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Brasil: um país com expertise em criar crises
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Brasil: um país com expertise em criar crises

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Reunidos sábado, Bolsonaro e Guedes voltaram a andar juntos no domingo (Foto: Carolina Antunes?PR)
Foto: Carolina Antunes?PR Reunidos sábado, Bolsonaro e Guedes voltaram a andar juntos no domingo

A queda de braço entre a ala política e econômica do Governo está produzindo mais do que baixas na equipe do ministro Paulo Guedes: está criando as bases para uma nova crise econômica, cujos efeitos vão além das eleições de 2022. As tensões do mercado financeiro - com dólar batendo os R$ 5,75 e bolsa caindo 7,28% em uma semana - são apenas a parte mais visível desses efeitos.

Não é apenas a reação de um "mercado nervosinho", como ironizou o presidente Jair Bolsonaro. Ou que seja insensível a uma causa nobre, como é a de elevar a renda dos mais pobres com o Auxílio Brasil. Mas furar o teto de gastos, em mais de R$ 30 bilhões, em uma dívida estratosférica - e que vai repercutir na taxa de juros e inflação que já estão altas - para garantir um programa somente até dezembro do ano que vem é, no mínimo, questionável. O que vem depois?

Isso quer dizer que o auxílio deveria ser abortado? Não, pelo contrário. As cenas chocantes de famílias revirando lixo em busca de comida, em Fortaleza, nos dão a dimensão dessa urgência. Ainda mais em um País que é um dos principais produtores de alimentos do mundo.

Não dá para não fazer nada. Mas é preciso largar mão de fazer tudo nas coxas. Aliás, é muito preocupante que uma equipe incensada "como eminentemente técnica" como é tida a de Guedes não consiga propor soluções factíveis para encaixar o programa.

Como é pouco crível que foram "pegos de surpresa" pela bola de neve dos precatórios para propor agora a institucionalização do calote.

Deixar a coisa piorar para vender soluções na base do "jeito que dá" é uma prática perversa que se espalha em todas as esferas. É o que se vê com a Petrobras, que lá atrás, em 2016, decidiu reduzir a sua participação na produção de petróleo ao mercado doméstico e hoje já não consegue atender toda a demanda.

Um fator a mais a engrossar o caldo da alta dos combustíveis, e que tampouco será resolvida tirando receita dos estados. Ou em relação à crise energética.

O Brasil segue produzindo "crises". O problema é que quem paga a conta delas - a população - já não tem margem para tantos "jeitinhos".

 

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