É provável que em alguma conversa você ouviu ou falou um ditado popular sem perceber. Frases de efeito que são passadas de uma geração para a outra constroem a característica de uma região ou estado, como no caso do Ceará, onde esses ditos são usados para exemplificar situações cotidianas.
A plataforma educacional Preply realizou uma pesquisa que mostra quais são os principais ditados populares e quais são mais usados pelos cearenses.
Os ditos populares ajudam a escrever histórias e moldar memórias pois, em grande parte das vezes, são usados como conselhos e advertências. O professor Vicente Martins, do curso de Letras da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), explica que essas frases são ricas em imagens ou metáforas.
“Elas sintetizam um conceito a respeito da realidade social ou, na maioria das vezes, sugerem um valor moral que ressalte a visão de mundo de uma classe social, seja dominante ou que não detenha o poder”, explica o professor de Linguística.
Os ditados não têm uma origem nem uma motivação para a sua criação. “De forma mais simples, é o uso ou emprego efetivo da língua que consagra ou fixa um ditado popular ou qualquer outra forma unidade fraseológica. Por isso, dizemos que são os ditados, heranças e tradições culturais de uma nação”, pontua o professor Vicente.
A pesquisa foi desenvolvida pela plataforma educacional ucraniana chamada Preply, mil brasileiros conectados participaram das entrevistadas, entre os dias 16 a 23 de agosto de 2023, e compartilharam os inúmeros ditados populares usados no Ceará. A pesquisa pode ser acessada pelo site da plataforma Preply.
Para que os resultados fossem alcançados, os usuários responderam três perguntas que englobam os ditos mais falados, as expressões aprendidas da forma errada e quais os ditados populares mais usados. A pesquisa tem confiabilidade de 95%, com a margem de erro de 3,3 pontos percentuais.
No Estado, os dois mais usados segundo a pesquisa foram: “Casa de ferreiro, espeto de pau” e “a mentira tem perna curta”. Outro ditado muito citado pelos entrevistados cearenses foi “a curiosidade matou o gato”.
Casa de ferreiro, espeto de pau —-- 55.8%,
A mentira tem perna curta —-- 55.8%
A curiosidade matou o gato —- 53.4%
A esperança é a última que morre —- 51.1%
Para um bom entendedor, meia palavra basta — 51.1%
Mais vale um pássaro na mão do que dois voando — 48.8%
Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura — 48.8%
Deus ajuda quem cedo madruga — 48.8 %
Pimenta nos olhos dos outros é refresco — 48.8%
Quem não tem cão, caça com gato —- 46.5 %
O barato sai caro — 65.4%
A mentira tem perna curta —- 64.3 %
A esperança é a última que morre —- 61%
Antes tarde do que nunca — 59.8%
Quem não tem cão, caça com gato — 59.2%
O que os olhos não veem, o coração não sente — 57.5%
Para um bom entendedor, meia palavra basta — 57.4%
A pressa é inimiga da perfeição — 56.9%
Quem ri por último, ri melhor —- 56.9%
De grão em grão a galinha enche o papo — 56.7%
Como popularmente se fala |
A forma correta de se falar |
Quem não tem cão, caça com gato | Quem não tem cão, caça como gato |
Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão | Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão |
Enfiou o pé na jaca | Enfiou o pé no jacá |
Hoje é domingo, pé de cachimbo | Hoje é domingo, pede cachimbo |
Cor de burro quando foge | Corro de burro, quando foge |
Fonte: Pesquisa "Os ditados populares favoritos dos brasileiros", agosto de 2023.
Se você já se perguntou se os ditados populares são heranças culturais, a resposta é sim. De acordo com a Antropologia Cultural e Linguística, pode-se dizer que os ditados populares são referências culturais ou culturemas e, por isso, não têm tradução de uma língua para a outra.
O professor Vicente Martins cita como exemplo o famoso “botar boneco”, que significa “dar chilique”.
“Imaginemos a dificuldade que um tradutor terá ao tentar traduzir a expressão 'botar boneco' com o mesmo sentido idiomático para o francês (mettre la poupée), inglês (put doll) ou espanhol, que é uma língua muito parecida com o português (poner muñeca)”, exemplifica.
Segundo ele, pelo fato de nenhuma das traduções automáticas conseguirem expressar o que o ditado significa, o “botar boneco” é uma expressão típica do Nordeste do Brasil.