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João Marcelo Sena: Além das portas do Capitólio
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João Marcelo Sena: Além das portas do Capitólio

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Congresso dos Estados Unidos foi invadido em janeiro de 2021 por pessoas que não aceitam o resultado eleitoral (Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP)
Foto: ROBERTO SCHMIDT / AFP Congresso dos Estados Unidos foi invadido em janeiro de 2021 por pessoas que não aceitam o resultado eleitoral

As cenas de invasão ao Capitólio dos Estados Unidos na última quarta-feira, 6, dominaram as atenções mundiais. Nas telas da TV e dos telefones celulares, foi possível ver, em tempo real, um dos maiores símbolos da principal referência de democracia liberal no planeta ser devassado por radicais de extrema-direita apoiadores do presidente Donald Trump.

Antes as cenas bizarras em Washington fossem um simulacro mambembe de uma série da Netflix com um Jack Bauer qualquer salvando a democracia em um dia. Embora quase surreal, a invasão ao Capitólio não pode ser considerada uma surpresa.

Desde que perdeu a eleição, Donald Trump escalava os níveis de tensão mentindo ao dizer que o pleito foi fraudado e que não reconheceria a derrota para Joe Biden. O discurso da última quarta-feira, incitando os extremistas foi - até agora - o ápice de uma estratégia muito clara.

Trump sabia que o Congresso não iria voltar atrás com o resultado eleitoral, assim como sempre soube que deixará a Casa Branca daqui a dez dias. O intuito é simplesmente tentar uma sobrevida política futura por meio do ataque às instituições democráticas.

Os eventos da última quarta-feira ultrapassam as portas do Capitólio. Embora o rito da confirmação da vitória de Joe Biden tenha seguido posteriormente, essa invasão abre na democracia uma ferida de difícil cicatrização. Uma chaga que pode ser espalhada.

O banimento de Trump das redes sociais foi um movimento de impacto relevante, mas isso por si só não basta. A construção do processo democrático precisa ser constante, pois é necessário muito pouco para ameaçá-lo.

Se uma democracia com mais de 230 anos de história como a americana, que sempre foi espelho e se vendeu como tal, pode ser questionada da forma que foi, o que impede de ser tentado algo semelhante em outros lugares?

Não precisamos ir longe. Jair Bolsonaro nem precisou esperar os funcionários do Capitólio terminarem de passar a água sanitária no prédio invadido na véspera para deixar bem claro qual vai ser a sua postura e o seu discurso de derrota em 2022, se ela ocorrer.

 

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