, Laçadeira, Estilão, Gaivota, Marimba, Pião, Modelo, Quadrado e Carambola
Maranhão – Jamanta (quando grande) e Curica (quando pequena)
Pernambuco – Camelo e Gamelo
Rio Grande do Norte – Coruja
Minas Gerais – Frecha, Catita, Quadra e Lampião
São Paulo – Rainha, Peixinho, Quadrado, Quadrada, Quadradinha e Índio
Pará – Maranhoto, Curica, Pote, Guinador e Cangula
Rio Grande do Sul – Churrasco, Barrilete, Arco, Estrela, Caixão, Bidê, Bandeja, Navio e Pipa
Santa Catarina – Papagaio e Barrilote

Fonte: Linhas Extra Forte

Acidentes com pipas no Ceará crescem no mês de julho

Geralmente ocasionados devido ao uso de linha chilena (ou seja, com cerol), na qual se utiliza pó de vidro para “envenenar” as rabiolas e cortar as arraias adversárias em torneios, acidentes com pipas podem gerar sérios problemas.

O uso do cerol ou de outros materiais cortantes nas linhas de pipas e outros artefatos é proibido no Ceará pela lei estadual nº 17.226, publicada no dia 12 de junho de 2020. A legislação proíbe a fabricação artesanal, a comercialização e o depósito de linhas cortantes para uso em atividades recreativas ou com finalidade publicitária. E prevê a apreensão dos materiais de quem descumprir a lei.

De janeiro a junho deste ano, a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) registrou 68 ocorrências envolvendo linha com cerol no Ceará, 57 delas somente no mês de junho. No primeiro semestre de 2022 , esse número foi de 61 ocorrências (40 em junho). Os dados são da Superintendência de Pesquisa e Estratégias de Segurança Pública (Supesp), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS/CE).

Além das ocorrências policiais envolvendo a periculosidade das arraias com cerol, um levantamento feito pela Enel Distribuição Ceará, no período de janeiro a dezembro de 2022, apontam um aumento na quantidade de registros de interrupções de energia entre julho, agosto e setembro, devido a brincadeira, período que corresponde às férias e aos ventos fortes. Cerca de 70% das ocorrências foram registradas nesse trimestre do ano.

Em 2022, foram registradas cerca de 411 ocorrências por conta da brincadeira com pipas. A partir desses registros, a distribuidora contabilizou que 203.107 unidades consumidoras (clientes) tiveram o fornecimento de energia afetado devido às pipas. Já neste ano, conforme dados apurados pela Enel até o dia 10 de julho, foram registradas 27 ocorrências, afetando 4.112 unidades consumidoras. Entre os bairros mais afetados em Fortaleza, estão: Bom Sucesso; Bom Jardim; Pici; e Mondubim.

Dicas de segurança

As interrupções de energia geram grandes transtornos aos clientes, impactando atividades comerciais e o dia a dia das pessoas. A afetação no fornecimento de energia pode trazer ainda um alto risco de choque elétrico, podendo colocar a população em perigo e até causar acidentes graves ou fatais.

Além das campanhas, é também necessário que os pais orientem as crianças e os adolescentes sobre os cuidados necessários para que a brincadeira possa acontecer de forma segura e saudável. Para tanto, o responsável de Operação da Enel Ceará, Francisco Queiroz, repassa algumas orientações para evitar acidentes com a fiação elétrica:

• Soltar pipas perto da rede elétrica é extremamente perigoso, sob risco de a linha ou a pipa enroscarem nos fios, ocasionando descarga elétrica. O mais indicado é empinar pipas em espaços abertos e afastados de fiações, como parques e campos de futebol;

• Caso a pipa se enrosque na rede, postes ou antenas, os praticantes não devem arremessar objetos nos fios e, principalmente, não devem tentar resgatá-la. Somente técnicos da distribuidora, treinados para este trabalho — que exige o uso de equipamentos de segurança —, estão aptos a manusear a rede;

• Materiais metálicos, como o alumínio, não devem ser usados na fabricação da pipa, pois conduzem eletricidade, aumentando a chance de choque elétrico, com risco de morte;

• Evite a utilização de "rabiolas", pois elas agarram nos fios elétricos, desligando o sistema e provocando choques, muitas vezes fatais;

• Não é indicado soltar pipas na chuva. Ela funciona como para-raios, conduzindo energia e podendo provocar acidentes fatais;

• O uso de cerol, além de proibido, aumenta o risco da atividade: ele corta os fios de alumínio ou de cobre, o que pode levar a choques por rompimentos de cabos;

• O uso da chamada linha chilena, que possui poder de corte quatro vezes maior que o cerol tradicionalmente usado nas pipas, tem agravado a situação. O risco de acidentes fatais é alto para pedestres e motociclistas e os danos à rede elétrica também são maiores;

• É aconselhável ter sempre um adulto responsável acompanhando as crianças no momento da brincadeira;

• Em casos de cabos partidos, os clientes devem manter-se afastados e avisar imediatamente à distribuidora pela Central de Atendimento (0800 285 0196), ou pelos perfis nas redes sociais Facebook (www.facebook.com/EnelClientesBR) e Twitter (@EnelClientesBR).

Como fazer uma arraia simples em casa

A professora Edite conta que as pipas artesanais costumam ser feitas com papel de seda, palitos de madeira e barbantes. Ao longo dos anos, ela ganhou um caráter mais industrial, sendo feita de forma mais elaborada e com materiais mais sofisticados. Mas, ainda assim, existem maneiras de produzir uma arraia em casa.

“Para confecção destas arraias ou pipas, como a gente queira chamar, é preciso que um adulto esteja ali ensinando, porque ela precisa de princípios matemáticos, de simetria, de lateralidade, que garantam que ela terá equilíbrio”, destaca.

O que vai precisar?

Linha;

Fita adesiva;

Lápis;

Tesoura;

Saco plástico ou folha de seda;

Modo de fazer

1 - Comece cortando as varetas de bambu
2 - Cole as varetas
3 - Enrole um pedaço de barbante no local onde as varetas ficam juntas
4 - Realize um pequeno corte perto das pontas das varetas
5 - Pegue mais um pedaço de barbante e enrole próximo do corte feito (lembre de esticar bem o fio)
6 - Repita todos os passos até obter o recorte origem;
7 - Corte o plástico seguindo o contorno;
8 - Posicione bem a estrutura da sua pipa;
9 - Faça um furo pequeno bem no centro do plástico;
10 - Fixe a vareta central usando o barbante;
11 - Prenda a outra ponta do barbante bem na extremidade inferior da pipa;
12 - Coloque a rabiola

O que você achou desse conteúdo?