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A arte de se transformar em uma Rainha
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A arte de se transformar em uma Rainha

| DRAG QUEEN | A arte drag borra as linhas de gênero com maquiagem, figurino, perucas e performance
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Conheça mais da história da arte drag, como ela se popularizou e a sua importância  (Foto: Reprodução/ Freepik)
Foto: Reprodução/ Freepik Conheça mais da história da arte drag, como ela se popularizou e a sua importância

Com roupas deslumbrantes, maquiagens fortes e muito, muito brilho, drag queens não passam despercebidas por exalarem elegância, beleza e talento. A arte drag ganha o mundo, e, com mérito, duas brasileiras estão entre as mais seguidas nas redes sociais: Pabllo Vittar (seguida por 12,4 milhões no Instagram) e Gloria Groove (com cinco milhões de seguidores). Para se ter uma ideia da relevância dessas queens, RuPaul, criadora da franquia Drag Race, soma 4,9 milhões de followers.

Drag é uma expressão artística em suas várias vertentes, seja queen, king, queer, eco, dentre tantas outras. Não existe ao certo uma origem para o termo drag, mas existem teorias de onde ele pode ter vindo.

Alguns sites históricos dizem que o termo drag remete aos vestidos pesados que eram usados pelos homens que queriam exagerar em suas expressões de feminilidade, e por isso eles eram arrastados ou, em inglês, “the dresses were dragged” .

Já o doutorando em artes pela Universidade Federal do Pará (UFP), Juliano Bentes, conta ainda que o termo vem de “dressed as a girl”, ou no português "vestido como uma menina". Isso por que diz-se que Shakespeare indicava em seus textos a sigla DRAG para papéis femininos no período elizabetano, que se caracteriza por ser um tempo em que as mulheres não podiam atuar no teatro de maneira formal.

“Daí surge a lenda mais famosa dos primórdios da palavra drag sendo utilizada de fato num contexto semelhante, ainda que não igual ao que é expresso nessa vertente artística”, comenta.

Bentes explica ainda que existem muitas versões sobre a origem da arte, mas a montação em si está presente desde os tempos imemoriais em rituais e celebrações. “A história dessa arte se atravessa muito com a história do teatro em termos europeus e em outros contextos também atravessa outras manifestações como a dança, a música e as outras manifestações menos colonizadas, como o Noh, Kabuki, Topeng, Kathakali, dentre várias e várias outras”, explica.

A cearense Mulher Barbada pontua que drag é uma forma de arte que borra as linhas do gênero e utiliza artifícios para isso – maquiagem, figurino e perucas. “Uma drag queen pode fazer muitas coisas: cantar, dançar, apresentar, stand up, burlesco, circo. O que faz a drag queen ser considerada como tal é a sua capacidade de brincar com o gênero nesse processo. Seja uma homem ou mulher, cis ou trans”, ressalta.

Muito se usou o termo transformista ou ator transformista, que era o termo usado entre os anos 1990 e os anos 2000 para artistas que se vestiam como mulheres.

“Com o tempo e a popularização da arte drag, a gente enquanto comunidade percebeu que esse era um termo datado, que estava relacionado com uma forma muito específica de fazer drag. Hoje, apesar de não ser ofensivo, o termo transformista não é mais comumente usado”, conta.

Ela completa sua fala com a icônica frase de RuPaul: "A gente nasce nu, o resto é drag".

O Brasil de Rogéria, de Vittar, de Groove

É provável que você já tenha ouvido falar em alguns nomes muito importantes do cenário da arte drag no Brasil. O País tem nomes gigantes na expressão artística, e não é à toa que entre as drag queens mais conhecidas no mundo estão Pabllo Vittar e Gloria Groove.

Juliano Bentes explica que no Brasil não existiu um momento de retomada, porque além de poucos serem os registros, o fenômeno de montação em terras latinas tem o nome de "transformismo". Em parte, é igual e ao mesmo tempo distinto da cena drag que veio de fora para cá.

“Temos diversos exemplos de montação antigos, principalmente nas construções teatrais, mas ousaria chutar que o primeiro grande ícone da cena da montação que atingiu uma escala de fama exercendo a função no Brasil foi Madame Satã, no final dos anos 1920”, expõe.

Além de Madame Satã, nomes como Darwins, Ivaná, Welluma Brown, Rogéria, Elke Maravilha e Dzi Croquettes ganharam notoriedade — principalmente na época do Teatro de Revista.

Ao falar de Rogéria, Bentes cita que a musa foi muito importante para o transformismo no Brasil. “Ela abriu muitas portas para profissionais e sendo uma grande profissional mostrou muitas vezes a qualidade do trabalho de pessoas LGBTQIA+ em épocas que o preconceito era muito mais escancarado, como ela mesma se referia sobre si, era a travesti da família brasileira, muita gente gostava dela, invadiu muitos espaços”, completa.

Atualmente, algumas drag queens famosas no cenário artístico são Marcia Pantera, Organzza, Deydianne Piaf, Rita von Hunty, Bianca Della Fancy e Betina Polaroid.

Da Divine ao Drag Bruch, a arte drag no Ceará se reinventa

No Ceará, a arte drag chega no fim dos anos 1980 com a caricata Romeirinha Escrachada, que era a única que se vestia de forma espalhafatosamente grande, mas não era chamada de drag queen.

Lena Oxa, conhecida como caçadora de mistérios e apresentadora do famoso reality show “Glitter: em busca de um sonho”, no programa "Ênio Carlos na TV Diário", relata que em Fortaleza as caricatas se transformaram nas drag queens.

“Existia o movimento caricato que eram os humoristas que se vestiam grotescamente. Mas aqui as caricatas se transformam em drag de uma forma muito lenta, que elas nem percebem. E essas novas nomenclaturas surgiram nos anos 1990, e a Romeirinha já trabalhava fazendo propagandas”, conta.

Segundo Lena, na época em que trabalhou na boate Divine ela realizou o concurso “Top Drag”, quando aproximadamente 200 drag queens se lançaram. “Eu posso dizer que eu fui a precursora do movimento drag queen na virada do milênio, porque graças a esse concurso muitas drags conseguiram se libertar”, pontua.

A Mulher Barbada, que foi integrante do saudoso grupo As Travestidas, diz que atualmente a arte vem tomando o fôlego que havia se perdido com o fim da Divine. Para ela, em Fortaleza a cena drag nunca morreu, mas deu uma recuada.

“Com as complicações da pandemia essa cena se fragilizou muito. Mas hoje eu sinto que as coisas vêm melhorando. Nós temos visto cada vez mais a presença de drags nos eventos da Cidade, em mais festas, criando seus próprios eventos como o 'Drag Brunch Ceará'”, conta.

Ela reforça que ainda falta valorização da "noite", e isso atrapalha muito o desenvolvimento dessa arte que é tão própria e tão importante pra comunidade LGBTQIAP+.

Reality Shows de drags pelo Brasil e pelo mundo

RuPauls Drag Race (apresentado por RuPaul)
Onde assistir: WOW Presents Plus

Drag Race Brasil ( apresentado por Grag Queen)
Onde assistir: WOW Presents Plus

Academia de Drags (apresentado por Silvetty Montilla)
Onde assistir: Youtube

Caravana das Drags (apresentado por Xuxa Meneghel)
Onde assistir: Prime Video

Queen Stars Brasil (apresentado por Pabllo Vittar e Luiza Sonza)
Onde assistir: HBO Max

We're Here (apresentado por Shangela, Bob the Drag Queen e mais)
Onde assistir: HBO Max

Drag me as a Queen (apresentado por Rita von Hunty, Ikaro Kadoshi e Penelopy Jean)
Onde assistir: Canal E!

Dinastia Drag (apresentado por Tristan Soledade)
Onde assistir: Youtube

Nasce uma Rainha (apresentado por Alexia Twister e Gloria Groove)
Onde assistir: Netflix

Fadas Dragníficas (apresentado por Alexis Michelle, Bebe Zahara, Benet, Jujubee e Thorgy Thor)
Onde assistir: Discovery + e Prime Video

6 dicas de Reality Shows

RuPaul's Drag Race
(apresentado por RuPaul)

Onde assistir: WOW Presents Plus

Drag Race Brasil
(apresentado por Grag Queen)

Onde assistir: WOW Presents Plus

Caravana das Drags (apresentado
por Xuxa Meneghel e Ikaro Kadoshi)

Onde assistir: Prime Video

Academia de Drags
(apresentado por Silvetty Montilla)

Onde assistir: Youtube

Dinastia Drag (apresentado
por Tristan Soledade e S1mone)

Onde assistir: Youtube

We're Here (apresentado por Shangela, Eureka, Bob the Drag Queen e mais)

Onde assistir: HBO Max

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