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Henrique Araújo: Bolsonaro e a "boiada"
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Henrique Araújo: Bolsonaro e a "boiada"

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MINISTRO Abraham Weintraub deve deixar o governo Bolsonaro (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil MINISTRO Abraham Weintraub deve deixar o governo Bolsonaro

Daquela já famosa reunião de governo em 22 de abril na qual muito se revelou do espírito do presidente, consagrou-se a expressão "passar a boiada". Foi proferida por um ministro, ele próprio a representação do que pretendia dizer: aproveitar o momento (estado de emergência na saúde pública) para fazer aprovar aquilo que, em condições normais, não seria possível, seja porque a gestão é inepta, seja porque se trata de matéria cuja finalidade é desmantelar o conjunto de regras que protegem o meio ambiente.

Sem querer, no entanto, Ricardo Salles, o tal ministro, acabou por oferecer a senha para o que se tramava ali. De fato, todas as ações do Planalto, antes, durante e depois daquele encontro, se explicam segundo a máxima da boiada que passa enquanto as atenções se voltam para outro ponto.

Foi o que tentou Jair Bolsonaro novamente, ao editar uma medida provisória que facultava a Abraham Weintraub (Educação) a escolha de reitores de universidades federais na vigência do decreto de emergência, ou seja, até pelo menos dezembro.

Em estimativas de entidades educacionais, duas dezenas de docentes, a cargo de quem estariam as instituições, não passariam por consulta, tampouco votação. Seriam livremente indicados pelo ministro para quem o ensino superior é sinônimo de balbúrdia e que, naquele mesmo ajuntamento de aloprados de 22/4, sugeriu a prisão de governadores e prefeitos.

Os planos de Bolsonaro, todavia, foram frustrados e a MP, enterrada horas após o Congresso devolvê-la como documento imprestável porque em desacordo com a Constituição.

Do episódio, extrai-se o seguinte: sabidamente isolado e acossado por investigações no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral, o presidente lançará mão de expedientes que façam parecer que ele é tolhido por outros poderes - quando, no fundo, mostra-se tão somente incapaz de entender o sistema de freios e contrapesos, espinha dorsal do funcionamento das instituições na República.

 

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