Já se passaram quase duas décadas desde a infância humilde, no bairro João XXIII — periferia de Fortaleza —, até os dias atuais, quando Kildary Fernandes se tornou referência no fisiculturismo cearense. Já são 15 títulos estaduais e regionais conquistados na categoria.
Aos 34 anos, Kildary deixou a vida trabalhando com "bico" de guardador de carros para trás para se tornar empresário. Formado em nutrição e educação física, ele é dono de uma academia com o próprio nome, trabalha como nutricionista esportivo e virou exemplo de superação para muitos ao seu redor. Ao O POVO, o fisiculturista conta detalhes da sua trajetória.
OP - Como surgiu o seu interesse na área? Trabalhar com musculação era um sonho desde a infância?
Kildary Fernandes - Meu sonho era ser jogador de futebol. Apesar da infância difícil, sempre fui muito feliz. As crianças precisam de pouco para serem felizes. No meu caso, uma bola para jogar com os meus amigos já era o suficiente. Eu só passei a me preocupar com o aspecto físico aos 13, 14 anos. Esse foi o momento mais difícil para mim. Eu era muito magro, principalmente por conta da alimentação fraca, e isso mexia bastante com o meu emocional, já que eu não estava feliz com a minha aparência. Na época, eu estudava em um colégio militar e era comum o treinador não me colocar em algum jogo porque tinha medo que eu me machucasse. Como sempre fui muito competitivo, esse foi um fator que me ajudou a despertar esse interesse por musculação. De todas as conquistas que eu tive, o que eu mais pedia a Deus quando era adolescente era conseguir ficar em forma.
OP - Conhecendo a sua história hoje, muitos se surpreendem quando descobrem que você já trabalhou guardando carros. Como você começou a trabalhar como vigilante?
Kildary Fernandes - Aos 15 anos eu já tinha evoluído bastante fisicamente e passei a treinar alguns tipos de luta. Na academia onde eu treinava, conheci o dono de uma empresa de segurança e ele me convidou para fazer "bicos" em eventos, como casamentos e aniversários. Foi quando comecei a trabalhar vigiando os carros estacionados na rua. Quando ingressei na faculdade para cursar educação física, passei a estagiar em academias e segui trabalhando como segurança de eventos em noites alternadas para complementar a renda. Não era fácil, mas sempre digo que fui forjado na dificuldade.
OP - Qual momento você considera que foi o ponto de virada na sua vida?
Kildary Fernandes - Foi quando comecei a trabalhar em uma academia de grande porte. Um amigo me indicou para este local, mas não consegui a vaga no primeiro momento. Pedi ao proprietário para me deixar trabalhar como voluntário por uma semana. Esta foi a estratégia que tive para poder mostrar o meu trabalho. Ele autorizou, e rapidamente consegui conquistar a confiança dos alunos. Acabei contratado. Como o poder aquisitivo das pessoas que frequentavam esta academia era maior, consegui melhorar a minha renda atuando como personal trainer. Foi quando me dediquei exclusivamente à área de musculação.
Alguns anos depois, montei minha própria academia. Eu ainda era inexperiente como empresário e acabei sendo enganado. Aluguei um estabelecimento que a proprietária já havia recebido uma indenização por conta de uma obra que a Prefeitura iria fazer no local. Ela não poderia ter alugado, mas agiu de má-fé. Com um ano que eu estava lá, a obra foi iniciada e precisei fechar a academia. Foi um momento muito difícil, mas com a ajuda dos meus alunos, consegui abrir a academia que leva o meu nome hoje. Em pouco tempo, se tornou um sucesso. Atualmente, 600 pessoas frequentam o local e eu atendo cerca de 200 pacientes por mês em meu consultório de nutrição esportiva.
OP - Depois de tantas conquistas na sua vida, ainda existem sonhos que você não realizou?
Kildary Fernandes - Penso em expandir meus negócios, quem sabe criar uma grande rede de academias. Já cheguei até aqui. Talvez eu consiga dar mais esse passo. Na vida pessoal, quero ter filhos e construir uma família de sucesso. Além disso, acredito muito que eu tenho uma missão, que é falar da palavra de Deus e motivar as pessoas. Existe muita gente doente, assim como eu fui um dia. Percebi que, no consultório, eu consigo salvar muitas vidas. Atendo muitas pessoas deprimidas, com baixa autoestima. Muitas vezes, quando você consegue melhorar a aparência, consegue melhorar o seu emocional. Por isso sou muito feliz e amo o que eu faço. Não trabalho pelo dinheiro. Passo o dia atendendo pessoas no meu consultório e, ao final do dia, não estou cansado, porque faço o que gosto. Espero que esta entrevista motive muitas pessoas.