Vestidos de amarelo e azul, com cartazes que pedem o fim guerra e a contenção do presidente russo Vladimir Putin, manifestantes foram às ruas ao longo de todo o fim de semana. Com passeatas à luz de tochas, ou simples caminhadas nas ruas, as manifestações de solidariedade com a Ucrânia e contra a invasão russa se multiplicam em todo mundo.
Na principal delas, que repercutiu devido à adesão massiva, mais de 100 mil pessoas foram às ruas de Berlim, neste domingo, 27, em solidariedade com a Ucrânia, invadida por tropas russas - informou a polícia, enquanto os organizadores falaram em uma multidão de meio de milhão de participantes.
Reunidos em frente ao Portão de Brandemburgo e ao Reichstag, prédio da Câmara dos Deputados, os manifestantes carregavam bandeiras em amarelo e azul, as cores nacionais da Ucrânia.
"Berlim a 670 km da linha de frente", "Stop the Killer" ("Pare o assassino", em português), "Não à Terceira Guerra Mundial" eram algumas das frases em faixas e cartazes dos manifestantes, que responderam em massa ao chamado da comunidade ucraniana que vive na Alemanha.
"Minha mãe está (abrigada) em um porão, (...), meu pai, em casa, no primeiro andar de um bairro ao norte de Kiev", contou uma das participantes, a ucraniana Valeria Moiseeva, de 35 anos velho, que está grávida.
"Acho importante que a Alemanha se comprometa com a democracia na Europa e também é nossa responsabilidade", disse Hans Georg Kieler, de 49 anos.
Desde quinta-feira, manifestações acontecem todos os dias na capital alemã, especialmente em frente à imponente embaixada da Rússia, construída na avenida Unter den Linden, uma das grandes artérias que levam ao Portão de Brandemburgo.
A Alemanha abriga mais de 300 mil pessoas de origem ou nacionalidade ucraniana em seu território e também conta com uma grande diáspora russa, sobretudo, em Berlim.
Em Praga, 70 mil pessoas foram às ruas, e em Amsterdã, 15 mil.
Rússia
Sofrendo forte repressão do governo, os protestos na Rússia contrários à guerra seguem acontecendo. Mais de 2 mil manifestantes foram detidos em diferentes cidades russas neste domingo, 27, disse a OVD-info, uma ONG que monitora as prisões nos protestos. Desde que o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia, já foram detidos mais de 5.200 manifestantes pacifistas, acrescentou a ONG.
A reportagem testemunhou neste domingo a prisão de cerca de 200 pessoas em São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia. Ao realizarem as manifestações, milhares desafiaram as rígidas leis da Rússia sobre atos de protesto.
Cerca de 400 pessoas se reuniram na antiga capital imperial, muitas carregando faixas com mensagens como "Não à guerra", "Russos, voltem para casa" e "Paz para a Ucrânia".
"É uma pena que existam centenas, talvez milhares de nós e não milhões", disse à reportagem o engenheiro Vladimir Vilokhonov, de 35 anos, que participou do protesto.
"Sou contra a guerra. Nasci em 1941 e sei o que isso significa", declarou Valeria Andreyeva, nascida no ano em que a Alemanha nazista atacou a União Soviética. Em Moscou, jornalistas viram a detenção de cerca de 50 pessoas na praça Pushkin.
Além de Rússia e Alemanha, este domingo, 27, manifestantes tomaram as ruas da República Tcheca, Coréia do Sul, Canadá, Estados Unidos, Emirados Árabes, Hungria, Bulgária, Espanha, Grécia, Áustria, Inglaterra, México, Países Baixos, Suécia, Dinamarca, França, Chipre e Montenegro.
EUA
Nos Estados Unidos, a capital, Washington foi cenário de uma mobilização que reuniu milhares de pessoas com bandeiras ucranianas e americanas em frente à Casa Branca, onde exigiram que o presidente Joe Biden faça mais para deter a agressão de Putin.
Americanos foram às ruas em todo o país para denunciar Putin e expressar seu apoio ao povo ucraniano, de São Francisco a Detroit, Chicago e Kansas City. Milhares também se manifestaram na cidade canadense de Toronto.
Na Lituânia, a líder da oposição bielorrussa Svletana Tijanóvskaya liderou centenas de compatriotas em um protesto contra o regime de Mink, por permitir que Putin use seu território como base para atacar a Ucrânia.
Sábado, 26
No sábado, 26, os habitantes de Tóquio participaram de uma manifestação para denunciar a guerra na Ucrânia. "Precisamos aumentar a pressão do mundo (contra a Rússia). É uma guerra entre a ditadura e a democracia", declarou um manifestante.
Na Suíça, milhares de pessoas também se reuniram nas ruas hoje para apoiar a Ucrânia e denunciar a invasão das forças russas. Em Genebra, o protesto reuniu mais de mil pessoas na Praça das Nações, em frente à sede da ONU, conforme a polícia local.
A multidão se concentrou, no final da manhã, em torno da escultura "Cadeira Quebrada", obra monumental de Daniel Berset, que simboliza as vítimas civis da guerra.
Em duas cidades do sul da França, Marselha e Montpellier, várias centenas de pessoas marcharam aos gritos de "Stop War, stop Putin" e "OTAN, aja".
O príncipe William, da Inglaterra, e sua mulher, Katherine, enviaram no sábado, 26, pelo Twitter, uma mensagem pessoal de apoio a "todo povo ucraniano", um incomum gesto geopolítico por membros da Casa Real Britânica.
Na mensagem, assinada com as iniciais de ambos, o casal expressou seu apoio ao presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
"Em outubro de 2020, tivemos o privilégio de conhecer o presidente Zelensky e a primeira-dama", disseram os duques, acrescentando que "hoje apoiamos o presidente e todo povo ucraniano em sua corajosa luta por seu futuro".
Em Roma, uma reunião convocada por vários sindicatos e associações reuniu mais de 1.000 pessoas neste sábado, em uma praça no centro da cidade, ao redor de um pódio adornado com a inscrição: "Contra a guerra".
Os manifestantes, alguns com suas famílias, levavam faixas e cartazes com frases como "Faça amor, não faça guerra" e "Queremos paz".
Na sexta à noite, 25, também na capital italiana, uma marcha à luz de tochas com milhares de participantes desfilou até o Coliseu, com cartazes que diziam "Putin, assassino!", "Sim à paz, não à guerra", ou ainda "Banir a Rússia do Swift".
Outros cartazes mostravam o presidente russo com a mão manchada de sangue sobre o rosto, ou comparavam-no a Hitler com a menção: "Você sabe reconhecer a história quando ela se repete?".
"Sempre fomos próximos do povo ucraniano (...) Daqui, nosso sentimento de impotência é enorme. Não podemos fazer mais nada no momento", disse Maria Sergi, de 40 anos, uma italiana nascida na Rússia.
Vladimir Putin "causou muitos danos, até mesmo ao seu próprio povo. Temos muitos amigos que sofreram muito por causa de sua política", acrescentou.
Ainda na noite de sexta, 25) quase 30 mil pessoas se reuniram na Geórgia, antigo país soviético. A guerra, que segundo Kiev já custou a vida de pelo menos 198 civis, provocou um sentimento de "déjà vu" na Geórgia, também vítima de uma devastadora invasão russa em 2008.
Os manifestantes marcharam pela principal rua da capital, Tbilisi, agitando bandeiras ucranianas e georgianas e cantando os hinos nacionais de ambos os países.
"Temos compaixão pelos ucranianos, talvez mais do que outros países, porque conhecemos a agressão bárbara da Rússia no nosso solo", disse à AFP Niko Tvauri, um motorista de táxi de 32 anos.
"Ucranianos, georgianos, o mundo inteiro deve resistir a Putin, que quer restaurar a União Soviética", declarou Meri Tordia, professora de francês de 55 anos.
"A Ucrânia está sangrando, e o mundo está assistindo e falando sobre sanções que não conseguem parar Putin", acrescentou ela, chorando.
Em Atenas, mais de mil pessoas se reuniram em frente à embaixada russa, ontem à noite, a pedido do Partido Comunista e do partido de esquerda radical Syriza.
Tradicionalmente pró-russos, esses partidos denunciam a "invasão russa da Ucrânia" e uma "guerra imperialista contra um povo".
Tóquio, Taipei, Curitiba, Nova York e Washington também foram palco de manifestações.
Na Argentina, cerca de 2 mil pessoas, incluindo imigrantes ucranianos e argentinos de ascendência ucraniana, manifestaram-se em Buenos Aires, pedindo à embaixada russa "a retirada incondicional" das tropas "assassinas" de Putin.
Embrulhados na bandeira ucraniana, vestidos com trajes tradicionais, com faixas em espanhol, ucraniano, ou inglês, dizendo "Pare a guerra", ou "Putin tire suas mãos da Ucrânia", os manifestantes gritavam palavras de ordem em ucraniano, como "Glória à Ucrânia, Glória aos seus heróis" e cantavam os hinos ucraniano e argentino.
"Russos e ucranianos têm muito em comum. Então, meu principal sentimento é a raiva. A última coisa que imaginei era que os russos entrariam para matar meu povo", disse à AFP Tetiana Abramchenko, de 40 anos, quase às lágrimas.
Ela chegou com a filha à Argentina em 2014, após a anexação russa da Crimeia.
Em Montreal, no Canadá, dezenas de pessoas não hesitaram na tarde de sexta-feira em enfrentar uma tempestade de neve para protestar sob as janelas do Consulado Geral russo.
"Putin, tire suas mãos da Ucrânia", cantaram em coro.
"Sou contra esta guerra", afirmou Elena Lelièvre, engenheira russa de 37 anos, em entrevista à AFP.
"Espero que este seja o começo do fim deste regime", completou.
Com o cabelo escondido sob um gorro verde, Ivan Puhachov, estudante de ciência da computação da Universidade de Montreal, disse estar "aterrorizado" com a situação, pedindo que equipamentos militares adicionais sejam enviados para seu país, onde sua família mora.
Alguns manifestantes seguravam um retrato de Vladimir Putin coberto com uma mão ensanguentada, e outros carregavam bandeiras ucranianas ao vento.
Outras manifestações também foram organizadas em Halifax, Winnipeg, Vancouver e Toronto nos últimos dias.