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Assassinatos voltam a crescer no Ceará após dois meses de sequência positiva
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Assassinatos voltam a crescer no Ceará após dois meses de sequência positiva

Em maio, houve crescimento de 10% nos crimes violentos na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Março e abril tinham registrado diminuições
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Vítima teria sido baleada após reagir a assalto. Imagem de apoio ilustrativo.  (Foto: Guilherme Missumi/Agência Brasil)
Foto: Guilherme Missumi/Agência Brasil Vítima teria sido baleada após reagir a assalto. Imagem de apoio ilustrativo.

O número de assassinatos no Ceará está em alta. É o que indicam as estatísticas divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) ontem, 6. De acordo com os indicadores, em maio o Estado registrou crescimento de 10% nas ocorrências de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLI) na comparação com o mesmo mês do ano passado. No total, foram contabilizados 269 homicídios, ante a 244 em 2021.

Quase 60% dos assassinatos ocorreram em Fortaleza e cidades da Região Metropolitana. Foram 90 ocorrências na Capital e 66 nos 18 municípios circunvizinhos. Já no Interior, as 165 cidades somaram 113 registros. A Área Integrada de Segurança (AIS) 22, no Sertão dos Inhamuns, foi a única do Estado a não registrar nenhum homicídio durante o mês analisado. A divisão territorial engloba as cidades de Tauá, Quiterianópolis, Parambu, Arneiroz, Aiuaba, Catarina, Mombaça e Piquet Carneiro.

A alta de crimes violentos em maio interrompeu uma sequência positiva de dois meses. Conforme os dados da SSPDS, março e abril haviam registrado reduções de 8% e 11%, respectivamente, no número de assassinatos na comparação com o mesmo período de 2021. A queda ocorreu depois de um crescimento de 10% em fevereiro, mês que até agora tem o maior número de ocorrências em 2022 (276).

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Para o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ricardo Moura, o aumento de assassinatos registrado no mês passado pode ter sido influenciado por tensões no conflito entre facções rivais na Região Metropolitana de Fortaleza. “Houve manifestação de grupos criminosos na região do Acaracuzinho [Maracanaú] e sempre que esses conflitos ocorrem reflete na questão da violência”, analisa Moura, também colunista de Segurança do O POVO.

O especialista também aponta a chacina de Monsenhor Tabosa, ocorrida no dia 24 de maio, que deixou quatro pessoas mortas, como um dos motivos para a alta no indicador de violência estadual. “Para uma cidade desse porte [17,2 mil habitantes], são números muito elevados”, complementa.

Conforme os indicadores da SSPDS, 85% dos assassinatos registrados no mês passado no Ceará foram provocados por armas de fogo. Na prática, isso significa que, a cada dez mortes violentas registradas no Estado, pelo menos oito têm como causa letal um armamento de fogo, como espingarda, pistola ou revólver. As demais ocorrências estão ligadas ao uso de armas brancas — objetos cortantes ou perfurantes — ou a outros meios de violência não detalhados pela SSPDS.

Na avaliação de Ricardo Moura, os números refletem a pouca eficiência das políticas de combate ao tráfico de armas desenvolvidas pelo Estado. “Há um certo relaxamento no controle da circulação das armas. Então, a perspectiva é que a disseminação desse tipo de armamento aumente, assim como o número de mortes, haja vista esse instrumento ter uma letalidade muito maior do que qualquer outro meio que possa ser utilizado”, conclui.

Os números divulgados pela SSPDS ainda mostram que, em maio, o Ceará registrou a maior quantidade de mortes decorrentes de intervenções policiais desde janeiro de 2021. Foram 15 ocorrências no total, contra 20 no primeiro mês do ano anterior. Devido ao excludente de ilicitude, todos os óbitos causados durante ações policiais são classificados como “não intencionais”.

A estratificação dos dados ainda revela que há uma expressiva disparidade quando é analisado o gênero das pessoas vítimas de crimes violentos. Das 269 assassinadas em maio, 244 eram do sexo masculino (90%) e 25 do sexo feminino. O mesmo padrão de predominância não se repete em relação à faixa etária. Os indicadores apontam assassinatos desde crianças, com 12 anos, até idosos de até 85 anos.

Apesar do aumento verificado no último mês, o acumulado de 2022 está ligeiramente inferior ao do ano passado. Entre janeiro e maio deste ano, foram contabilizados 1.267 crimes violentos em todo o Estado, enquanto no mesmo período de 2021 o número foi de 1.324, perfazendo queda de 4,3%. Nos doze meses do ano anterior, o total de ocorrências chegou a 3.299, cerca de 18% a menos do que em 2020, que foi encerrado com 4.039 assassinatos.

Procurada pelo O POVO, a SSPDS afirmou que vem desenvolvendo um conjunto de ações preventivas para evitar a ocorrência de assassinatos. Entre as ações estão o aumento do efetivo policial em locais com maior incidência de crimes, ofensivas realizadas pela Polícia Militar a partir de estudos da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) e reforço no trabalho investigativo da Polícia Civil do Ceará (PC-CE).

A pasta ainda ressaltou que, considerando os cinco meses do ano, há uma queda de quase 5% no número total de homicídios, se comparado a 2021. Também pontoou que realiza operações policiais permanentes para combater grupos criminosos e impedir o avanço da criminalidade no Estado.

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