O bebê o chama de "au au", o homem o chama de melhor amigo, companheiro ou qualquer adjetivo que retrate a lealdade que tem um cão para com o ser humano.
Mas, assim como os seres humanos, os animais também podem apresentar picos de estresse e, consequentemente, um comportamento mais agressivo, podendo apresentar perigo para a convivência com tutores e com o restante da sociedade.
Exemplos recentes são o ataque de três cachorros pitbull contra a escritora Roseana Murray - que precisou amputar o braço direito e uma orelha - no Rio de Janeiro, e o caso do rapaz que, em meio a um ataque de epilepsia, foi morto por um cachorro da mesma raça.
E, por este e por outros motivos, algumas raças podem sofrer algumas restrições e até mesmo serem proibidas de serem criadas em alguns países. Para explicar melhor como isso acontece, O POVO conversou com médicos veterinários.
Um ponto central é que a natureza encara a agressividade como um mecanismo de defesa. Se algo não vai bem ou gera medo, a tendência — inicialmente — é demonstrar desconforto. Uma atitude errada de um humano pode desencadear um comportamento mais violento no cão.
É o que aponta o professor do curso de medicina veterinária da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Breno Pinheiro. "Isso é normal para várias espécies, inclusive cães", explica." O cão, quando fica desconfortável, normalmente retrai o rabo, recolhe mais o corpo, pode expor a barriga, tende a fazer o licking - um movimento de lambedura do focinho - para tentar mostrar que está estressado e apaziguar o ambiente".
Se por ventura as primeiras demonstrações não forem suficientes, o animal passa a mostrar os dentes — um instinto característico dos cachorros — e depois disso, ele parte para a agressividade.
O comportamento agressivo de cachorros podem ser resultado de muitos fatores. Genética, socialização inadequada, experiências traumáticas, dor, medo e falta de treinamento são algumas das razões citadas pelo veterinário Daniel Viana, presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-CE).
"Embora a agressão possa ser influenciada pela genética da raça, é importante entender que o comportamento agressivo não é uma característica inerente a todas as raças de cães, e muitos cães de raças consideradas agressivas podem ser amigáveis e bem comportados com uma socialização adequada e treinamento adequado", aponta.
Breno Pinheiro complementa que, caso o animal não tenha ajuda para conseguir superar o seu medo, ele passa a carregar traumas, não aprende a demonstrar sinais de temor e acaba optando pela agressão.
"Uma forma de evitarmos esse tipo de situação é procurar informação sobre comportamento animal, principalmente sobre o seu pet. E caso o animal apresente sinais de trauma, agressividade, esse animal deve ser encaminhado a um adestrador", explica.
Caso o adestramento não funcione, Pinheiro informa que é necessário que o animal seja encaminhado para um médico veterinário comportamentalista - como um psiquiatra pet - que pode prescrever (se necessário) fármacos que vão auxiliar a evitar esse tipo de situação.
Existem muitos fatores que podem levar à proibição de raças de cães em países ou regiões. Alguns destes são relacionados a preocupações com a segurança pública, histórico de ataques, características físicas específicas da raça, além de preocupações com o bem-estar animal.
"A legislação que regulamenta isso pode variar de acordo com o país ou região", esclarece Daniel Viana. "Geralmente envolve leis de controle de animais ou legislação específica sobre cães potencialmente perigosos. No Brasil, a proibição de raças de cães é definida por legislação municipal, ou seja, cada município pode ter suas próprias regras quanto a isso".
Nos casos de raças de histórico de agressividade, como os pitbulls, existe a recomendação do uso de focinheiras, guia curta de condução e enforcadores. Viana cita ainda que a legislação exige o uso como medida de segurança pública.
"No Brasil, a focinheira é o dispositivo de controle permitido. No entanto, o uso desses dispositivos deve ser acompanhado de treinamento adequado e não deve ser a única medida adotada para lidar com o comportamento agressivo".
Ele alertou ainda que o uso inadequado ou excessivo desses dispositivos pode causar estresse e desconforto ao animal, portanto, é necessário que o uso do acessório tenha cuidados, além da orientação de um veterinário qualificado.
1. Pit Bull
2. American Staffordshire Terrier
3. Fila Brasileiro
4. Dogo Argentino
5. Wolfdog
Fonte: Daniel Viana, presidente do CRMV-CE
Algumas raças de cachorro com restrições ou proibições em municípios brasileiros
Pit Bull
American Staffordshire Terrier
Fila Brasileiro
Dogo Argentino
Wolfdog
Fonte: Daniel Viana, presidente do CRMV-CE