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Pazuello completa quatro meses em cargo na Presidência com função oculta e agenda vazia
Farol

Pazuello completa quatro meses em cargo na Presidência com função oculta e agenda vazia

Enviado para ocupar cargo de confiança, Pazuello recebe um salário de R$ 10.166,94 e carga horária de 40 horas semanais. Ele ainda tem um carro à disposição e um motorista para se deslocar por Brasília, além de um quarto no hotel de trânsito das Forças Armadas, onde reside
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A ideia de levar Pazuello para despachar no Planalto vinha sendo cogitada desde sua saída da pasta da Saúde, em março (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil A ideia de levar Pazuello para despachar no Planalto vinha sendo cogitada desde sua saída da pasta da Saúde, em março

Nomeado no início deste mês para atuar como assessor especial da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e demitido em março do Ministério da Saúde após ter sua condução da pandemia criticada por investigações, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello completou quatro meses em cargos de confiança com uma agenda esvaziada e função desconhecida.

O militar indicou ter se dedicado a “despachos internos” em 59 dias úteis desde que foi nomeado, em junho. Segundo reportagem do Estadão, em outras 13 datas, o termo usado foi “sem compromissos oficiais”, e por nove dias não prestou qualquer informação em sua agenda. Ou seja, em 81 dos 91 dias úteis que esteve no cargo, 89% do total, não é possível saber quais atividades Pazuello realizou. 

Um servidor, sob condição de anonimato, que despacha diariamente no Palácio do Planalto, onde o general ocupa uma sala no 4º andar, negou saber qual a função do ex-ministro, além de raramente o encontrar pelos corredores. Questionado pelo Estadão, via Lei de Acesso à Informação, sobre o registro de entrada do ex-ministro na sede do Executivo, o governo negou o pedido sob o argumento de que este tipo de dado é sigiloso.

Com objetivo de dar "blindagem política" ao militar, alvo da CPI da Covid e de inquérito na Justiça Federal por suporta omissão em Manaus, Pazuello teve a nomeação ordenada pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele Pazuello está alocado na SAE, com salário de R$ 10.166,94 e carga horária de 40 horas semanais. Além disso, recebe R$ 32.375,16 por suas funções como general de divisão do Exército.

Como o teto atual de remuneração a servidores é de R$ 39.293,32, o contracheque do ex-ministro sofre um desconto mensal de R$ 3.248,78. Pazuello ainda tem um carro à disposição e um motorista para se deslocar por Brasília, além de um quarto no hotel de trânsito das Forças Armadas, onde reside.

Dois parlamentares da base do governo no Senado afirmaram à reportagem que Pazuello já esteve em reuniões para definir a estratégia de defesa do governo na CPI da Covid. Porém, os eventos também não foram registrados na agenda do general.

A Constituição Federal, em seu artigo 37, determina que a administração pública deve obedecer o princípio da publicidade de seus atos. Além disso, de acordo com orientações do Ministério da Fazenda, servidores registrados em cargos de confiança devem fazer o registro diário de seus compromissos públicos, realizados de forma presencial ou não. “Quando houver questões de sigilo, deve-se apontar que informação é sigilosa e dar publicidade à parte não sigilosa”, diz a pasta.

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