Quando um jovem embarca em um coletivo com uma boneca em seus braços, muitos olhares confusos são atraídos para a cena. Desde junho de 2021, essa é a rotina de Rubens Silva dos Santos Queiroz, de 28 anos, um estudante de Enfermagem morador do bairro Barroso, em Fortaleza, que instrui algumas práticas básicas de salvamento.
O rapaz chama a atenção dos passageiros ao subir nos transportes públicos para ensinar dicas de Suporte Básico de Vida (SBV), também conhecido como primeiros socorros. A iniciativa parte do sonho de Rubens de conseguir se formar e ingressar no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Ao O POVO, Rubens Queiroz diz acreditar que a aprendizagem de práticas simples pode salvar vidas em momentos de urgência. Com as apresentações, além de conseguir fundos para custear sua graduação na área da saúde, ele almeja partilhar seus conhecimentos com a população e, assim, evitar que acidentes ocorram por falta de informação dos procedimentos rápidos a serem realizados.
O POVO - Quando você passou a ter interesse pela área da saúde?
Rubens Queiroz - Desde que eu tinha 16 anos de idade, já admirava muito os profissionais da área da saúde e do corpo de bombeiros. Porém, o interesse surgiu após uma amiga da igreja que eu frequentava ter uma crise de epilepsia. Não tínhamos noção do seu diagnóstico, pois a família escondia por medo de que ela viesse a sofrer preconceito. Então, ela caiu ao meu lado tendo convulsões e não sabíamos o que fazer. Foi depois desse episódio, em que eu praticamente fiquei de mãos atadas, que coloquei na cabeça que eu queria aprender a salvar vidas, para que nunca mais alguém passasse por aquilo ao meu lado sem que eu pudesse ajudar.
O POVO - Como surgiu a iniciativa de ensinar os primeiros socorros dentro dos ônibus?
Rubens Queiroz - Estou desempregado há cerca de quatro anos, faço alguns trabalhos como pintor em parceria com meu tio. Trabalhávamos para uma imobiliária, mas ela passou a terceirizar os serviços e, em determinado momento, não teve mais como manter. Fiquei desamparado e precisava pagar a faculdade. Então, iniciei os trabalhos nos coletivos vendendo mousse e dindin, já me apresentava como instrutor de primeiros socorros, com o uniforme dos bombeiros e a bonequinha para ilustrar o procedimento. Mas aí a pandemia de Covid-19 fez com que as pessoas parassem de comprar produtos alimentícios nos transportes públicos, então investi em aprender cada vez mais as práticas de SBV e passei a ensiná-las nos ônibus para compartilhar o que tenho aprendido e conseguir pagar meu curso.
O POVO - Para você, qual é a importância de aprender as técnicas do Suporte Básico de Vida?
Rubens Queiroz - As pessoas normalmente só dão importância para esse tipo de assunto quando presenciam. Sem saber o que fazer, elas se desesperam, ligam para a emergência e precisam esperar, pois são muitas demandas. Se você não souber fazer aquele pouquinho, que já é muita coisa, a pessoa pode morrer sem conseguir ser socorrida a tempo. É por isso que eu tento ensiná-las a fazer o básico, pois às vezes pensamos que salvar vidas é bicho de sete cabeças, mas não é.
O POVO - Quais são seus grandes sonhos pessoais e profissionais a serem realizados no futuro?
Rubens Queiroz - Fui criado sozinho e com muito esforço pela minha mãe, sou filho único e meu pai nos deixou quando eu tinha apenas dois anos de idade. Ela me deu o apoio de uma família inteira e sempre fui ensinado a tratar bem as pessoas. Meu grande sonho na área é formar minha família, casar e ter meus filhos, mostrá-los que tudo o que aconteceu comigo no passado, não se repetirá com eles. Irei me esforçar, será tudo por meio do trabalho. Por isso, eu digo que meu maior sonho no ramo profissional é poder salvar vidas trabalhando no Samu, não me vejo fazendo outra coisa.