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Desmond Tutu, vencedor do Nobel da Paz pela luta contra o apartheid, morre aos 90
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Desmond Tutu, vencedor do Nobel da Paz pela luta contra o apartheid, morre aos 90

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ATIVISTA sul-africano e Prêmio Nobel da Paz (Foto: TREVOR SAMSON / AFP)
Foto: TREVOR SAMSON / AFP ATIVISTA sul-africano e Prêmio Nobel da Paz

O ativista sul-africano vencedor do Prêmio Nobel da Paz pela luta por justiça racial e arcebispo anglicano aposentado da Cidade do Cabo, Desmond Tutu, morreu neste domingo, 26, aos 90 anos. O anúncio foi feito pelo presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Tutu faleceu no centro de cuidados para idosos Oasis Frail, segundo comunicado do Archbishop Desmond Tutu Intellectual Property Trust, organização responsável pelos direitos de propriedade intelectual e legado de Tutu.

Tutu havia sido diagnosticado com câncer de próstata em 1997 e, desde 2015, foi hospitalizado várias vezes. Nos últimos anos, o arcebispo e sua esposa, Leah, viveram em uma comunidade de aposentados fora da Cidade do Cabo. Além de Tutu Leah, de 66 anos, ele deixa quatro filhos.

Sul-africanos se reuniram na Catedral de São Jorge na Cidade do Cabo para prestar homenagens ao arcebispo. "Agradeço a Deus que ele esteva lá para nós", disse um dos presentes, Brent Goliath, enxugando os olhos enquanto colocava um buquê de flores rosa sob a foto do arcebispo. 

O Prêmio Nobel "foi um herói para nós, ele lutou por nós", disse Miriam Mokwadi, uma enfermeira aposentada de 67 anos. "Somos livres por causa dele. Se não fosse por ele, provavelmente estaríamos perdidos como país. Ele era simplesmente bom", disse Mokwadi, enquanto agarrava a mão de sua neta.

Na década de 1980, quando a África do Sul foi dominada pela violência contra o apartheid (regime de opressão contra a maioria negra), Tutu se tornou um dos negros mais proeminentes na campanha contra os abusos. Fez diversas viagens aos Estados Unidos e à Europa, para encontros com o secretário-geral da ONU, o papa e outros líderes da Igreja. Pediu sanções internacionais contra a África do Sul e promoveu negociações para encerrar o conflito. Em 1984, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por liderar o movimento não violento contra o apartheid.

No comunicado, o presidente Ramaphosa disse que a morte de Tutu "é mais um capítulo de luto na despedida de nossa nação a uma geração de destacados sul-africanos que nos legaram uma África do Sul livre".

Com o fim do apartheid e as primeiras eleições democráticas na África do Sul em 1994, Tutu celebrou a sociedade multirracial do país, chamando-a de "nação arco-íris". Apelidado de "o arco" e conhecido por seu senso de humor, se tornou uma figura importante na história sul-africana, assim como Nelson Mandela, também ganhador do Prêmio Nobel, que foi prisioneiro durante o governo branco e se tornou o primeiro presidente negro do país. Em 1990, após 27 anos de prisão, Mandela passou sua primeira noite de liberdade na residência de Tutu, na Cidade do Cabo. Ao se tornar presidente em 1994, Mandela nomeou Tutu presidente da Comissão de Verdade e Reconciliação, que descobriu os abusos do sistema de apartheid.

Desmond Mpilo Tutu nasceu em 7 de outubro de 1931, em Klerksdorp, a oeste de Joanesburgo, e tornou-se professor antes de estudar teologia em Rosetenville em 1958. Décadas depois, em 1985, se tornou o primeiro bispo negro anglicano de Johannesburgo e, em 1986, o primeiro arcebispo negro da Cidade do Cabo. Ele ordenou mulheres padres e promoveu padres gays e fez campanha internacional pelos direitos humanos, especialmente pelos direitos LGBT e pelo casamento entre pessoas do mesmo sexo. "Eu não adoraria um Deus que é homofóbico. Me recusaria a ir para um paraíso homofóbico. Diria: Desculpe, prefiro ir para outro lugar", disse ele em 2013, ao lançar uma campanha pelos direitos LGBT na Cidade do Cabo. Ele dizia que a campanha pelos direitos LGBT estava "no mesmo nível" da luta contra o apartheid.

Homenagens

"A morte do arcebispo emérito Desmond Tutu é outro capítulo de luto na despedida de nossa nação para uma geração de destacados sul-africanos que nos legaram uma África do Sul. Desmond Tutu era um patriota sem igual; um líder de princípio e pragmatismo que deu sentido à percepção bíblica de que a fé sem obras está morta."

Cyril Ramaphosa (Presidente da África do Sul)

"O legado de Desmond Tutu é força moral, coragem moral e clareza Ele sentia com as pessoas. Em público e sozinho, ele chorava porque ele sentia a dor das pessoas. E ele riu - não, não apenas riu, ele gargalhou de alegria quando ele compartilhou sua alegria."

Thabo Makgoba (Arcebispo da Cidade do Cabo)

"Suas contribuições para a luta contra a injustiça, local e globalmente, são comparadas apenas à profundidade de seu pensamento sobre a construção de futuros libertadores para as sociedades humanas. Ele foi um ser humano extraordinário. Um pensador. Um líder. Um pastor."

Fundação Nelson Mandela

"A amizade e o vínculo espiritual entre nós era algo que amamos. O arcebispo Desmond Tutu foi inteiramente dedicado a servir a seus irmãos e irmãs para o maior bem comum."

Dalai lama (Líder espiritual do Tibet)

"Sua Santidade o Papa Francisco ficou triste ao saber da morte do Arcebispo Desmond Tutu. Ciente de seu serviço dedicado ao Evangelho por meio da promoção da igualdade racial e da reconciliação em sua África do Sul natal, Sua Santidade encomenda sua alma à misericórdia amorosa do Deus Todo-Poderoso "

Condolências do papa Francisco divulgadas pelo Vaticano

"O arcebispo Desmond Tutu foi um mentor, um amigo e uma bússola moral para mim e tantos outros. Um espírito universal, o Arcebispo Tutu estava enraizado na luta pela libertação e justiça em seu próprio país, mas também preocupado com a injustiça em toda parte. Ele nunca perdeu seu senso de humor travesso e sua vontade de encontrar humanidade em seus adversários."

Barack Obama (Ex-presidente dos EUA)

"Nenhuma palavra exemplifica melhor o seu ministério do que as três que ele contribuiu para uma obra de arte no The Carter Center: amor, liberdade e compaixão."

Jimmy Carter (Ex-presidente dos EUA)

"Um verdadeiro gigante sul-africano nos deixou hoje, mas seu espírito vai viver ... em nosso esforço contínuo para construir uma África do Sul unida, bem-sucedida e não racista para todos . . Quando nós perdemos o nosso caminho, ele foi a bússola moral que nos trouxe de volta."

John Steenhuysen (Líder do partido de oposição sul-africano Aliança Democrática)

"O arcebispo Desmond Tutu foi um profeta e sacerdote, um homem de palavras e ação - aquele que encarnou a esperança e a alegria que foram os fundamentos de sua vida."

Justin Selby (Arcebispo de Canterbury)

"Estou triste ao saber da morte do sábio global, líder dos direitos humanos e poderoso peregrino na terra ... Nós somos melhores porque ele esteva aqui."

Bernice King (Filha de Martin Luther King)

"Seu senso de humor contagiante e seu riso ajudaram a resolver muitas situações críticas na política e na vida da Igreja. Ele foi capaz de quebrar quase qualquer impasse. Ele compartilhou conosco o riso e a graça de Deus muitas vezes."

Conselho Mundial de Igrejas

"Ele foi uma figura crítica na luta contra o apartheid e na luta para criar uma nova África do Sul - e será lembrado por sua liderança espiritual e seu humor irreprimível."

Boris Johnson (Primeiro-ministro britânico)

"Uma de suas frases é concisa, mas contundente e verdadeira: 'Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor.'"

Andrés Manuel Lopez Obrador (Presidente do México)

"Nosso povo palestino perdeu um forte defensor de sua marcha para a liberdade e a independência. Padre Desmond Tutu passou a vida inteira lutando contra o racismo e defendendo os direitos humanos e especialmente na terra palestina."

Basim Naeem (Alto funcionário do grupo palestino Hamas, que controla Gaza)

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