Piloto de caça da Força Aérea Brasileira (FAB), João de Barro Monteiro Cavalcanti, 33, foi diplomado engenheiro aeronáutico com média 9,81, a maior da história do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Nascido em Pernambuco, Cavalcanti chegou no Ceará aos 4 anos, onde recebeu toda a educação básica.
Hoje, o capitão aviador está designado para o projeto estratégico de propulsão hipersônica da FAB. Em conversa com O POVO, Cavalcanti fala do percurso até alcançar Summa Cum Laude do ITA, honraria às melhores médias gerais, na turma de 2020. Além disso, o piloto conta dos planos de mentoria e tutoria para alunos de escola pública e de baixa renda que queiram prestar concursos.
O POVO - Como é ser considerado o melhor aluno da história do ITA?
João Cavalcanti- Vejo como uma responsabilidade bastante atrelada ao exemplo de conduta e que pode ser usada para ajudar outros jovens na busca pelo sucesso na educação. No entanto, de forma bastante sincera, costumo afirmar que no ITA eu conheci algumas das pessoas mais fantásticas nos meus 17 anos de Força Aérea Brasileira. Logo, me vejo muito mais próximo de alguém que se dedicou bastante e atingiu uma marca expressiva (maior média geral final) do que de alguém que pode ser chamado de melhor aluno do ITA. Preciso trabalhar ainda bastante pelo nosso país para um dia me considerar o melhor aluno do ITA. Isto é, ainda quero contribuir muito para o desenvolvimento aeroespacial do nosso país. Feito isso, talvez eu me considere um dos melhores alunos do ITA.
OP -Como foi o teu percurso acadêmico para chegar a tal feito?
Cavalcanti - Eu sempre quis ser piloto de caça e engenheiro aeronáutico, o que de certa maneira exigiu não apenas estudo, mas também bastante paciência e resiliência. Inicialmente, ingressei na Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica (EPCAR) em 2004, após completar o ensino médio nessa instituição, consegui adentrar na Academia da Força Aérea (AFA) em 2007, onde, em termos de rotina diária, passei quatro intensos e difíceis anos submetendo-me aos diversos treinamentos militares do Curso de Formação de Oficiais Aviadores (CFOAv). Em 2011, fui designado para aviação de caça, na qual exerci funções administrativas e operacionais até 2015, quando decidi prestar o concurso do ITA (militares da FAB prestam o vestibular de forma interna, da mesma forma que os candidatos civis, com a diferença de que há vagas reservadas para nós), dos 12 oficiais que tentaram, 4 passaram. O motivo disso tudo foi para afirmar que eu tive um longo processo de desenvolvimento moral e psicológico responsáveis pelo meu sucesso acadêmico no ITA, o qual foi marcado por diversas noites com pouquíssimas horas de sono, paciência e disciplina para estudar, mesmo quando o corpo estava cansado. Ou seja, relembrando todos esses cinco anos de ITA, eu percebi que as boas notas e bom desempenho geral foram produtos de muito trabalho, paciência, resiliência, disciplina, vontade de vencer e, sobretudo, apoio familiar que recebi, principalmente, da minha esposa, Bianca.
OP-Qual sua ocupação hoje e quais os planos agora após a diplomação de engenheiro aeronáutico?
Cavalcanti - Agora estou designado para o projeto estratégico de propulsão hipersônica da Força Aérea e, em paralelo, finalizando o mestrado no ITA que comecei ainda na graduação. A perspectiva dos próximos anos está bastante atrelada ao desenvolvimento de produtos e projetos de caráter estratégico para a Força Aérea, bem como, ao meu desenvolvimento acadêmico, pois pretendo continuar me aprimorando, ou seja, estarei com alguns desafios profissionais e pessoais, o que me enche de motivação. Espero e quero contribuir muito mais para o nosso crescimento como desenvolvedor na área espacial e aeronáutica.
OP - O astronauta e ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Marcos Pontes gravou um vídeo para você. Como vê o reconhecimento?
Cavalcanti - Desde o fim dos anos 1990, quando ele foi selecionado como astronauta, que eu me inspiro na sua carreira. Seus livros, palestras e entrevistas, durante sua jornada como astronauta sempre me motivaram a seguir a carreira que venho seguindo na Força Aérea. Enfim, ter o reconhecimento de alguém que lhe inspira, é algo fantástico e sem palavras.
OP - Você já é piloto de caça da Força Aérea Brasileira. Como conciliou com o curso de engenheiro de aeronáutica?
Cavalcanti- A maior dificuldade foi na dedicação para o concurso de admissão do ITA, pois todo dia, depois do trabalho, chegava em casa e passava horas me preparando para o vestibular, o que diminuiu consideravelmente as minhas horas de sono. Vivi nessa rotina por aproximadamente um ano, antes de vir para São José dos Campos-SP para três meses de preparatório intensivo antes do vestibular (período no qual eu aprimorei o que já havia aprendido sozinho). Durante o curso do ITA propriamente dito, ficamos afastados das funções operacionais, executando apenas algumas administrativas, ou seja, não temos as exigências operacionais de um piloto de caça. Por fim, executamos algumas funções a mais que os demais alunos civis, porém nada que impeça e impacte de forma decisiva na dedicação ao curso de engenharia.
OP- Você anunciou um curso para pessoas de baixa renda. Como deve funcionar?
Cavalcanti - Na verdade não será um curso. Essencialmente, será um trabalho voluntário e gratuito que executarei no meu tempo livre das funções na Força Aérea. Estou elaborando planos de mentoria e tutoria para alguns poucos alunos de escola pública e de baixa renda, que queiram prestar concursos diversos, mas, principalmente, os concursos militares. Na verdade, estou estudando formas de elaborar planos de acompanhamento de estudos com conversas periódicas. Um grande amigo do ITA que já trabalha com isso está me ajudando. Finalmente, maiores informações podem ser obtidas na minha conta do instagram: jbmcavalcanti.