Do Paquistão à Espanha, milhares de mulheres se manifestam no mundo inteiro nesta terça-feira (8) para defender seus direitos, com uma lembrança muito presente das mulheres presas nas longas filas para fugir da guerra na Ucrânia.
Na estação de Przemysl, na Polônia, a poucos quilômetros da fronteira com a Ucrânia, um religioso franciscano distribuía tulipas vermelhas e amarelas para as mulheres recém-chegadas a este local, por onde a cada dia passam milhares de refugiados.
"Acho que é muito importante que hoje, neste momento tão difícil, alguém lhes diga que são muito importantes", afirmou à AFP Kordian Szwarc.
"Sabemos que seus homens estão muito, muito longe daqui e que não há ninguém para lhes dizer que são importantes e belas. Essa é a minha missão hoje", acrescentou.
"É a primeira vez que tenho a impressão de viver um dia tão especial", agradeceu com um largo sorriso Lilia Kysil, uma estudante de 22 anos, que morava em Kiev antes da invasão russa.
"Obrigada por nos trazer lindas emoções", acrescentou, ao lado de sua mãe e sua irmã.
Segundo a ONU, dois milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Dentro do próprio país, soldados voluntários também distribuíam tulipas às mulheres que passavam perto de alguns postos de controle em Kiev, constatou um correspondente da AFP.
- "Contra a guerra" -
Em Madri, onde estas manifestações costumam ser multitudinárias, milhares de pessoas transformaram o centro da capital espanhola em um mar arroxeado, a cor do feminismo, com cartazes pedindo a igualdade e contra a violência machista, mas também com frases como "Stop Putin" e "Não à guerra".
Outras 15.000 pessoas, segundo a polícia local, marcharam pelo centro de Barcelona (nordeste) com acessórios e cartazes roxos, em um clima festivo que lembrava as concentrações prévias à pandemia, apesar de algumas ainda usarem máscaras.
Outras cidades europeias foram cenário de manifestaçoes, como Paris, onde 35.000 pessoas, segundo os organizadores, marcharam contra a violência sexista e pela igualdade salarial.
Atrás da faixa que abria a marcha, pedindo um "levante feminista pela igualdade", as manifestantes exibiam cartazes que diziam "nem as mulheres, nem a terra são territórios de conquista" ou "feminismo indignado, não serei moldada".
Antes do início da manifestação, as militantes leram uma carta escrita por "feministas russas", convocando os defensores das mulheres do mundo inteiro a "tomar posição contra a guerra".
A guerra na Ucrânia "traz a violência das balas, mas também as violências sexuais", asseguraram.
Em Atenas, cerca de duas mil pessoas, segundo a polícia, protestaram contra a "mentalidade patriarcal" e os feminicídios.
- Manifestar-se, apesar da violência -
Na América Latina também começavam a ser registradas manifestações, como na Guatemala, onde centenas de mulheres foram às ruas da capital e de outras cidades exigir o fim da violência e da corrupção, e pediram justiça aos cinco anos da morte de 41 meninas em um incêndio em um abrigo estatal.
Na Ásia, milhares de mulheres se concentraram nesta terça em grandes cidades paquistanesas como Islamabad, a capital, Karachi, a grande metrópole do sul, ou Lahore, a capital cultural, onde as autoridades tentaram, sem sucesso, suspender o evento.
Em uma sociedade que continua sendo muito conservadora e patriarcal, as manifestações pelo 8 de março enfrentam muitos obstáculos desde sua primeira edição, em 2018. Na realizada em 2020, islamitas atiraram paus e pedras contra as manifestantes que marchavam em Islamabad, ferindo algumas e forçando muitas a buscarem refúgio até a intervenção policial.
"Participo da marcha todos os anos" e esta era particularmente importante, pois "tivemos vários casos recentemente nos quais aqueles que foram violentos com mulheres foram embora sem consequências", disse em Lahore Sairah Khan, uma estudante universitária de 23 anos.
No Paquistão há mulheres que continuam sendo mortas a tiros, facadas, estranguladas, apedrejadas ou queimadas por terem "manchado a honra" de sua família. Os setores conservadores acusam quem as defendem de promover os valores liberais do Ocidente e de não respeitar as sensibilidades religiosas e culturais locais.
No vizinho Afeganistão, o 8 de março foi celebrado sob grande discrição, pois as militantes feministas vivem com muito medo de serem detidas pelo novo regime talibã, que acabou com 20 anos de avanços conquistados após seu retorno ao poder, em 15 de agosto passado.
"Os talibãs nos tiraram o céu e a terra", lamentou à AFP uma militante do grupo Unidade e Solidariedade Mulheres, sob condição do anonimato.