Logo O POVO+
João Marcelo Sena: Besta é quem cai no rebranding do Talibã
Farol

João Marcelo Sena: Besta é quem cai no rebranding do Talibã

Quase 63% da população afegã tem menos de 25 anos. Ou seja, a maior parcela nasceu ou cresceu dentro de um país com democracia (embora frágil e instável)
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Cidadãos afegãos presos chegam para retornar ao Afeganistão no ponto de passagem da fronteira Paquistão-Afeganistão em Chaman em 16 de agosto de 2021 (Foto: AFP)
Foto: AFP Cidadãos afegãos presos chegam para retornar ao Afeganistão no ponto de passagem da fronteira Paquistão-Afeganistão em Chaman em 16 de agosto de 2021

Afeganistão O Talibã precisou de poucos dias para passar por cima do governo afegão e de poucas horas para mostrar como pretendia exercer o poder no Afeganistão. A capitulação de Cabul no último domingo, 15, foi seguida de imagens agoniantes de pessoas empoleiradas na fuselagem de aviões, tentando desesperadamente deixar o País.

A fuga de afegãos no aeroporto de Cabul simboliza tragicamente o fracasso militar dos Estados Unidos no Afeganistão. Para piorar uma saída das tropas executada de forma desastrosa, o presidente Joe Biden deixou as férias em Camp David e declarou publicamente que a questão afegã não era mais problema americano.

Ora, qual o país liderou a ocupação militar 20 anos atrás e há pelo menos 40 mete o bedelho no Afeganistão, sendo diretamente responsável por sustentar a resistência que deu origem ao Talibã? Sem falar que foi Donald Trump quem esfarelou politicamente o governo afegão ao abrir uma porta para negociar um acordo que obviamente não seria cumprido pelo Talibã.

Quase 63% da população afegã tem menos de 25 anos. Ou seja, a maior parcela nasceu ou cresceu dentro de um país com democracia (embora frágil e instável). Habituaram-se nesses últimos 20 anos ao contexto de um menor desequilíbrio de gênero, com mulheres tendo acesso a direitos fundamentais como estudar, trabalhar ou sair à rua sem a necessidade de uma permissão masculina.

Nessas duas décadas, as formas de se comunicar mudaram drasticamente. E não há dúvidas de que as redes sociais vão ter papel central na resistência, principalmente fora do solo afegão. O Talibã parece também querer usar o poder das mídias em seu favor.

Os vídeos mal produzidos e com os integrantes em desgrenhadas roupas sujas de poeira parecem ter ficado nos anos 1990. O grupo tenta agora passar o discurso de que vai ser "moderado dentro das leis do Islã". Com o histórico de uma interpretação radical e medieval do Islã, dá mostras frequentes de que é preciso ser muito esperançoso - ou besta - para acreditar no rebranding do Talibã.

 

O que você achou desse conteúdo?