Não foram dias fáceis para o presidente Jair Bolsonaro, que precisou lidar com o cerco aos filhos, a demissão de um ministro trapalhão e o reaparecimento de um fantasma sobre cujo paradeiro todos se perguntavam. Entre uma coisa e outra, a Polícia Federal prendeu apoiadores e fez devassa na conta de deputados aliados. Não bastasse, o Supremo votou pela constitucionalidade do inquérito das fake news, mantendo Abraham Weintraub entre os seus alvos. E, para encerrar, o Governo foi flagrado numa operação para facilitar a escapada do auxiliar investigado, que chegou aos Estados Unidos na manhã de ontem ainda formalmente à frente do MEC e, portanto, munido de passaporte diplomático - sua exoneração só seria publicada horas após o desembarque em Miami, numa fuga não somente imoral, mas também cafona. Contrariando a máxima consagrada por Tiririca de que pior do que está não fica, a barra de Bolsonaro deve pesar ainda mais nas próximas semanas, quando Fabrício Queiroz entender que foi largado às traças e sua família começar a dar com a língua nos dentes, fazendo chegar às autoridades o nome do pivô de todo o esquema da "rachadinha". Ora, não é segredo que o Ministério Público do RJ e a torcida do Flamengo suspeitam que o hoje senador Flávio Bolsonaro era o ponto-final desse fio que liga Queiroz, Adriano da Nóbrega (miliciano morto em ação policial), o advogado Fred Wassef e o golpe financeiro na Assembleia Legislativa (Alerj). É questão de tempo até que se chegue ao "01", mas, depois da queda inevitável do parlamentar, quem será o próximo? Esse é o temor de Bolsonaro: o de que os elos dessa cadeia se estreitem, formando a imagem não do filho, mas do pai. Embora não possa ser apeado por eventual crime cometido fora do mandato, o presidente sabe que a investigação da rachadinha pode minar sua base eleitoral, anular o apoio dos militares e dobrar o preço da fatura do centrão, que funciona mais ou menos como o da Uber: é uma tarifa dinâmica, que sobe e desce segundo a demanda, neste momento altíssima. A tudo isso, como o chefe do Executivo irá responder? Se dobrar a aposta, arrisca passar o assento ao vice sorridente e expedito. Se recuar, terá se rendido aos fisiológicos, resignando-se a tocar um governo apenas decorativo, como foi o de Michel Temer.