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Um cearense na fotografia subaquática: "O mais importante é deixar que a beleza se perpetue"
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Um cearense na fotografia subaquática: "O mais importante é deixar que a beleza se perpetue"

Ruver Bandeira faz ensaios embaixo d'água registrando as paisagens naturais do oceano Brasil afora
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Ruver Bandeira é fotógrafo subaquático (Foto: Fernanda Barros)
Foto: Fernanda Barros Ruver Bandeira é fotógrafo subaquático

Nascido em Fortaleza, o professor e fotógrafo Ruver Bandeira, 51 anos, é especialista em fotos subaquáticas nas riquezas do oceano. Em uma composição harmoniosa, ele busca exaltar os traços humanos com uma particularidade: os modelos ficam submersos.

Ruver escolheu a Geografia por vocação e a fotografia por amor. Em 1998, ele teve seu primeiro grande encontro com as belezas de Fernando de Noronha, em Pernambuco. Após oito anos, o fotógrafo retornou ao arquipélago e se encantou mais uma vez, tanto pela paisagem local quanto pela arte do mergulho.

A partir dali, passou a praticar a fotografia e o mergulho a partir de destinos nacionais e até internacionais, como Recife (PE), Cabo Frio (RJ), Bonaire (Holanda), Curaçao (Caribe), dentre outros. Também professor de Geografia da rede pública de ensino, Ruver compartilha as sensações de suas fotos com os alunos.

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O POVO - Os seus ensaios subaquáticos chamam atenção por mostrar belezas naturais e pessoas em uma composição harmoniosa. Como surgiu a ideia de fotografar modelos nestes cenários de preservação ambiental?

Ruver Bandeira - Eu tenho alguns amigos estrangeiros que fazem esse tipo de trabalho fora (do Brasil). No entanto, era uma prática feita em sua maior parte na piscina, com modelos, era algo que ressaltava reflexos e texturas, interessantíssimo. Então eu pensei, que tal fazer algo diferente? Ao invés de fazer na piscina, tentar unir a beleza de uma área natural com um modelo habilitado ao mergulho. Dessa forma, comecei fazendo em piscina e depois parti para os cenários naturais.

O POVO - O que é o turismo sustentável e como ele funciona? Existe diferença entre turismo sustentável e turismo ambiental?

Ruver Bandeira - O turismo sustentável envolve um amplo benefício para o turista e para a população local, pois tem como principal prática preservar a infraestrutura, assim como a cultura local e ambiental de uma localidade. Ou seja, traz um benefício de uma forma geral. Já o turismo ambiental, também chamado de ecoturismo, tem uma relação maior com a natureza, pois faz da atividade turística algo sustentável que incentiva a consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente.

O POVO - O senhor poderia citar alguma história ou situação, durante suas viagens fotografando, que o motivou a continuar trabalhando com turismo sustentável?

Ruver Bandeira - Eu percebi algo muito diferente na região de Bonito, Mato Grosso do Sul. Que me ensinou que o turismo sustentável leva em consideração que você pode usufruir do lugar sem trazer danos à natureza, à população e ao próprio turista. E no turismo ecológico, ele se torna ligado cada vez mais à natureza em si, você usufrui dela sem danificá-la. Então, em Bonito eu percebi isso, o cuidado da população local e dos gestores municipais com o município. Eu observei que não é algo só de propaganda, é algo que se vê acontecendo. Isso, de fato, me encantou. 

O POVO - O senhor é professor da rede pública de Fortaleza. Os seus alunos falam muito em sala de aula sobre suas fotos? O que vocês compartilham sobre essas experiências?

Ruver Bandeira - Sou professor da rede pública. No entanto, há oito anos estou na gestão. E, sim, alguns alunos já viram o meu trabalho, professores, e eles falam sempre: "Ah, o professor é mergulhador". Aquele tipo de brincadeira. O pessoal (vive) ali na Praia do Futuro, na área da Sabiaguaba, e eles já convivem muito com essa coisa de praia, do mar. Alguns alunos e professores já viram o meu trabalho e gostam muito. Para eles, é muito familiar esse tipo de ambiente, pois alguns pais de alunos são pescadores e, de certa forma, esse assunto sempre está entre nossas conversas e experiências. 

O POVO - O que o senhor aprendeu fotografando esse tipo de paisagem?

Ruver Bandeira - A gente aprende que o ambiente que estamos situados — no caso, o ambiente subaquático, seja ele marinho ou de água doce —, além de belo, ele precisa ser preservado. Pois é um ambiente de sensibilidade muito grande, então não é só a questão de você estar registrando o que de bonito tem ali, mas o mais importante é deixar que aquela beleza se perpetue, que ela continue acontecendo, existindo. Fixar o pensamento de que as futuras gerações possam usufruir também desse olhar, dessa observação.

O POVO - Você tem alguma dica ou conselho para as pessoas que vão fazer turismo em ambientes subaquáticos?

Ruver Bandeira - Eu já percebi que algumas pessoas querem usufruir do lugar, do ambiente do mergulho. Algumas pessoas têm mania de querer pegar nos seres vivos, por exemplo, peixe, tartaruga, pegar em um coral. Então, o conselho que fica é que a pessoa consiga observar sem tocar, pois muitos desses seres têm uma sensibilidade muito grande, e você pode acabar machucando ou danificando. Eu acredito que o mais coerente é você observar, contemplar e explorar de uma forma visual sem necessariamente precisar tocar.

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