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Raquel Viana, preparadora física do time feminino do Ceará: "Quero quebrar paradigmas no futebol"
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Raquel Viana, preparadora física do time feminino do Ceará: "Quero quebrar paradigmas no futebol"

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Raquel Viana (Foto: Pedro Chaves / Federação Cearense de Futebol)
Foto: Pedro Chaves / Federação Cearense de Futebol Raquel Viana

Vendo seus familiares jogando bola na rua. Foi assim que a preparadora física da equipe de futebol feminino do Ceará, Raquel Ferreira Viana, teve seu primeiro contato com o futebol. Aos 13 anos, porém, era momento de evoluir. Destemida, a garota saiu de Aquiraz e deu seus primeiros toques com a bola no pé em solo fortalezense. Foi atleta com convocações para Seleção sub-17 e em 2014 entrou no curso de Educação Física. A busca por capacitação teve como caminho o treinamento esportivo com especialidade em diversas áreas do futebol. Em entrevista ao O POVO, Raquel, que participou de um curso da Inter de Mião - IT e foi a única mulher numa recente turma de Licença B a CBF, concedida para treinadores de categorias de base, conta sobre a preparação e os desafios contra o machismo para se tornar uma técnica de futebol profissional no Brasil.

O Povo: Como foi seu primeiro contato com futebol?

Raquel: Ainda criança meus tios jogavam bola onde morávamos, no Aquiraz, e eu sempre acompanhava, pois sempre gostei do esporte. Meu primeiro contato foi na rua, com futebol de rua. Depois eu procurei uma escola de futebol em Fortaleza e foi daí que eu comecei a treinar em um projeto social que tinha. Cheguei na capital aos 13 anos.

OP: O que fez despertar em você interesse pelo mundo da comissão técnica e o que lhe levou a fazer o curso da CBF para técnicos?

R: Eu fui atleta profissional, joguei em alguns clubes do Estado, inclusive no Ceará. Já fui convocada para a Seleção Brasileiro sub-17 e uma pré-convocação pro sub-20, depois fiz faculdade e me graduei em Educação Física. Foi o que me despertou o interesse de participar não mais dentro de campo, mas agora fora dele, na comissão técnica. Sou também analista de desempenho, fiz um curso do Ricardo Pombo, analista da Seleção Brasileira Feminina. O diretor das categorias de base do Ceará, Eduardo Arruda, sempre me deu apoio, me incentivou a fazer esse curso e disse que era de grande valia.

OP: Como foi participar do curso de técnicos da CBF sendo a única mulher da turma?

R: Eu fui a única do estado a participar do curso. Na turma toda eram 39 homens e 1 mulher. Em uma entrevista que eu dei na ocasião deixei um conselho para que mulheres pretendem trabalhar com futebol feminino: que elas se capacitem, que não seja uma coisa incomum uma mulher nesse meio. Hoje a sociedade ainda vê como uma coisa incomum, mas precisamos buscar mais isso. É imprescindível para alavancar a modalidade.

OP: Como é ser mulher em uma espaço em que muitos julgam ser “para homem”?

R: É complicado, né?! Na verdade, ainda não é comum a mulher nesse espaço e o esporte feminino também me interessa muito e eu sinto a carência de mais mulheres na comissão, com competência para desenvolver um bom trabalho. No caso do futebol feminino, existem muitas pessoas, até mesmo homens, que não entendem as peculiaridades que tem a mulher. São mundos diferentes, formas diferentes de tratamento, fisiologia diferente. Em relação ao apoio, é bem complicado porque a gente ainda vive em um país culturalmente machista. Já ouvi muito que mulher não é para estar no meio do futebol, que mulher não sabe, principalmente, treinar uma equipe, não tem competência para trabalhar com futebol. Eu espero quebrar paradigmas, esses preconceitos, e espero saltar esses obstáculos com meu esforço, me capacitando. Ouvi alguém falar recentemente que mulher não serve na preparação física, então é complicado. Mas não dou muito ouvidos para isso, pois desde muito nova tenho personalidade. Aquilo que eu quero, eu busco e vou atrás, independente do que as pessoas falem. Existem pessoas com a mente fechada, machista. Para elas, somente homem sabe trabalhar com esporte, mas pra mim esse pensamento é surreal.

OP: Você tem pretensão de trabalhar com futebol feminino ou também com times masculinos?

R: Eu gosto do ambiente do futebol feminino, mas não descarto a possibilidade de aprender também no futebol masculino. São dois mundos bem diferentes, mas eu pretendo sim, se surgir uma oportunidade, aprender e conhecer como é o dia-a-dia do esporte masculino. Minha vivência foi mais dentro do futebol feminino, como atleta e parte da comissão, mas pretendo sim ainda galgar no futebol masculino e se possível, dar uma alavancada no futebol feminino pois acho que isso se faz necessário.

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