O historiador cearense Rafael Rosário Nogueira, 36, busca por meio do livro “Núcleo Colonial Pio XII: Um resgate histórico da primeira reforma agrária do Estado do Ceará”, manter a história de Guaiúba viva. A obra conta a história local da cidade, da primeira reforma agrária do Estado, e busca ser objeto de análise de estudantes. A expectativa de Rafael é que sua pesquisa seja implementada como paradidático nas escolas municipais e estaduais do Ceará. "Espero que o livro possa servir de estudo, influência, descobertas e motivação para o surgimento de novos escritores e pesquisadores de história local, principalmente no município de Guaiúba", diz ele.
Em entrevista ao O POVO, o historiador, formado no curso de licenciatura em História pela Universidade Estadual do Vale do Acaraú (UVA), explica quais aspectos importantes podem ser encontrados no livro, suas motivações para a pesquisa, como surgiu o interesse por história local e o que planeja em suas próximas produções. Segundo Rafael, o livro ainda não tem data específica para ser lançado, mas o período para que ele possa ser compartilhado com o público é em breve, em março deste ano.
O POVO - Qual a importância do livro para a história local da Guaiúba?
Rafael Rosário - É um livro de história local, acho que o peso principal está nisso de ser de história local, aquela história que acaba muitas vezes esquecida para a maioria das pessoas de um estado ou de um município. Ele é um resgate histórico, como o tema diz. E o foco principal da pesquisa é esse, é o resgate de pontos importantes da história que acaba se perdendo. O mais importante de tudo é resgatar a história das famílias, das pessoas que ainda vivem aqui e outras que migraram para outros estados. E um dos objetivos principais deste livro, além de manter viva a história, é que ela possa virar objeto de estudo nas escolas do município de Guaiúba e também de Pacatuba, além do próprio Estado do Ceará. O Núcleo Colonial PIO XII está localizado no município de Guaiúba, que fica na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O foco maior é o Núcleo, mas o livro também fala desde a origem da chegada dos portugueses, trazendo [narrativa] do global para o local. Traz a história do Brasil depois do Ceará, desde a época das sesmarias, a origem de Guaiúba.
OP - Qual foi sua motivação para escrever o paradidático?
Rafael - A minha motivação principal surge quando eu estou fazendo faculdade de História. Dentro da faculdade, tinha alguns trabalhos para apresentar, e eu sempre falava dessa história, e eu não tinha noção da grandiosidade desse conteúdo. E os professores falavam que eu deveria registrar essa pesquisa. E isso foi dando motivação. Durante a pandemia, com o isolamento social, eu aproveitei para colocar essa pesquisa adiante e concluí-la. Para mim, é preciso manter a história viva de um local. Não existe motivação maior do que materializar essa história, com a finalidade de que as pessoas possam conhecer e estudar. É uma história diferente, porque conta a história de famílias que ainda vivem aqui, no Núcleo Pio XII. É uma geração de avós, netos, bisnetos. Essa é minha motivação, é manter a história viva.
OP - De onde surgiu o interesse pela história local?
Rafael - Surgiu por incentivo de alguns professores universitários de quando eu cursava Licenciatura em História (2004-2007), quando apresentava trabalhos levava um pouco do que eu ouvia dos meus avós e pais (Antônia Rosário Nogueira e Raimundo Nonato Nogueira). Eles ficavam encantados e falavam sempre que dava um bom livro de história local, que se eu não cuidasse de escrever logo ia vir alguém e roubar essa história. Comecei a dar aulas de História local para os estudantes do próprio Núcleo Colonial Pio XII em 2009 e percebi que os alunos gostavam do assunto, isso me motivava ainda mais. Uma outra motivação ocorreu no início do mês de maio de 2010 quando o O POVO foi me procurar para eu falar sobre os imigrantes japoneses, e em poucos dias me vi no jornal impresso e reforçando a ideia de escrever um livro sobre a história do NCPXII. Passei a ser cobrado por muitos do município que leram a matéria.
OP - Quais as expectativas com o livro a partir de agora?
Rafael - Dentre os principais objetivos da pesquisa, estão o de manter viva, através da materialização do livro, a rica história do lugar onde cresci e vivi, sem excluir os verdadeiros protagonistas, além de tentar transformar o paradidático em objeto de estudo dos alunos do ensino fundamental e médio do município de Guaiúba e de Pacatuba. O objetivo é sempre a aprendizagem dos mesmos, através da aproximação dos assuntos do livro com os conteúdos históricos estudados em sala de aula, ajudando os estudantes a compreenderem criticamente sua realidade social, em um processo contínuo de formação cidadã. E também espero que o livro possa servir de estudo, influência, descobertas e motivação para o surgimento de novos escritores e pesquisadores de história local, principalmente no município de Guaiúba.
OP - Como é viver no Núcleo Colonial Pio XII?
Rafael - O NCPXII, também conhecido por São Jerônimo (nome do padroeiro), é um dos melhores distritos do município de Guaiúba para se morar. Lugar que carrega as tradições de épocas coloniais, onde a maior parte dos profissionais das áreas sociais que atendem ao núcleo são filhos, netos ou bisnetos de colonos. Local simples e histórico, com forte religiosidade, com vista da serra da Aratanha, a apenas 40 km de Fortaleza. Com belas paisagens, os dois açudes com seus balneários atraindo pessoas de várias regiões do Ceará. Um lugar calmo, apesar da recente onda de violência. Vivo desde que nasci aqui e quero continuar aqui vivendo.
OP - Você tem outras pesquisas em andamento?
Rafael - Tenho duas pesquisas/projetos em andamento. A primeira está ligada ao livro e consiste em criar a disciplina de História Local no ensino fundamental do município de Guaiúba. A segunda consiste em homenagear e valorizar os professores e professoras aposentados ou falecidos do município de Guaiúba, que tanto contribuíram para a educação local, dando o seu nome à sala de aula da escola onde lecionaram. [A homenagem será] uma placa com a foto, nome e um QR Code contendo a biografia do homenageado. Ambas as pesquisas dependem do poder público municipal e de sua aprovação.