Protagonismo e liderança são palavras que definem a trajetória da primeira mulher cacique de um grupo indígena no Brasil. Maria de Lourdes da Conceição Alves, conhecida por Cacique Pequena, é a liderança indígena central na etnia dos Jenipapo-Kanindé, que ocupa parte da região do município de Aquiraz, no litoral cearense. Ao lado de nomes como o da cientista Marie-Curie, primeira mulher a ganhar um Nobel, e da empreendedora pioneira Madam C.J. Walker, a líder indígena cearense ilustra a campanha "First of Many — Women’s History Month 2021", promovida mundialmente pelo Google, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.
A campanha celebra marcos de mulheres do passado e do presente, desde a primeira mulher a quebrar a barreira do som até todas aquelas que continuam quebrando o teto de vidro.
Uma das principais lutas vencidas pela cacique Pequena foi tornar as 129 famílias do povo Jenipapo-Kanindé reconhecidas pela Funai como indígenas. “Em 1995, fui a Brasília e tive a oportunidade de conversar com o presidente da Funai. Pedi que mandasse o povo dele na aldeia para fazer o estudo da nossa mãe-terra e de nós”. Dois anos depois, os antropólogos concluíram: “Nós era índio, sim!”, disse a chefe da aldeia, em entrevista ao Sistema Fecomércio.
Desde então, Pequena acompanhou o processo de legalização das terras, delimitadas em 1999 e demarcadas em 2011. Também fazem parte da trajetória da primeira cacique mulher a busca para que os nativos da aldeia pudessem conquistar seus direitos. “Por aí afora, fui atrás de vários projetos para acontecer as coisas dentro da aldeia. Hoje tem colégio indígena dentro da aldeia, tem posto de saúde, CRAS, museu, casa de farinha e uma pequena pousadinha que nós temos para oferecer alimentação aos turistas quando vêm”.
A homenagem e o reconhecimento são frutos desse trabalho desempenhado por Pequena, que não foi fácil. Em 2015, ela declarou à Revista Entrevista, projeto de estudantes de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) que, nas primeiras assembleias indígenas que ela participou, ouviu de lideranças de outras regiões que mulher só servia pra cama e pé de fogão. "Quando eu levantei a voz, e eles perceberam que era uma cacique mulher, só faltaram me comer viva", relembra.
Aos 75 anos, a cearense segue inspirando outras mulheres que enxergam nela a possibilidade de fazer a diferença, quebrando tabus e paradigmas. No processo de sucessão da aldeia, entre 16 filhos, o legado de cacique Pequena vai ter continuidade nas gerações futuras a partir de duas filhas, escolhidas pela comunidade.
Confira a campanha