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Sandra Helena, militante do Crítica Radical, morre aos 56 anos
Farol

Sandra Helena, militante do Crítica Radical, morre aos 56 anos

Ela entrou no movimento na década de 1980 e foi um dos principais nomes da linha de frente. Ela precisou de uma liminar judicial para conseguir um leito de UTI
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Conhecida como Sandrinha, a militante entrou no Crítica Radical há mais de 40 anos (Foto: reprodução/ instagram @critica_radical)
Foto: reprodução/ instagram @critica_radical Conhecida como Sandrinha, a militante entrou no Crítica Radical há mais de 40 anos

A militante do Crítica Radical Sandra Helena morreu aos 56 anos nesta quarta-feira, 22, em Fortaleza. Ela estava internada no Hospital de Messejana, após conseguir um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por meio de uma liminar judicial. A mulher passou mal na madrugada do último sábado, 18, e foi internada na Unidade de Pronto Atendimento do Ceará (UPA) do Conjunto Ceará, após ter um infarto agudo no miocárdio.

Conhecida como Sandrinha, a militante entrou no Crítica Radical há mais de 40 anos, na década de 1980 após a eleição da ex-prefeita de Fortaleza, Maria Luiza Fontenele. Robson de Oliveira, que também é militante do grupo, diz que Sandrinha tinha como marcas a solidariedade, a humanidade e a irmandade. “Chegar junto é fundamental quando se pensa em mudar o mundo de forma coletiva”, enfatiza.

“Sandrinha sempre esteve na linha de frente, era muito presente no grupo, acompanhou a evolução teórica, com todas as rupturas”, lembrou o militante. “Ela era uma pessoa negra, de família humilde, e tinha como característica muito forte de se revoltar com as injustiças. É uma perda muito grande, deixa um buraco”, lamenta.

Daniel Fonsêca, sobrinho de Rosa da Fonsêca — militante do Crítica Radical e amiga de Sandrinha —, falou que a mulher é “exemplo de uma alegria fluida, livre, compartilhada, que parece infinita”. “Algo mais pode ter havido, mas nada desdiz duas coisas firmadas no chão de Sandra Helena: a paixão dela pela vida de qualquer ser vivente neste planeta e, antes ou mais, a amorosidade mais dada, havida e sentida por e com Rosa da Fonsêca, a tia Rosa. "Ô, Sandra Helena! Sandrinha..." (Leia a íntegra do texto no fim da matéria)

Já Cristina Fonseca, irmã de Rosa, lembrou de Sandrinha em passeatas e manifestações, enfrentando, muitas vezes a repressão, nas lutas das mulheres, ocupações por moradia, estudantis, ecológicas. "Mamãe [Rocilda] pedia para que ela fosse o anjo da guarda da Rosa, pois se preocupava muito com nossa mana, por tudo que já havia passado nos anos da ditadura. Para todos e todas nós da família Fonsêca, Sandrinha sempre foi abraçada, acolhida e amada", diz Cristina.

Na manhã desta quinta-feira, 23, será realizada uma homenagem à militante às 8h30min, na sede do Crítica Radical, seguida por um cortejo para o cemitério Jardim Metropolitano, onde acontece o sepultamento às 10 horas. Haverá um ônibus para levar as pessoas que não tem carro para o local.

Sandra Helena precisou de liminar para conseguir leito de UTI; entenda

A Justiça Federal no Ceará concedeu uma liminar, no último sábado, 18, para que fosse garantida uma vaga em leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para a militante. Na decisão judicial, o juiz federal André Dias Fernandes explicou que há um alto risco para a paciente e a possibilidade de piora e morte em caso de não internação em leito de UTI.

O magistrado enfatizou que a decisão deve ser cumprida mesmo que não existam vagas na rede pública, com o acionamento de equipamentos da rede privada do Estado. “Saliente-se que o cumprimento da presente medida não poderá acarretar a retirada da UTI nem a preterição de pacientes com igual grau de prioridade 1”, ressaltou Fernandes.

A decisão concedida pela Justiça deveria ser atendida em até 48 horas, a partir de quando seria cobrada multa diária de R$ 1 mil, limitado ao máximo de R$ 20 mil, por atraso no cumprimento da obrigação de fazer decorrente da antecipação dos efeitos da tutela. Após passar mal na madrugada, a família de Sandra conseguiu a liminar por volta das 14h30min deste sábado, com assistência da Defensoria Pública da União (DPU), e a transferência aconteceu na noite do mesmo dia.

Serviço

Homenagem e sepultamento da militante do Crítica Radical Sandra Helena

8h30min - homenagem para Sandrinha na sede do Crítica Radical (rua João Gentil, 59, Benfica, em frente à praça da Gentilândia)

9 horas - cortejo para o cemitério Jardim Metropolitano (Sexto Anel Viário, s/nº)

10 horas - sepultamento no Jardim Metropolitano

Leia o texto de Daniel Fonsêca, sobrinho de Rosa, sobre Sandrinha

Sandrinha é exemplo de uma alegria fluida, livre, compartilhada, que parece infinita. Nos gestos, sempre traz a fibra maior de uma solidariedade quase devocional. Um amor a gente, às pessoas todas. Encanta indivíduos e coletivos com seus multissaberes e com sua prontidão quase ilimitada para ajudar e amar. Fotografa, na sua janela da alma, o mundo com seus olhares mais sensíveis e abnegados para sorver aquela experiência da partilha.

Seu coração, bobo, bola, balão, expande-se como querendo abraçar o mundo, na busca maior da emancipação humana, do encontro em festa de todos os seres da natureza, dos ambientes. Porque Sandrinha tem nas crianças suas amigas com quem troca graças, Paulo Victor, Lis, Marcos Bruno, Mateus, Sofia, Joaquim, Davi e tantas. Vê em cada pé de pau e bicho do mato daquele Sítio, do Cocó e doutras terras família sua. Irmana-se com amigas e amigos das lutas e além delas como quem tem de casa, numa casinha do Benfica.

Mas parece que pressão do amor, de uma paixão de vida e do vazio cavado, puxou o coração da Sandrinha. Uma angústia da saudade do amor partido, como disse Demitri. Algo mais pode ter havido, mas nada desdiz duas coisas firmadas no chão de Sandra Helena: a paixão dela pela vida de qualquer ser vivente neste planeta e, antes ou mais, a amorosidade mais dada, havida e sentida por e com Rosa da Fonsêca, a tia Rosa. "Ô, Sandra Helena! Sandrinha...".

Nossa Sandrinha é, ama, sente, vive, como tia Rosa, Célia e tia Fatinha. Seguimos amando todas aqui.

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