"Peço a Deus que meu filho não encontre uma mulher que nem você." "É seu ganha pão, a desgraça dos outros. Manipular essa história de virgem." Essas foram algumas falas que a influenciadora Mariana Ferrer ouviu de Cláudio Gastão da Rosa Filho na audiência cuja gravação tornou-se pública na última semana. Nela, o jurista defendia o empresário André Aranha da acusação de estupro, mostrou fotos da jovem e falou em "posições ginecológicas".
Usando o caso como gancho, o jornalista Rodrigo Constantino falou em uma live sobre supostas "banalização do conceito de estupro" e "destruição do conceito de responsabilidade individual". Ele aponta que não há estupro quando a mulher escolhe beber e em seguida consente o ato sexual. Para ele, é "um ato indecente" aproveitar-se de uma mulher que "relaxou seus freios morais". "Acho um sujeito nojento. Agora, estuprador? Há controvérsias, para dizer o mínimo", disse. Após pressão nas redes sociais, Constantino foi demitido de veículos onde trabalhava.
A conduta do advogado e a opinião do jornalista ilustram motivos para o silêncio de tantas vítimas: o medo de serem humilhadas, desacreditadas e revitimizadas. A violência sexual não é cometida apenas por estranhos em ruas escuras, e não é tolerável que fotos em redes sociais, aparência ou vida sexual virem argumentos para julgar a mulher que decide falar sobre a violência sofrida. Nos cobram denúncia rápida após um crime dessa natureza, mas a sociedade, em geral, se volta contra quem cria coragem de fazê-la.